Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com
Contato --- ccluckesi@gmail.com
(OBS – Para bem compreender o que se expõe no
texto que segue, importa ler o post anterior, intitulado Avaliação e as distorções da contabilização das notas
escolares).
Notas escolares
(registros numéricos), conceitos registrados por letras (alfabético), conceitos
qualitativos (adjetivos), registro descritivo, estão entre os recursos
utilizados para registrar a qualidade da aprendizagem dos estudantes em nossas
escolas.
Contudo, todas
essas modalidades de registro, através do nosso senso comum, histórica e
socialmente adquirido, usualmente, são transformados indevidamente em quantidades,
fato que possibilita a prática de médias de notas; que, por sua vez produz
juízos indevidos, como vimos no texto anterior deste perfil.
Se as modalidades
de registro do aproveitamento de nossos estudantes estão viciadas pela prática
de “contabilização” das notas, através das médias escolares, como poderemos
registrar os resultados da vida acadêmica de nossos estudantes?
Em primeiro lugar,
importa ter presente que o estudante não veio, e não vem, à escola para obter
notas. Ele vem para a escola para aprender. Por outro lado, nós educadores não
somos distribuidores de notas escolares, mas profissionais do ensino.
Esses dois
aspectos indicam, antes de qualquer outro entendimento, que nossa tarefa de
educadores está comprometida com o ensino. Na relação pedagógica, desempenhamos
o papel de profissionais adultos, responsáveis pelo ensino. Nossos estudantes
estão comprometidos com a aprendizagem, sob nossa orientação pedagógica como
também metodológica.
Nesse contexto, o
primeiro passo é “ensinar” nossos estudantes, de tal forma que aprendam aquilo
quem devem aprender, segundo o currículo estabelecido e transformado em planos
de ensino a serem praticados em nossas escolas.
O segundo passo,
no contexto do conteúdo que vimos abordando, será “registrar” o resultado dessa
aprendizagem, em conformidade com normas regimentais do sistema de ensino, no
seio do qual estivermos atuando como profissionais.
Com essa prática,
importa evitar cair na confusão epistemológica, que temos sinalizado (ver texto
anterior), a respeito do registro do resultado do desempenho do estudante, seja
ele numérico, alfabético ou por uma escola de adjetivos.
Como não cair no
contrabando epistemológico, assinalado no texto anterior?
Para tanto,
importa assumir que ensino e aprendizagem compõem um conjunto de atos
pedagógicos essenciais para a formação do educando e que o registro é somente a
memória documental do testemunho do educador de que ele investiu e acompanhou determinado
estudante e que ele aprendeu o necessário. Investiu e acompanhou não um, mas “todos”
os estudantes da turma que está acompanhando, de tal forma que “todos”
aprenderam aquilo que deveriam aprender.
Com esse
entendimento, o registro permanecerá pura e simplesmente “registro” do
testemunho do educador. Somente isso. Não será uma realidade “quantitativa”, que
possa permitir médias, somente o registro da qualidade da aprendizagem do
educando. Expressará o desempenho necessário e satisfatório de cada um e de
todos os estudantes de uma turma, à medida que houve investimento para tanto.
Então, vamos supor
que, em determinada escola, se use o registro numérico, com anotações de 0
(zero) a 10 (dez). Com que símbolo numérico registraremos a “qualidade
satisfatória da aprendizagem” do educando?
Podemos, “por
convenção”, admitir que o estudante que obtiver plena aprendizagem do
necessário, terá o registro dessa condição com o símbolo numérico 8,0. Então,
vamos supor que estamos trabalhando com as operações básicas em aritmética:
adição, subtração, multiplicação, divisão.
À medida que
investimos e o estudante aprendeu o conteúdo necessário que deveria aprender
relativo às quatro operações matemáticas, teremos os seguintes registros:
adição = 8,0; subtração = 8,0; multiplicação = 8,0; divisão = 8,0. Desde q u o estudante aprendeu o necessário,
ele terá esse registro nos documentos oficiais. E... se ele não aprendeu? O
educador deve trabalhar para que ele aprenda, desde que esse é o objetivo da
escola.
De imediato, isso
parecerá estranho a muitos educadores, desde que ainda estamos comprometidos
com a ideia de que os estudantes são diferentes e, por isso, deveriam ter
registros diferentes, alguns expressando melhores condições de aprendizagem que
outros.
Todavia, se todos
“aprenderam aquilo que deveriam aprender”, qual a razão para não terem
registros equivalentes? Será que acreditamos que os estudantes não têm condições
de aprender, “de modo equivalente”, os determinados conteúdos escolares, que
ensinamos?
Certamente que
haverá diferenças subjetivas entre nossos estudantes, como existe diferenças
subjetivas entre todos os seres humanos. Contudo, a aprendizagem dos conteúdos
necessários deve ocorrer com todos, de modo equivalente para todos, caso
contrário, não faria sentido o ensino simultâneo. Essa foi, e continua sendo, a
meta do estabelecimento do “ensino-aprendizagem simultâneos” (um professor
ensina, simultaneamente muitos estudantes; e, simultaneamente, muitos
estudantes aprendem com base no ensino de um único professor).
A função do ensino
simultâneo, instituído a partir do século XVI, no Ocidente, é garantir que
“todos” aprendam o necessário, curricularmente estabelecido.
Então, haverá a
pergunta: “E... as diferenças individuais, onde ficam?” Todos devem aprender o
necessário e, por isso, foi ensinado suficientemente bem e, então, tem o
testemunho do professor de que ele aprendeu o necessário, em função do que a
qualidade de sua aprendizagem foi registrada com o símbolo numérico “8,0”.
Porém, acima do
“8,0”, na escala de símbolos até 10, existem duas outras possibilidades, o
“9,0” e o “10,0”. Os estudantes que, além de se apropriarem do necessário, são
brilhantes em seus desempenhos, ou seja, vão para além do necessário, terão
esses registros. Contudo, o necessário foi aprendido por todos. Alguns poderão
se destacar e, nesse caso, seu desempenho terá um registro apropriado.
Essa prática pode
ser adotada tanto com os registros numéricos, como com os alfabéticos ou com a
escala de adjetivos.
Um pesquisador norte-americano da área da avaliação educacional, cujo nome é Norman Gronlund, em seu livro, Elaboração de testes para o ensino, publicado, em tradução para a língua portuguesa, pela Livraria Pioneira Editora, São Paulo, 1979, propõe que as práticas avaliativas levem em consideração dois patamares de desempenho do estudante em seus estudos e aprendizagens: a “aprendizagem para o domínio” (Capítulo 2) e a “aprendizagem para o desenvolvimento” (Capítulo 3).
A aprendizagem
para o domínio, ou de maestria ou do necessário, delimita aquilo que “todos”
devem aprender, curricularmente estabelecido; a aprendizagem para o
desenvolvimento delimita aprendizagens que estão para a além do domínio, do
necessário.
Então, nós
educadores necessitamos agir pedagógica e metodologicamente para que todos
aprendam o necessário e, certamente, alguns --- ou até muitos --- estudantes
ultrapassarão esse limite e apresentarão desempenhos brilhantes.
Para se chegar a
esse patamar de padrão de qualidade do desempenho dos estudantes ---minimamente,
o “necessário” e, quiçá, “para o desenvolvimento” ---, importa que o educador
em sala de aula, mesmo com todos os impasses relativos às condições de
trabalho, atuará a favor de que todos aprendam o necessário.
Isso significa que
não se deve dar importância as condições de ensino? Nada disso. A proposição
tem a ver com a compreensão de que os educandos em sala de aula não são os
responsáveis pelas condições insatisfatórias de ensino, por isso, em sala de
aula, importa realizarmos o melhor desempenho no ensino. Nos sindicatos e nas
organizações da sociedade civil, teremos os espaços adequados para nossas
reivindicações. Na sala de aula, boas e significativas aulas, com significativas
e necessárias aprendizagens.
Hoje em dia a avaliação é mal interpretada pelos docentes, tem se tem um olhar mais profundo com este aluno que vai mal na avaliação ou muito bem, não se procura mais saber o por que destes resultados obtidos infelizmente.
ResponderExcluircorrigindo o comentário anterior. Não se tem um olhar mais profundo com estes alunos que vão mal na avaliação ou muito bem, não se procura saber o por que destes resultados obtidos infelizmente.
ResponderExcluirGisele,
ResponderExcluirDe fato, a função da avaliação da aprendizagem é revelar a qualidade da aprendizagem do estudante. Mas, no geral, seguimos o senso comum, que tem sido bastante difícil de modificar.
Adorei o post sobre a Avaliação, ao meu ver como futura docente, vejo a avaliação como parte de um processo muito importante no contexto escolar, porém o que se tem visto atualmente é que quando o aluno erra na avaliação os professores ou até mesmo o aluno não buscam saber o por que do erro, ou retomar o assunto de forma breve porém bem explicativa e clara, buscar saber o certo e ter interesse de ambas as partes sobre o assunto.
ResponderExcluirAmanda,
ResponderExcluirCreio que, em nossas práticas educativas, necessitamos aprender que avaliação significa diagnóstico, tendo em vista tomar decisões mais adequadas na busca do sucesso de nossa ação. O que interessa são os resultados bem sucedidos de nossa ação. A vida, afinal, aposta sempre no sucesso.