111 - O SER HUMANO, SUA EDUCABILIDADE E O EDUCADOR
Cipriano Luckesi
01.
O ser humano e
suas potencialidades
Com os episódios
do nascimento --- concepção, gravidez e nascimento propriamente dito --- o ser
humano chega ao mundo como um feixe de possibilidades, múltiplas, infinitas
possibilidades, que podem ser atualizadas através da interação com o mundo e
com os outros, ao longo do tempo.
A expressão “atualização de potencialidades” tem sua
raiz em Aristóteles, filósofo grego do século IV antes da era cristã. Ele
afirmava que, no mundo, todos os fenômenos, constitutivamente, se manifestam
como “potência e ato”. “Potência” significa a possibilidade de ser, e “ato”
significa a potência que se realiza, que se manifesta como plena, atualizada.
Segundo sua compreensão, a “passagem da potência ao
ato se dá devido a existência de um terceiro em ato”. O “ser” --- aquele que
existe por si ---, para ele, é a plenitude daquilo que existe, no qual não se
dá potência e ato, é sempre ato; o “ente” é aquilo que existe como um feixe de
possibilidades, contendo infinitas possibilidades de atualização, infinitas
possibilidades de atualização.
Nós seres humanos, no contexto desse entendimento,
somos “entes”, com múltiplas potencialidades a se atualizarem --- de
transformarem-se em ato no decurso do tempo --- em nossas vidas. E, em torno de
cada um de nós, existem muitos “entes” que, ao mesmo tempo, já são atos ---
mas, evidentemente, com múltiplas possibilidades de, ainda, virem a ser mais, e
mais, expressando novas “atualizações”. São “terceiros em ato”, que nos
convidam a atualizar (= tornar atos) as potencialidades com as quais chegamos
ao mundo.
Esse “terceiro em ato”, que nos conduz a aprender e,
consequentemente, nos desenvolver, pode ser o mundo natural que nos cerca,
assim como a cultura circundante; afinal, aprendemos com tudo aquilo que nos
cerca, nos confronta e nos exige aprendizagens para a sobrevivência. São também
os outros seres humanos que já atualizaram muitas de suas potencialidades.
Em nossas interações com o mundo e com os outros, nos
“esculpimos” Os seres humanos que nos antecederam no tempo e “se esculpiram a
si mesmos”, existem em atos (atualizados) e nos acolhem, nos nutrem, nos
ensinam, nos confrontam para que atualizemos nossas potencialidades, nos
tornemos “senhores de nós mesmos”, cientes de nossas capacidades, poderes,
modos de agir...
Aprendemos convivendo com aquilo que nos cerca,
natureza física, biológica, a cultural com todas as suas manifestações e os
outros seremos humanos, que, por seu passado formativo, já tem domínio sobre
diversas áreas da vida.
Os denominados “meninos lobos”, que, por alguma razão
do destino, cresceram fora do circuito humano e junto a famílias de lobos,
tornaram-se “seres humanos com hábitos de lobos”. O ser humano, desde que tenha
chegado ao mundo, está destinado a aprender. Constitui-se a si mesmo aprendendo,
atualizando-se a si mesmo. A aprendizagem esculpe nosso modo de ser, de agir e
de reagir.
Nesse contexto metafísico, podemos compreender que cada
estudante, cada educando à nossa frente, seja em sala de aula, ou fora dela,
apresenta essas características, o que implica que todo ser humano é educável.
Ele detém a característica essencial de aprender que permite construir-se a si
mesmo, através da relação com o mundo exterior a si mesmo. Chega ao mundo com
potencialidades e, usando uma expressão alegórica, esculpe-se pela
aprendizagem, desenvolve-se, atualiza potencialidades, torna-se quem pode ser.
02.
O ser humano e sua
educabilidade
A educabilidade pode ser compreendida metafisicamente,
como o fizemos acima, seguindo as pegadas de Aristóteles, contudo, podemos
traduzir essa compreensão abstrata em uma compreensão funcional, tomando por
base nosso sistema nervoso, centro de administração da vida de cada um de nós,
que nos possibilita, em princípio, a construção de recursos cognitivos e
afetivos que subsidiam nosso modo de agir coerente e consistente.
.
O sistema nervoso --- no caso dos seres humanos ---
representa a central administrativa de nossas vidas, desde que nada acontece no
dia a dia de nossas vidas individuais, sem que se passe por ele.
Quando chegamos ao mundo, pelo nascimento, nosso
sistema nervoso representa o feixe de nossas possibilidades, desde que
constituído por milhões de células nervosas que, relacionando-se entre si, através
das sinapses, constituem os circuitos neurológicos, que contém as memórias dos
algoritmos de nossos conhecimentos, de nossas habilidades, de nossas crenças,
modos de ser....
O sistema nervoso, por meio de milhares de conexões entre
suas células, esculpe-se, ao longo de nossas vidas, em função de nossas aprendizagens,
que se transformam em memórias, recursos com os quais administramos nosso dia a
dia. Memórias conscientes, subconscientes e inconscientes. Afinal, potências
que se tornam atos; possibilidades que se atualizam (tornam-se atos).
Por memórias conscientes, estamos compreendendo
aquelas das quais nos servimos de modo decidido no presente, também denominadas
memórias operacionais, quando as ações e gestos são realizados conscientemente.
Por memórias subconscientes, estamos compreendendo aquelas pelas quais agimos
de modo habitual; agimos funcionalmente. Seria impossível realizar todos os
nossos atos de forma meticulosamente consciente em todos os seus gestos. Os circuitos neurológicos, decorrentes da
aprendizagem, estão ali, disponíveis, nos servimos deles quando necessários e
eles respondem automaticamente às nossas necessidades. “São acordados”, quando
temos necessidade. E, existem, por fim, as memórias inconscientes, que atuam,
quando nosso inconsciente toma as rédeas e comanda nossa ação da forma como
deseja, independente de nossas escolhas e decisões. Somos “tomados” por essas
memórias. Nossas reações automáticas e intempestivas representam essas
memórias.
Essa “escultura neurológica” contém nossa memória, que
é constituída ativamente em nossas vidas, através de todas as nossas relações
com o mundo que nos cerca, natureza, objetos culturais, acontecimentos,
pessoas.
Afinal, o nosso sistema nervoso recebe e processa
informações, como também orienta e comanda nossos atos cotidianos. Com seus
recursos, busca soluções até encontrar aquela que poderá ser a mais
bem-sucedida para o seu portador, que podemos ser nós mesmos ou os outros com
os quais convivemos.
Devido as infinitas possibilidades de aprender e de
ser, em nossa relação com tudo aquilo que nos cerca, vamos esculpindo nossa
compreensão do mundo, nossas crenças, nossas habilidades, que permanecem
guardadas em nossos circuitos neurológicos, sempre disponíveis, para serem
utilizados, quando necessário.
Desse modo se dão as aprendizagens desde as mais
elementares, como andar, como falar na língua paterna, como comer, como brincar
servindo-nos das diversas modalidades dos brincares, como aprender uma língua
estrangeira, aprender a raciocinar aditivamente e subtrativamente, dirigir
automóvel, cozinhar, bordar, elaborar poesias, desempenhar um papel no
teatro... infinitas possibilidades. Nosso sistema nervoso suporta aprender isso
tudo e muito, muito mais. Suas possibilidades de aprendizagens são infinitas.
Repitamos: enquanto estivermos vivos e saudáveis,
nossas possibilidades de aprender continuam infinitas. E, então, vamos pela
vida afora, nos esculpindo por nossas aprendizagens.
Através dessa dinâmica funcional e plástica do nosso
sistema nervoso, realizamos nossas potencialidades; usando a linguagem
aristotélica, “atualizamos nossas potencialidades”.
03.
O educador e o seu
papel na prática educativa
Sinalizamos nos
parágrafos acima que aprendemos --- nos esculpimos --- em nossa relação com o
mundo. Um dos componentes desse mundo que nos cerca são os outros seres
humanos. Seres humanos de nossa idade, mais novos e mais velhos. Seres humanos
que tem experiências semelhantes às nossas, que tem menos experiências que nós
em algumas áreas e outros que tem muito mais experiência que cada um de nós em
outras áreas de conhecimento e ação. Existem aqueles que tem mais domínio em
determinadas áreas da vida e existem aqueles que tem menos domínio do que nós
em determina das áreas da vida. Então, aprendemos uns com os outros, além, de
aprendermos em nossa relação direta com o mundo que nos cerca, seja da natureza
física, biológica, seja dos fenômenos socioculturais. O mundo nos desafia a nos
relacionamos com ele da melhor forma possível e, nesse contexto, aprendemos
como compreendê-lo, como viver e sobreviver nele e com ele.
Entre os seres humanos que nos cercam, alguns assumem
o papel de educadores para cada um de nós. Nossos pais, nossos avós, nossos
tios, tias, primos, primas, vizinhos adultos ou de idade semelhante a nossa.
Com todos eles, aprendemos. Afinal, tornam-se nossos educadores.
Contudo, existem
seres humanos que, “oficialmente”, se tornaram e/ou se tronam nossos
educadores, são nossos professores. Estes necessitam preparar-se e estar
preparados para exercer a sua função social, tanto do ponto de vista cognitivo,
desde que necessitam possuir domínio dos conteúdos que ensinam, como também,
necessitam ter o domínio afetivo sobre suas possibilidades de relações
interpessoais tanto para ensinar como para aprender; além, evidentemente, do
domínio metodológico sobre a arte de ensinar e aprender.
Quanto ao domínio
dos conteúdos que um educador ensina --- área de conhecimentos ---, parece não
pairar dúvidas em cada um de nós. Todos sabemos que somente poderemos ensinar
aquilo que sabemos, ou seja, aquela faceta do mundo sobre a qual temos domínio
cognitivo e prático. Quando, no cotidiano, nos deparamos com alguém que tem, em
nível excepcional, domínio sobre sua área de atuação, colocamo-nos, admirados,
diante dele. Nos embevecemos com o seu
saber. Eles, afinal, sabem que sabem.
Quanto ao domínio
das relações interpessoais, uma área que inclui posse de nós mesmos, de nossa
biografia, como também de nossas reações emocionais, nem sempre somos “experts”.
Nossas relações com o mundo e com os outros tem a marca da afetividade. Sem
ela, agiríamos como robôs, cumprindo nossas tarefas, contudo, sem a exuberância
dos estados afetivos que nos vinculam a pessoas, projetos, ações, à natureza,
afinal, à vida. Todavia, como a vida afetiva também é esculpida por nossas
relações com o mundo, nosso modo afetivo de estar no mundo pode ser amoroso,
amistoso, agressivo, reativo e muitas outras possibilidades. Facilmente, todos
nós catalogamos as pessoas, com as quais vivemos, do ponto de vista de seu modo
afetivo de estar no mundo. É bom estarmos junto a pessoas sensatas
emocionalmente; mas, não é nada confortável, estar junto a pessoas reativas sob
essa ótica. E, então, vale a pena lembrar que tanto o modo sensato, como o modo
reativo de estar no mundo, foram construídos no decorrer do processo biográfico
de cada um de nós, onde vivenciamos experiências fluídas, mas também
traumáticas.
Então, para ocupar
o papel de educador, importa que o profissional busque o estado de sensatez,
tendo em vista garantir uma relação estável e equilibrada com o estudante. Isso
implica em aprender a estar atento às nuances de seus estados emocionais, cujas
bases podem estar em memórias subconscientes, mas, de modo especial,
inconscientes. Nossas condutas reativas, de modo especial, quando emergem de
modo intempestivo, tem m ais a ver com conteúdos inconscientes do que
subconsciente ou conscientes. Nessas circunstâncias, usualmente, somos tomados
por memórias de situações ameaçadoras do passado. “Antes que aconteça de novo”,
nosso inconsciente nos conduz à reação automática e intempestiva de defesa e,
até mesmo, de ataque. Reação essa que não ajuda em nada nas relações humanas em
geral, e, na pedagógica, menos ainda.
Com essas
qualidades cognitivas e afetivas, o educador ocupa um lugar especial na relação
pedagógica entre educador e estudante. Servindo-nos das compreensões
neurológicas, que, sinteticamente, apresentamos anteriormente neste texto, nos
possibilita compreender o papel do educador nesse contexto.
a)
O educador no ato
pedagógico
O educador é o
“adulto da relação pedagógica” e, como tal, ele acolhe, nutre, sustenta e
confronta o educando, afim de que ele “esculpa o seu modo de ser e de agir”. O
educador tem papel ativo somente como mediador a aprendizagem do estudante; o
estudante, por outro lado, tem papel ativo na formação de si mesmo; nesse caso,
o educador lhe oferece suporte para que faça seu caminho. Não há como o
educador substituir o educando em sua tarefa de auto-constituir-se. Nos quatro
papéis --- acolher, nutrir, sustentar e confrontar ---, o educador oferece
condições para que o estudante faça seu caminho; certamente condições que
deverão ser continentes e seguras.
Acolher. David Boadella,
criador da Biossíntese, uma área de conhecimentos psicoterapêuticos, diz que “o
que cura é a receptividade viva de outro ser humano”. “Receptividade viva”
significa receber o outro “como ele é”, incondicionalmente. Esse é o ponto de
partida para a relação pedagógica, desde que o que interessa ao educador é
possibilitar ao estudante formar-se a sai mesmo, esculpir-se a si mesmo. Para
tanto, o único ponto possível de partida é o educando como ele é e como se
encontra nesse momento, em sua vida --- alto, baixo, magro, gordo, falante,
silencioso, extrovertido... ---, afinal, como é. Não há outra possibilidade de
ponto de partida para uma atividade educativa. E, nesse ponto, cada estudante é
diferente do outro, à medida que cada um nasceu individual, com marcas
genéticas da família, mas assimiladas de forma individual; com traços
socioculturais da família, mas assumidos a seu modo; com uma biografia pessoal,
constituída em sua relação com o mundo. Do ponto de partida ao ponto de chegada
(aprendizagem), o educador auxiliará cada um a fazer seu caminho de formação,
sempre mediando a relação entre individualidade (que não poderá ser suprimida
nunca) e a aprendizagem de conteúdos que são universais (que também não tem
como deixar de ser metodologicamente válidos, como também universais).
Nutrir. O remo “nutrir”
é assumido, aqui, numa conotação alegórica; nada, pois, no sentido de alimentar
biologicamente; mas, sim, alimentar psicológica e cognitivamente. O educador,
como adulto da relação pedagógica, subsidia o estudante a acessar conteúdos e
compreensões novas a respeito das diversas áreas de conhecimento, assim como
sobre os diversos campos da vida. Conteúdos e compreensões que necessitarão ser
assimilados e tornados pessoalmente seus por parte dos estudantes, e, isso só
pode ocorrer de forma ativa.
Sustentar. “Sustentar”, no
caso, significa garantir ao estudante as atividades e o tempo necessário para
que aprenda (ou seja, crie seus circuitos neurológicos de memória) e, em
aprendendo, se desenvolva (isto é, assuma sua forma pessoal de ver e de se
relacionar com o mundo; sua forma de estar e agir no mundo, que seja
individualizada, mas, ao mesmo tempo, universal, desde que válida no meio
sociocultural onde vive).
Confrontar. “Confrontar” não
quer dizer “conflitar”. Simplesmente significa observar, sensatamente, a
conduta do estudante --- nova ou antiga --- e lhe sinalizar novas
possibilidades. No caso dos conteúdos escolares, confrontar significa
“diagnosticar o desempenho do estudante” e “reorienta-lo” múltiplas vezes caso
seja necessário, até que efetivamente tenha tomado posse dos conteúdos
curriculares necessários. O adulto da relação pedagógica deverá ser capaz de,
sensatamente, diagnosticar a situação e propor novos encaminhamentos caso o
estudante ainda não tiver aprendido aquilo que deveria aprender. O termo
“confrontar” está atrelado ao de “avaliar”, desde que uma qualidade, ainda
insatisfatória, detectada pela avaliação, subsidia o educador a tomar nova
decisão de re-ensinar ao estudante aquilo que curricularmente necessita
aprender, desde que ele veio para a escola para aprender.
b)
O educador e o
educando nos atos de ensinar e aprender
Como essas
posturas pedagógicas podem ser traduzidas no ato de ensinar?
Creio que os
passos ativos do ato pedagógico de ensinar e aprender sejam: (01) expor um
conteúdo novo; (02) a assimilação do conteúdo novo; (03) exercitação; (04)
aplicação; (05) recriação; (06) criação do novo. Vamos compreender esses
sucessivos passos do ensino-aprendizagem, enfatizando a predominância de
atividade de cada um dos dois atores desse processo --- educador e estudante.
No processo de
ensinar, o educador é o mediador dos conteúdos socioculturais já existentes ---
conhecimentos científicos, saberes ---, que, no caso da escola, encontram-se
definidos nas propostas curriculares. Então, o ensino se inicia pela introdução
do estudante no seio dos conhecimentos existentes, dos quais o professor deve
ser o mediador.
Nesse contexto, (01)
o primeiro passo do ato de ensinar é a exposição do conteúdo a ser
aprendido, seja ele teórico ou prático. O termo exposição tem sua origem no
verbo latino “exponere”, que significa “colocar diante de”. Dessa forma, “expor
um conteúdo” ao estudante significa “colocar diante dele” esse determinado
conteúdo. Essa ação pode ser realizada oralmente, mas também pela seleção de
uma leitura a ser feita ou pela recepção de informações por um documentário, um
tape, um filme ou outro meio qualquer de comunicação. O que importa é que o
determinado conteúdo chegue ao aprendiz. Nesse passo do processo de ensinar, o
professor tem a predominância ativa na relação educador-estudante.
(02) O segundo
passo é a assimilação. Aqui é o estudante que tem predominância ativa. É
ele quem assimila. Nesse caso, o papel do professor é facilitar a assimilação
do conteúdo, clareando a definição dos termos ou auxiliando a compreender os
conteúdos expostos. Sem essa atividade de compreender, o sistema nervoso do
estudante não terá condições de criar o circuito neurológico necessário tendo
em vista sustentar essa informação, que será necessária para o próximo passo
que é a exercitação.
Na (03) exercitação,
o professor será o parceiro orientador do estudante, que será ativo em sua
prática pessoal com o determinado conteúdo exposto. Retomando o conteúdo
exposto e assimilado, o estudante praticará exercícios, que sedimentarão
neurologicamente sua aprendizagem operativa do conteúdo exposto. Sem a
exercitação --- caso o estudante tenha conseguido assimilar as informações
expostas --- elas serão somente informações expostas, mas não conhecimentos e
habilidades. A posse efetiva do conteúdo só virá com a exercitação. Não se
aprende matemática sem exercícios, o mesmo ocorre com a língua nacional, ou com
a aprendizagem de uma língua estrangeira, ou com a aprendizagem da história, da
geografia, ou de qualquer outra área de conhecimentos e habilidades. A
exercitação cria o circuito neurológico (a memória) de determinado
conhecimento.
(04) De posse de
um conhecimento, o estudante terá a possibilidade de realizar o quarto passo da
aprendizagem --- a aplicação. Com a posse do conhecimento ---- adquirido pela
exposição, assimilação e exercitação ---, o estudante poderá aprofundar e
flexibilizar esse conhecimento aplicando-o, seja para a solução de situações
novas ou de uma situação próxima e parecida com a situação exercitada. A
aplicação alarga a posse de um determinado conhecimento, assim como de uma
determinada habilidade. O novo circuito neurológico se amplia e se aprofunda
com o conjunto das novas experiências aplicativas. A aplicação, podemos dizer,
possibilita aprender a usar o conhecimento ou a habilidade adquiridos, tendo em
vista resolver novos e variados impasses. A aplicação flexibiliza o
conhecimento e a habilidade e possibilita o seu uso variado.
(05) Com o cumprimento
do segundo, terceiro e quarto passos do ato de ensinar-aprender, nos quais o
componente predominantemente ativo da relação pedagógica é o estudante,
permanecendo o educador na retaguarda da orientação, estabelece-se a base para
a recriação
do conhecimento ou habilidade, que representa o quinto passo desse
processo. Tendo a posse do conhecimento exposto, o estudante está pronto para
arriscar recriá-lo. Por exemplo, após ter a posse dos conhecimentos e
habilidades com o conteúdo “adição” em matemática, que aprendeu através da
fórmula escrita, poderá recriar formas de adição com outros recursos. Mas, mais
que isso, após aprender adição, subtração, multiplicação e divisão, poderá
brincar de várias formas com as quatro operações. O mesmo poderá ocorrer com
qualquer outro conteúdo, seja da área científica, sociocultural, das artes, da
literatura...
(06) A criação
de algo novo, como o sexto passo, representa o nível mais complexo da
aprendizagem, desde que depende da posse e domínio consistente de aprendizagens
anteriores. Certamente depende também da amplitude dos conhecimentos e
habilidades sobre os quais se tem domínio. Por exemplo, para escrever o
presente texto, estou usando o “banco” e dados, informações, compreensões,
habilidades, que foram sendo esculpidas em meu sistema nervoso ao longo do
tempo. A abordagem que estou expondo nesse texto é nova, desde o seu título,
assim como a articulação entre as suas partes, a articulação entre os dados
filosóficos neurológicos e pedagógicos utilizados. A criação está para além das
aprendizagens, é um patamar novo, mas ela só pode existir de modo consistente,
caso a base cognitiva e afetiva tenha sido realizada.
Quando um
pesquisador tem uma intuição, que ainda não tem sua sustentação na realidade
conhecida, passará tempo até que esse referido pesquisador ou outro (partindo
de sua intuição) chegue a sua formulação completa e à sua exposição. A Teoria
da Relatividade, foi formulada por Einstein em 1905, mas só pode ser demonstrada
em 1919, quando a ciência e os dados da realidade observados permitiram que sua
criação teórica fosse demonstrada.
A intuição nasce
de uma base, por vezes, já demonstrada, e, por vezes, exigindo mais e mais
buscas. Contudo, vale sinalizar que uma intuição significativa não emerge de um
nada. Nasce de uma base cognitiva constituída.
04.
Concluindo...
Concluindo,
podemos conceber o ser humano de modo metafísico, como o fez Aristóteles,
concebendo que ele é um “ente humano”, composto por potência e ato; e, que a potência
passa de “potência a ato”, através da ação de um “terceiro em ato”, que
propicia as condições da mudança de um para outro estado.
Isso também ocorre
funcionalmente na vida humano bio-psico-espiritual, através da aprendizagem que
esculpe em nosso sistema nervoso, nosso modo de ser, de viver e de agir. E,
cabe ao mundo e aos educadores de cada um de nós, seja eles familiares,
vizinhos ou escolares, nos ensinar, a fim de que aprendamos e, desse modo, nos
formemos.
O educador
escolar, frente à sua responsabilidade, necessita de capacitação cognitiva e
afetiva, tendo em vista exercer sua atividade, de tal forma que tenha a
capacidade pedagógica de acolher, nutrir, sustentar e confrontar os educandos,
assim como a capacidade metodológica de praticar o ensino-aprendizagem através
das habilidades: de expor um conteúdo, de subsidiar sua assimilação, de
orientar e sustentar sua exercitação, sua aplicação, sua recriação, de tal
forma, que, finalmente, o estudante possa investir na criação de novas
compreensões teóricas sobre a vida e seus processos, assim como criar novos artefatos
para o bem de todos.
O papel do
educador é fundamental para a vida individual e social no planeta, desde que
ele é o mediador no processo de formação das novas gerações. Ele auxilia cada
educando a esculpir em si mesmo os meandros de seu sistema nervoso, central
administrativa de sua vida pessoal e na relação com o mundo e com os outros.
Seu papel é de subsidiar condições para a humanização do ser humano individual,
assim como coletivo.
Perfeito! O Educador deve criar condições para o educando dizer sua palavra, expressar e desevolver ideias próprias neste sentido, educador-educandos humanizar-se na luta por sua libertação processo que se dá em construir e nutrir o Ser.
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