domingo, 4 de junho de 2017

119 - O ATO DE AVALIAR E INVESTIMENTO NA CONSTRUÇÃO DE RESULTADOS SATISFATÓRIOS

Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com



Ao agir, buscamos o resultado bem-sucedido de nossa ação.

Remexendo no baú da memória, não consigo identificar uma única situação em que um ser humano, ao agir, tenha apostado no insucesso de sua ação, que “daria tudo errado”.

A ação e o seu resultado podem representar uma distorção social e/ou ética do sujeito que está agindo, contudo, por si, está apostando que sua ação vai ter sucesso, mesmo que seja negativa para todos os outros. Ele terá sucesso, ainda que em detrimento dos outros. O “em detrimento dos outros” tem a ver com ética; então, pode haver uma ação bem-sucedida para o agente, ainda que eticamente indevida. No caso, todo sujeito que age aposta no sucesso de sua ação.

A parceira mais significativa e essencial para a conquista de resultados bem-sucedidos num projeto de ação, seja ele qual for, é a avaliação.

Epistemologicamente, se define o ato de avaliar como “o ato de investigar a qualidade da realidade”, ou seja, tem como destino “revelar a qualidade da realidade”. Como na relação ciência/tecnologia, são os resultados da investigação avaliativa --- no caso, como “leitura da qualidade da realidade” --- que podem subsidiar decisões. No caso da avaliação, esses determinados resultados podem ser utilizados de dois modos: modo classificatório e modo diagnóstico.

O modo classificatório subsidia a classificação da ação ou do sujeito em avaliação. Na escola, ao final da ação pedagógica, o estudante é classificado em aprovado ou reprovado. Numa competição esportiva, os participantes são classificados segundo uma escala descendente: 1ºlugar, 2º lugar, 3º lugar... O mesmo ocorre num concurso público, onde os candidatos são classificados segundo uma escala. O modo de uso classificatório dos resultados de uma ação qualquer assume que a ação chegou ao seu final; não há o que ser feito.

O modo diagnóstico de uso dos resultados da investigação avaliativa opera subsidiando a construção dos resultados da ação, que se deseja que sejam satisfatórios. A ação ainda está em curso, por isso, o agente pode investir mais e mais na busca do resultado desejado; está no espaço da construção. Então, a avaliação --- no modo diagnóstico de uso do resultado da investigação da qualidade da realidade --- possibilita que o sujeito da ação aquilate se já atingiu, ou ainda não, a qualidade desejada para o resultado de sua ação. Se sim, ótimo; se não e se se deseja um resultado mais significativo do que aquele que já atingiu, há que se investir mais e mais.

No meio da educação formal, de modo constante --- para não dizer quase que exclusivo ---, se faz “uso do modo classificatório” dos resultados do ato de avaliar. Todos --- gestores da educação, educadores em sala de aula, pais, estudantes --- investem pouco, ou quase nada, no uso da avaliação sob a ótica diagnóstica.

Todavia, importa compreender que ambas as modalidades de uso dos resultados do ato avaliativo são fundamentais. O uso diagnóstico subsidia a construção dos resultados desejados e o uso classificatório expressa o convite para investir no resultado final com qualidade positiva.

Ou seja, quando alguém inicia a investir num projeto de ação --- seja ele qual for, inclusive, evidentemente, o projeto da aprendizagem dos educandos na sala de aula --- tem como meta a obtenção do resultado satisfatório decorrente de sua ação.

No caso do uso diagnóstico e do uso classificatório dos resultados da avaliação, o uso diagnóstico “subsidia” a construção do resultado desejado e o uso classificatório “define” o limite da qualidade dos resultados a serem atingidos, ou seja, a satisfatoriedade. Em se tratando da sala de aulas, o limite classificatório expressa a “qualidade da aprendizagem à qual todos devem ser conduzidos”; o que implica em que o educador vai trabalhar para que isso efetivamente ocorra.

A distorção no uso dos atos avaliativos ocorre quando o educador obscurece a relação entre as duas modalidades de uso dos resultados do ato avaliativo, fixando-se de modo predominante ou exclusivo no uso classificatório. 

O convite é para que o educador em sala de aula sirva-se dos dois usos dos resultados do ato avaliativo, servindo-se do primeiro --- diagnóstico --- como recurso para se chegar ao segundo --- classificatório. Na sala de aula, diagnosticar sempre, com as sucessivas tomadas de decisão, tendo em vista classificar todos os estudantes sob sua orientação no nível necessariamente satisfatório de aprendizagem.








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