sexta-feira, 21 de agosto de 2015

94. ENSINAR, APRENDER, AVALIAR



Cipriano Luckesi



O ato de ensinar tem um correspondente que é aprender. Ensino, sem aprendizagem, não cumpre seu objetivo, que se expressa pela aprendizagem de quem é ensinado.

Muitas vezes, confundimos “ensinar” com “dar aula”. Quando se “dá uma aula” fica a pressuposição de que alguém aprende e outro não; já, quando se ensina, fica presente a compreensão de que quem é ensinado aprende.

Importa ter presente que o ser humano é ativo e, como tal, também aprende ativamente. Essa compreensão do modo de aprender do ser humano encontra-se nos entendimentos estabelecidos sobre o ato de aprender desde os estudiosos gregos, passando pelos medievais e chegando ao âmbito da ciência contemporânea.

Como o ser humano aprende? Importa sinalizar que aprender está para além de “ter notícias”. Ter notícias, temos todos os dias pelos mais variados meios de comunicação. “Aprender” significa adquirir uma habilidade, fato que garante a possibilidade de usá-la, sempre que necessário. Dado um estímulo, o conhecimento e/ou habilidade aprendido estão disponíveis para serem usados.

A aquisição de uma habilidade cria uma estrutura neurológica em nosso sistema nervoso, constituída por um conjunto de sinapses, que são as conexões entre os neurônios existentes em nosso sistema nervoso. Um conjunto de sinapses estabelecida constituindo uma habilidade cria um algoritmo que, por si, configura um modo de entender e agir. Dado um estímulo, que se expressa como a necessidade de usar uma habilidade que temos, todos o conjunto de sinapses relativas à resposta ao estímulo “se acende” e, então, respondemos à circunstância emergente da forma que nos permite a habilidade que temos. Algo aprendido torna-se um “caminho facilitado”; ele está sempre disponível e pode ser utilizado.

Alguém que adquiriu a habilidade de falar em uma determinada língua estrangeira, instado a falar nessa língua, passa a usar de imediato sua habilidade nessa língua. Alguém que aprendeu a dirigir um automóvel, instado a dirigir um equipamento desse, de imediato fará isso. E, desse modo, todos os conhecimentos e todas as habilidades que adquirimos.

Como se adquire um conhecimento ou uma habilidade? Pela atividade de aprender. Como ela se dá?

Existimos dentro de uma cultura já estruturada, mas também sempre aberta a novas possibilidades. Então, herdamos a cultura existente --- os modos de compreender e agir já estabelecidos pela humanidade ---, mas, ao mesmo tempo, temos a possibilidade de criar novas soluções sejam elas para questões antigas, sejam para questões emergentes.

No processo de desenvolvimento de cada um de nós --- que vai da concepção à morte ---, aprendemos, herdando daqueles que nos antecederam e transmitimos àqueles que seguem a nós na vida. Então, o caminho é “receber-assimilar/recriar- transmitir”.

Nesse processo de herdar daqueles que nos antecederam, no que se refere ao ensinar e aprender, importa que ao aprendiz seja “exposto” os conhecimentos e habilidades já constituídos, de tal forma que possa assimilá-los, recriá-los e transmiti-los à frente.

Nesse processo, um primeiro instante, há um papel predominante de quem expõe; mas, a seguir, há o papel predominante de quem aprende. Do lado de quem aprende, a predominância está em:

(01) receber o que foi exposto;
(02) assimilar o exposto (isto é compreender e apropriar-se do exposto);
(03) exercitar o conhecimento ou a habilidade, ou os dois ao mesmo tempo;
(04) aplicar o aprendido;
(05) recriar o conhecimento ou habilidade; então,
(06) estaremos com recursos suficientes para tentar novos caminhos (criar novos conhecimentos ou soluções).

Será que nós educadores em sala de aula, temos tido presente esses passos e necessidades? Então, importa saber que não basta “dar aulas” (expor conteúdos) para que nossos educandos aprendam. Expor é o papel onde nós, educadores em sala de aula, somos mais ativos.

Necessitamos, como educadores, aprender a orientar nossos educandos nos passos do ensino-aprendizagem, onde eles passam a ter o papel predominante, de tal modo que possam “tornar seus” os conhecimentos e habilidades propostos para sua aprendizagem.

Não basta “expor” por parte do educador; importa, além disso, por parte do educando, “compreender, exercitar, aplicar” até que os novos conhecimentos constituam a base neurológica, através de um conjunto de sinapses, de tal forma que, diante de uma necessidade qualquer, esse conhecimento ou essa habilidade “sejam acordados” e possam atuar.

Nessa jornada, o educador escolar é o parceiro do educando. Além de incialmente, expor os conteúdos, necessitará auxiliar o educando a:

(01) compreender e tomar posse dos novos conhecimentos e habilidades;
(02) exercitar esses conhecimentos e habilidades;
(03) orientar sua aplicação, que se expressa como uma forma ativa de aprender;
(04) re-criar conhecimentos e habilidades;
(05) aprender a responder a novos desafios (criar novas soluções).

Desse modo, há um algoritmo a ser seguido pelos educadores em seu exercício de ensinar. Por que não segui-lo? Essa é a tarefa diuturna do educador: ensinar, de tal forma que os educandos aprendam.

Prece que não temos prestado suficiente atenção a esse algoritmo e à exigência de que o ensino e a aprendizagem se deem por um caminho ativo. Muitas vezes, somente praticamos a exposição (primeiro passo do percurso de ensinar e aprender) e, então, desejamos que o educando tenha aprendido. Contudo, ele não aprenderá exclusivamente com a exposição, desde que o ser humano, sendo ativo, também, para aprender, necessitará da atividade.

E, nesse contexto, qual o papel da avaliação? Simplesmente --- através de recursos metodológicos adequados --- revelar ao educador se o educando aprendeu ou não, com a qualidade que deveria ter aprendido. Se aprendeu o que fora ensinado e que deveria ter aprendido, ótimo. Se a avaliação revelar que o educando não aprendeu ainda o que deveria ter aprendido, e o educador desejar que ele aprenda, só resta um caminho: ensinar novamente... até que aprenda.


O ato de avaliar não decide nada. Simplesmente revela a qualidade da realidade. Quem decide o que fazer é o educador, como gestor da sala de aula. Como tal, e como adulto da relação pedagógica, deverá ter o domínio e utilizar o algoritmo do ensinar-aprender.





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sábado, 15 de agosto de 2015

93. O EDUCADOR COMO GESTOR E COMO AVALIADOR NA SALA DE AULA


Cipriano Luckesi

A avaliação --- como uma investigação da qualidade da realidade --- não resolve nada, nem aprova nem reprova, nem inclui nem exclui.

Ela só revela aquilo que o avaliador pede para ela revelar (se for metodologicamente bem conduzida), seja no que se refere aos resultados de uma ação passada, seja no que se refere aos resultados de uma ação presente, seja revelando, frente a qualidade da realidade  no presente, que o futuro poderá ter alguma previsibilidade.

Quem escolhe e decide é o gestor. Ele, com o suporte da avaliação, decide, seja aceitar o passado com a qualidade que teve, seja acolher o presente, seja decidir investir  mais para obter resultados mais satisfatórios do que os já obtidos.

Nas instituições, usualmente, um é gestor e outro é o avaliador. Ainda que atuem juntos (ao menos assim devem agir) na busca dos resultados desejados, são personagens diferentes. Todavia, na sala de aula, o educador é, ao mesmo tempo, gestor e avaliador. Daí, usualmente, confundir os papéis. Vale sinalizar que quem decide é sempre o gestor (o educador em sala de aula é o seu gestor)

Contudo, para agir com adequação, o educador necessita distinguir quando está atuando como avaliador e quando está atuando como gestor. Como avaliador --- usando recursos metodológicos adequados --- busca revelar a qualidade da realidade; como gestor busca (e deve buscar) tomar decisões de investir sempre mais, a fim de que os resultados de sua ação atinjam a satisfatoriedade.

Em nosso cotidiano escolar, não temos tido essa clareza sobre avaliação e gestão. Daí, a avaliação, ao invés de ser a auxiliar para a busca do sucesso (a Fada Madrinha), tornou-se (através dos exames escolares) a Bruxa má. E, então, parece que é a avaliação quem toma essa decisão de aprovar ou reprovar. Contudo, quem faz isso é o gestor.


Necessitamos aprender que a avaliação, como nossa parceira, só tem por missão nos informar se estamos no caminho adequado com nossa ação ou se necessitamos investira mais e mais, tendo em vista obter os resultados desejados. Afinal, todos podem aprender, se forem cuidados.


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