Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com
Contato --- ccluckesi@gmail.com
“Classificar”
significa situar um objeto ou uma pessoa numa determinada escala. Por exemplo,
classificar um elemento químico na tabela periódica ou classificar o rendimento
financeiro anual de uma pessoa na tabela do Importo de Renda, e, assim, em
qualquer outra atividade classificatória.
Também na educação
escolar o conceito de classificação foi utilizado, ao longo do tempo, de forma
equivalente. Na Pedagogia Jesuítica, formalizada no decurso do século XVI,
haviam três categorias para a classificação dos estudantes: aprovado, reprovado
e médio. Pós-Revolução Francesa, passou-se a utilizar uma classificação
numérica, através do recurso que denominamos de “notas escolares”, expressas
pelo sistema decimal, variando de 0 (zero) a 10 (dez), ou, então, expressas por
uma escala de 0 (zero) a 100 (cem). Em alguns sistemas escolares pelo mundo,
como na Inglaterra e nos Estados Unidos da América do Norte, as “notas
escolares” são registradas por uma escala de letras --- A, B, C, D, E ---,
assumindo que o A representa o desempenho mais satisfatório e o E, o menos
satisfatório.
No texto anterior
deste blog, usei o conceito “classificatório” de forma diversa da compreensão
comum dessa fenomenologia. Servi-me, então, o termo “classificatório” para definir
“o padrão ideal da escala classificatória” que deve ser atingido pelo estudante
em sua aprendizagem.
No caso, se o
padrão da aprendizagem satisfatória (= aprendizagem efetiva de todos os
conteúdos essenciais contidos no plano de ensino) for representado pela nota 8
(oito), dentro da escala decimal, variando de 0 (zero) a 10 (dez), o professor(a)
necessitará de investir no ensino-aprendizagem de seus estudantes até que “todos”
aprendam o necessário e, por isso, se lhes seja atribuída a nota 8 (oito).
Nesse contexto, o
padrão de classificação --- nota 8 (oito) --- passa a ser meta que deverá ser
atingida pelo estudante em sua aprendizagem, evidentemente sob a orientação consistente
do professor(a). Então, o sistema de ensino e o professor(a), como seu
representante, trabalhará para que todos atinjam esse padrão de classificação.
No caso, o “uso
diagnóstico” dos resultados do ato avaliativo, no decurso do processo de ensino
--- seja ele mensal, bimensal, trimensal, semestral ou anual --- subsidiará
decisões sucessivas do educador(a) na perspectiva de garantir que os estudantes
efetivamente aprendam aquilo que deveriam aprender, configurado no plano de
ensino. Ou seja, haverá necessidade de investir na aprendizagem satisfatória de
“todos os estudantes”. Existem países que já conseguiram isso, tais como
Canadá, Dinamarca, Finlândia, Suíça, qual a razão para não conseguirmos? Ou
qual a razão para ao menos investirmos nessa meta?
Aqui, importa
retomar a compreensão de Norman Groulund, a respeito de (01) “aprendizagem para
o domínio” e (02) “aprendizagem para o desenvolvimento”.
“Aprendizagem
para o domínio” significa a aprendizagem de todo o protocolo estabelecido no
planejamento do ensino e “aprendizagem para o desenvolvimento” significa o uso
criativo que o estudante poderá fazer das aprendizagens decorrentes da “aprendizagem
para o domínio”. A “aprendizagem para o desenvolvimento” tem a ver com as
infinitas possibilidades que o estudante tem de se servir daquilo que aprendeu
pela vida afora. Para o efetivo “uso diagnóstico” dos resultados dos atos
avaliativos --- como definido acima na sua relação com o “uso classificatório”
--- o educador se aterá ao campo definido como “de domínio”. Ou seja, estará
focado no ensino-aprendizagem para o domínio.
A “aprendizagem
para o desenvolvimento”, por estar comprometida com o “além da aprendizagem estabelecida
no protocolo planejado”, poderá --- e até mesmo deverá --- ser levada em conta,
mas não para registrar a “nota”, que represente aprendizagem do estudante. O educador(a),
em sala de aula, necessitará saber se seu estudante aprendeu os conteúdos
estabelecidos no protocolo. “Aquilo que vai além” decorre de seu investimento e
de sua criatividade pessoal. Pode-se levar em conta essa aprendizagem, mas não
para o registro classificatório, que promove o estudante de uma série para
outra.
Em síntese, o “uso
diagnóstico” dos resultados de uma investigação avaliativa em sala de aula está
a serviço de subsidiar ações que possibilitem atingir o padrão de qualidade
desejado, representado pelo protocolo do que deve ser ensinado e aprendido, em
conformidade com o planejado. Vale observar que em todas as ações humanas cotidianas
e profissionais, o ato de avaliar subsidia o diagnóstico, que, por sua vez,
possibilita decisões construtivas. Não existe atividade humana, sem uma prática
diagnóstica de avaliação, desde que ela garante a “busca da qualidade desejada”.
A “qualidade desejada” é a meta a ser atingida; em última instância, para
permanecer no âmbito dos conceitos utilizados neste texto, a “classificação
desejada”.
Esse será o caminho para colocar a avaliação a serviço da aprendizagem de todos, e, pois, da democratização social, o que implica que a educação escolar estará oferecendo "a todos os estudantes" condições de igualdade. No caso, todos aprendem o que necessitam aprender, segundo o currículo e o plano de ensino (= aprendizagem para o domínio); e, depois, cada um seguirá pela vida "desenvolvendo-se" com os seus recursos e investimentos pessoais (= aprendizagem para o desenvolvimento). A ação educativa se dá no âmbito metodológico profissional (eficiência), mas, ao mesmo tempo que está comprometida com a vida social e política de todos os cidadãos.
Esse será o caminho para colocar a avaliação a serviço da aprendizagem de todos, e, pois, da democratização social, o que implica que a educação escolar estará oferecendo "a todos os estudantes" condições de igualdade. No caso, todos aprendem o que necessitam aprender, segundo o currículo e o plano de ensino (= aprendizagem para o domínio); e, depois, cada um seguirá pela vida "desenvolvendo-se" com os seus recursos e investimentos pessoais (= aprendizagem para o desenvolvimento). A ação educativa se dá no âmbito metodológico profissional (eficiência), mas, ao mesmo tempo que está comprometida com a vida social e política de todos os cidadãos.
______________________________________________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário