segunda-feira, 5 de junho de 2017

120 - REFINANDO A COMPREENSÃO DA RELAÇÃO ENTRE O “USO DIAGNÓSTICO” E O “USO CLASSIFICATÓRIO” DOS RESULTADOS DO ATO DE AVALIAR

Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com




“Classificar” significa situar um objeto ou uma pessoa numa determinada escala. Por exemplo, classificar um elemento químico na tabela periódica ou classificar o rendimento financeiro anual de uma pessoa na tabela do Importo de Renda, e, assim, em qualquer outra atividade classificatória.

Também na educação escolar o conceito de classificação foi utilizado, ao longo do tempo, de forma equivalente. Na Pedagogia Jesuítica, formalizada no decurso do século XVI, haviam três categorias para a classificação dos estudantes: aprovado, reprovado e médio. Pós-Revolução Francesa, passou-se a utilizar uma classificação numérica, através do recurso que denominamos de “notas escolares”, expressas pelo sistema decimal, variando de 0 (zero) a 10 (dez), ou, então, expressas por uma escala de 0 (zero) a 100 (cem). Em alguns sistemas escolares pelo mundo, como na Inglaterra e nos Estados Unidos da América do Norte, as “notas escolares” são registradas por uma escala de letras --- A, B, C, D, E ---, assumindo que o A representa o desempenho mais satisfatório e o E, o menos satisfatório.

No texto anterior deste blog, usei o conceito “classificatório” de forma diversa da compreensão comum dessa fenomenologia. Servi-me, então, o termo “classificatório” para definir “o padrão ideal da escala classificatória” que deve ser atingido pelo estudante em sua aprendizagem.

No caso, se o padrão da aprendizagem satisfatória (= aprendizagem efetiva de todos os conteúdos essenciais contidos no plano de ensino) for representado pela nota 8 (oito), dentro da escala decimal, variando de 0 (zero) a 10 (dez), o professor(a) necessitará de investir no ensino-aprendizagem de seus estudantes até que “todos” aprendam o necessário e, por isso, se lhes seja atribuída a nota 8 (oito).

Nesse contexto, o padrão de classificação --- nota 8 (oito) --- passa a ser meta que deverá ser atingida pelo estudante em sua aprendizagem, evidentemente sob a orientação consistente do professor(a). Então, o sistema de ensino e o professor(a), como seu representante, trabalhará para que todos atinjam esse padrão de classificação.

No caso, o “uso diagnóstico” dos resultados do ato avaliativo, no decurso do processo de ensino --- seja ele mensal, bimensal, trimensal, semestral ou anual --- subsidiará decisões sucessivas do educador(a) na perspectiva de garantir que os estudantes efetivamente aprendam aquilo que deveriam aprender, configurado no plano de ensino. Ou seja, haverá necessidade de investir na aprendizagem satisfatória de “todos os estudantes”. Existem países que já conseguiram isso, tais como Canadá, Dinamarca, Finlândia, Suíça, qual a razão para não conseguirmos? Ou qual a razão para ao menos investirmos nessa meta?

Aqui, importa retomar a compreensão de Norman Groulund, a respeito de (01) “aprendizagem para o domínio” e (02) “aprendizagem para o desenvolvimento”.

“Aprendizagem para o domínio” significa a aprendizagem de todo o protocolo estabelecido no planejamento do ensino e “aprendizagem para o desenvolvimento” significa o uso criativo que o estudante poderá fazer das aprendizagens decorrentes da “aprendizagem para o domínio”. A “aprendizagem para o desenvolvimento” tem a ver com as infinitas possibilidades que o estudante tem de se servir daquilo que aprendeu pela vida afora. Para o efetivo “uso diagnóstico” dos resultados dos atos avaliativos --- como definido acima na sua relação com o “uso classificatório” --- o educador se aterá ao campo definido como “de domínio”. Ou seja, estará focado no ensino-aprendizagem para o domínio.

A “aprendizagem para o desenvolvimento”, por estar comprometida com o “além da aprendizagem estabelecida no protocolo planejado”, poderá --- e até mesmo deverá --- ser levada em conta, mas não para registrar a “nota”, que represente aprendizagem do estudante. O educador(a), em sala de aula, necessitará saber se seu estudante aprendeu os conteúdos estabelecidos no protocolo. “Aquilo que vai além” decorre de seu investimento e de sua criatividade pessoal. Pode-se levar em conta essa aprendizagem, mas não para o registro classificatório, que promove o estudante de uma série para outra.

Em síntese, o “uso diagnóstico” dos resultados de uma investigação avaliativa em sala de aula está a serviço de subsidiar ações que possibilitem atingir o padrão de qualidade desejado, representado pelo protocolo do que deve ser ensinado e aprendido, em conformidade com o planejado. Vale observar que em todas as ações humanas cotidianas e profissionais, o ato de avaliar subsidia o diagnóstico, que, por sua vez, possibilita decisões construtivas. Não existe atividade humana, sem uma prática diagnóstica de avaliação, desde que ela garante a “busca da qualidade desejada”. A “qualidade desejada” é a meta a ser atingida; em última instância, para permanecer no âmbito dos conceitos utilizados neste texto, a “classificação desejada”.

Esse será o caminho para colocar a avaliação a serviço da aprendizagem de todos, e, pois, da democratização social, o que implica que a educação escolar estará oferecendo "a todos os estudantes" condições de igualdade. No caso, todos aprendem o que necessitam aprender, segundo o currículo e o plano de ensino (= aprendizagem para o domínio); e, depois, cada um seguirá pela vida "desenvolvendo-se" com os seus recursos e investimentos pessoais (= aprendizagem para o desenvolvimento). A ação educativa se dá no âmbito metodológico profissional (eficiência), mas, ao mesmo tempo que está comprometida com a vida social e política de todos os cidadãos.







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