Cipriano Luckesi
O ato de ensinar tem um correspondente que é aprender. Ensino, sem aprendizagem, não cumpre seu objetivo, que se expressa pela aprendizagem de quem é ensinado.
Muitas vezes, confundimos
“ensinar” com “dar aula”. Quando se “dá uma aula” fica a pressuposição de que
alguém aprende e outro não; já, quando se ensina, fica presente a compreensão
de que quem é ensinado aprende.
Importa ter presente que o ser
humano é ativo e, como tal, também aprende ativamente. Essa compreensão do modo
de aprender do ser humano encontra-se nos entendimentos estabelecidos sobre o
ato de aprender desde os estudiosos gregos, passando pelos medievais e chegando
ao âmbito da ciência contemporânea.
Como o ser humano aprende?
Importa sinalizar que aprender está para além de “ter notícias”. Ter notícias,
temos todos os dias pelos mais variados meios de comunicação. “Aprender”
significa adquirir uma habilidade, fato que garante a possibilidade de usá-la,
sempre que necessário. Dado um estímulo, o conhecimento e/ou habilidade
aprendido estão disponíveis para serem usados.
A aquisição de uma habilidade
cria uma estrutura neurológica em nosso sistema nervoso, constituída por um
conjunto de sinapses, que são as conexões entre os neurônios existentes em
nosso sistema nervoso. Um conjunto de sinapses estabelecida constituindo uma
habilidade cria um algoritmo que, por si, configura um modo de entender e agir.
Dado um estímulo, que se expressa como a necessidade de usar uma habilidade que
temos, todos o conjunto de sinapses relativas à resposta ao estímulo “se
acende” e, então, respondemos à circunstância emergente da forma que nos
permite a habilidade que temos. Algo aprendido torna-se um “caminho facilitado”;
ele está sempre disponível e pode ser utilizado.
Alguém que adquiriu a habilidade
de falar em uma determinada língua estrangeira, instado a falar nessa língua,
passa a usar de imediato sua habilidade nessa língua. Alguém que aprendeu a
dirigir um automóvel, instado a dirigir um equipamento desse, de imediato fará
isso. E, desse modo, todos os conhecimentos e todas as habilidades que
adquirimos.
Como se adquire um conhecimento
ou uma habilidade? Pela atividade de aprender. Como ela se dá?
Existimos dentro de uma cultura
já estruturada, mas também sempre aberta a novas possibilidades. Então,
herdamos a cultura existente --- os modos de compreender e agir já
estabelecidos pela humanidade ---, mas, ao mesmo tempo, temos a possibilidade
de criar novas soluções sejam elas para questões antigas, sejam para questões
emergentes.
No processo de desenvolvimento de
cada um de nós --- que vai da concepção à morte ---, aprendemos, herdando
daqueles que nos antecederam e transmitimos àqueles que seguem a nós na vida.
Então, o caminho é “receber-assimilar/recriar- transmitir”.
Nesse processo de herdar daqueles
que nos antecederam, no que se refere ao ensinar e aprender, importa que ao
aprendiz seja “exposto” os conhecimentos e habilidades já constituídos, de tal
forma que possa assimilá-los, recriá-los e transmiti-los à frente.
Nesse processo, um primeiro instante,
há um papel predominante de quem expõe; mas, a seguir, há o papel predominante
de quem aprende. Do lado de quem aprende, a predominância está em:
(01) receber o que foi exposto;
(02) assimilar o exposto (isto é
compreender e apropriar-se do exposto);
(03) exercitar o conhecimento ou
a habilidade, ou os dois ao mesmo tempo;
(04) aplicar o aprendido;
(05) recriar o conhecimento ou
habilidade; então,
(06) estaremos com recursos
suficientes para tentar novos caminhos (criar novos conhecimentos ou soluções).
Será que nós educadores em sala
de aula, temos tido presente esses passos e necessidades? Então, importa saber
que não basta “dar aulas” (expor conteúdos) para que nossos educandos aprendam.
Expor é o papel onde nós, educadores em sala de aula, somos mais ativos.
Necessitamos, como educadores,
aprender a orientar nossos educandos nos passos do ensino-aprendizagem, onde
eles passam a ter o papel predominante, de tal modo que possam “tornar seus” os
conhecimentos e habilidades propostos para sua aprendizagem.
Não basta “expor” por parte do
educador; importa, além disso, por parte do educando, “compreender, exercitar,
aplicar” até que os novos conhecimentos constituam a base neurológica, através
de um conjunto de sinapses, de tal forma que, diante de uma necessidade
qualquer, esse conhecimento ou essa habilidade “sejam acordados” e possam
atuar.
Nessa jornada, o educador escolar
é o parceiro do educando. Além de incialmente, expor os conteúdos, necessitará
auxiliar o educando a:
(01) compreender e tomar posse
dos novos conhecimentos e habilidades;
(02) exercitar esses
conhecimentos e habilidades;
(03) orientar sua aplicação, que
se expressa como uma forma ativa de aprender;
(04) re-criar conhecimentos e habilidades;
(05) aprender a responder a novos
desafios (criar novas soluções).
Desse modo, há um algoritmo a ser
seguido pelos educadores em seu exercício de ensinar. Por que não segui-lo?
Essa é a tarefa diuturna do educador: ensinar, de tal forma que os educandos
aprendam.
Prece que não temos prestado suficiente
atenção a esse algoritmo e à exigência de que o ensino e a aprendizagem se deem
por um caminho ativo. Muitas vezes, somente praticamos a exposição (primeiro
passo do percurso de ensinar e aprender) e, então, desejamos que o educando
tenha aprendido. Contudo, ele não aprenderá exclusivamente com a exposição,
desde que o ser humano, sendo ativo, também, para aprender, necessitará da
atividade.
E, nesse contexto, qual o papel
da avaliação? Simplesmente --- através de recursos metodológicos adequados ---
revelar ao educador se o educando aprendeu ou não, com a qualidade que deveria
ter aprendido. Se aprendeu o que fora ensinado e que deveria ter aprendido,
ótimo. Se a avaliação revelar que o educando não aprendeu ainda o que deveria
ter aprendido, e o educador desejar que ele aprenda, só resta um caminho: ensinar
novamente... até que aprenda.
O ato de avaliar não decide nada.
Simplesmente revela a qualidade da realidade. Quem decide o que fazer é o
educador, como gestor da sala de aula. Como tal, e como adulto da relação
pedagógica, deverá ter o domínio e utilizar o algoritmo do ensinar-aprender.
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Ótimo artigo.
ResponderExcluirA partir de agora vou usar o algoritmo da aprendizagem em minhas aulas.