Cipriano
Luckesi
Nos
textos recentemente publicados neste blog, sob os números 128,129,130, foram
tratados temas relativos à avaliação em educação como “subsidiária de decisões
pedagógicas construtivas” da aprendizagem satisfatória dos estudantes. No
presente texto, pretendemos sinalizar a necessidade e importância da distinção dos
papéis do educador como avaliador e como gestor da sala de aula. Importa
observar que “distinguir” não é “separar”.
O
gestor é aquele que age, tendo em vista a produção de resultados satisfatórios
com sua ação. O avaliador é aquele que investiga a qualidade dos resultados
obtidos, subsidiando novas decisões e encaminhamentos tendo em vista a produção
de resultados satisfatório, caso esse seja o desejo da gestão da ação.
No
caso da sala de aula, o professor exerce os dois papéis, o de gestor da ação
pedagógica e de avaliador dos resultados de sua ação.
Nas instituições
complexas, esses papéis são exercidos por equipes diferentes: a da gestão e a
da avaliação. A primeira realiza as atividades e a segunda subsidia a primeira,
investigando e revelando a qualidade da realidade; fator que lhe possibilita
tomar as medidas necessárias, reorientando as atividades, tendo em vista
construir os resultados desejados.
Por
vezes na sala de sula, essa fenomenologia confunde um pouco o educador,
parecendo que o ato de avaliar atua por ele mesmo, produzindo resultados. Nesse
contexto de compreensão, importa ter clareza que o ato de avaliar se assemelha ao
ato de investigar na ciência, ou seja, ambos são atos de investigação e ambos revelam
aspectos da realidade, porém não atuam em sua modificação.
A
ciência revela o que é a realidade e como ela funciona, a avaliação revela a
qualidade da realidade. Em ambas as circunstâncias, a produção de novos resultados
dependerá da ação do gestor de uma ação. No caso, a ciência ela subsidia as múltiplas
e variadas tecnologias que temos; a avaliação subsidia novas decisões do gestor
frente aos objetivos de sua ação.
Como
sinalizamos, na sala de aula, o professor exerce tanto o papel de gestor, ou
seja, aquele que investe na ação, tendo em vista a conquista dos objetivos
previamente estabelecidos e, ao mesmo tempo, exerce o papel de avaliador, tendo
em vista verificar a qualidade dos resultados de sua ação. Nesse contexto, é
fácil a confusão em acreditar que a avaliação, por si, é autônoma e produziria
resultados.
De
fato, ela não é autônoma; ela subsidia a gestão da ação. A avaliação, na sala
de aula, como em qualquer outro âmbito de ação, revela a qualidade da realidade.
Com essa informação em mãos, o gestor da ação toma decisões.
No
caso da sala de aula, as decisões, decorrentes dos atos avaliativos, têm a ver
com:
(01) admitir que os resultados obtidos
apresentam a qualidade satisfatória, e, pois, preenchem todos os requisitos
propostos no planejamento de ensino para a aprendizagem dos estudantes (uso probatório dos resultados da
avaliação);
(02) admitir que os resultados
ainda não atingiram o nível de satisfatoriedade, fator que pode conduzir o
gestor da ação a duas opções:
(a) assumir a qualidade revelada
--- ainda que não satisfatória --- como final e não proceder nenhuma nova intervenção
na ação, “deixando as coisas como estão” (uso
probatório dos resultados da avaliação. Ainda que os resultados sejam
insatisfatórios, o gestor decide por encerrá-la no nível em que se encontram);
(b) assumir a qualidade da
realidade, revelada pela avaliação, como ainda não-satisfatória, e, pois,
intermediária, o que implica na tomada de novas, e novas, decisões, a fim de
que os resultados da ação atinjam a qualidade desejada (uso diagnóstico dos resultados da investigação avaliativa).
A
compreensão exposta, acima, auxilia o educador em sala de aula a entender que
ele é, ao mesmo tempo, tanto o gestor da sala de aula, como o avaliador dos
resultados de sua ação.
Como
avaliador, busca revelar a qualidade dos resultados de sua ação, tendo em vista
subsidiar o seu lado de gestor a tomar decisões, as mais ajustadas, tendo em
vista a conquista do objetivo final que é o de que sua atividade produza a
aprendizagem satisfatória por parte de todos
os estudantes colocados sob sua responsabilidade.
Quanto
a compreensão, aqui exposta, importa ter um olhar proativo, isto é, um olhar voltado para o futuro, com o desejo de construí-lo.
Não serve
para nada olhar para o passado a não ser como diagnóstico daquilo que já ocorreu
e necessita ser ultrapassado e integrado. Olhar para o passado como
justificativa para não investir proativamente na ação, implica em um uso
inadequado dos atos avaliativos. A natureza inventou a avaliação, a fim de que
nos sirvamos de seus recursos de forma construtiva, ou seja da forma saudável.
Tendo
em vista estar ciente de quando, em sala de aula, estamos atuando no papel de
gestor ou de avaliador, importa estar atento a esses papéis. A gestão da sala
de aula é a responsável pela produção de resultados satisfatórias. A avaliação
é a subsidiária que revela à gestão: “você já conquistou o resultado desejado”,
“você ainda não conquistou o resultado desejado”. Cabe ao gestor decidir o que
fazer.
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Parabéns pelo espaço rico de experiências e com certeza muito a contribuir com aprendizagem. Gratidão
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