Cipriano Luckesi
ccluckesi@gmail.com
No
texto anterior deste blog, abordei a questão de como nosso sistema nervoso
central se serve da rede de fibras nervosas do nosso corpo, assim como das
conexões entre os seus neurônios, para receber informações, processá-las e
comandar soluções, de modo intermitente.
No
texto que se segue, desejo sinalizar como, em nossas ações, cotidianamente e de
maneira habitual, agimos de modo semelhante, contudo, quando passamos para
ações no âmbito profissional, os atos avaliativos podem e devem ganhar, de modo
casado, as formas sucessiva e pontual.
No
dia a dia, todos nós agimos comumente, sem estarmos atentos ao fato de que
todos os nossos atos são precedidos de um ato avaliativo. A seguir, ofereço exemplos
de algumas práticas avaliativas cotidianas, exclusivamente para ficarmos
cientes de que o ato avaliativo precede todas as nossas escolhas e, pois, nossas
ações.
De
manhã, em frente ao espelho, investigamos a qualidade de nossa aparência e, em
consequência, tomamos variadas, rápidas e sucessivas decisões. Decidimos melhorar
a aparência de nosso rosto, de nosso penteado, da roupa que vestimos.... Fora
do espelho, avaliamos os sapatos que calçamos, sua combinação com todas as
peças de roupas que vestimos, sua adequação ao ambiente para onde nos
dirigiremos, seu conforto.... Enfim, mesmo sem prestarmos atenção a esses modos
de agir, estamos, de modo habitual, e de algum modo inconsciente, praticando
atos avaliativos e fazendo uso dos seus resultados, na perspectiva de obter
melhores e m ais significativos resultados.
O
leitor, por si mesmo, poderá prestar atenção aos seus atos cotidianos e constatar
que atos avaliativos são praticados a todos os momentos, colados ao nosso viver
cotidiano. Afinal, em síntese, não agimos, sem que nossos atos sejam precedidos
de um ato avaliativo, sempre na perspectiva de tomar a decisão e o consequente
encaminhamento na perspectiva de obter o melhor resultado. No caso, repetimos a
prática avaliativa do nosso sistema orgânico, em torno do qual tecemos observações
no texto anterior deste blog.
Então,
o ato avaliar, que representa um dos três atos universais do ser humano [tema anteriormente
tratado neste blog: (01) investigar o que é e como funciona a realidade, (02) investigar
a qualidade da realidade, (03) agir como base nas duas formas de conhecimento],
além de ser utilizado espontaneamente, pode e necessita ser utilizado de forma
consciente e metodologicamente orientado.
Então,
existem duas possibilidades: (a) praticar a avaliação de modo sucessivo e (b) praticar
a avaliação em momentos pontuais da ação.
A “pratica
sucessiva” é aquela que é realizada constantemente no percurso de uma ação ---
contudo, de forma consciente ---, tendo em vista constatar a qualidade dos
resultados que estão sendo obtidos e, no caso, se necessário, proceder intervenções
corretivas na ação, cujo objetivo é a busca do resultado satisfatório desejado.
A “prática
pontual” da avaliação é aquela que é praticada ao final de um percurso de ação,
tendo em vista classificar o seu resultado ou ainda --- além de classificá-lo
--- aprová-lo/reprová-lo.
As práticas sucessiva e pontual da investigação avaliativa são realizadas tendo como base os princípios da lógica formal (princípio de identidade - "a = a"; princípio de contradição - "a não pode ser não-a"; e princípio do terceiro excluído - "entre 'a' e 'não-a', não existe outra possibilidade), ou seja, "um objeto de investigação de cada vez", daí ela ter as características de sucessiva (vezes sucessivas, mas uma por vez) e pontual (uma só vez).
As práticas sucessiva e pontual da investigação avaliativa são realizadas tendo como base os princípios da lógica formal (princípio de identidade - "a = a"; princípio de contradição - "a não pode ser não-a"; e princípio do terceiro excluído - "entre 'a' e 'não-a', não existe outra possibilidade), ou seja, "um objeto de investigação de cada vez", daí ela ter as características de sucessiva (vezes sucessivas, mas uma por vez) e pontual (uma só vez).
Transitando
dessas compreensões gerais sobre avaliação para a compreensão da avaliação no
âmbito do ensino-aprendizagem escolar, a “prática sucessiva” é aquela que o
educador, em múltiplos e sucessivos momentos de sua ação pedagógica, realiza investigações
avaliativas a respeito dos resultados de sua ação pedagógica, que é expressa
pela aprendizagem dos estudantes.
Por
exemplo:
(a) no início do tratamento de um tema
novo em sala de aula, com o objetivo de ter consciência de quantos de seus
estudantes já tem domínio no assunto a ser tratado;
(b) no decurso de um horário de
aula, tendo em vista aquilatar as compreensões (ou não) que os estudantes estão
adquirindo do conteúdo abordado;
(c) ao final de um horário de aula,
para aquilatar o quanto os estudantes se aproximaram da compreensão necessária
do conteúdo trabalhado;
(d) no início de um horário de aula
subsequente, com o objetivo de constara a qualidade da apropriação do conteúdo trabalhado
anteriormente;
(e) após o encerramento do
tratamento de um determinado conteúdo, tendo em vista aquilatar como está o
desempenho dos estudantes a respeito do tema, cujo tratamento se encerrou.
Essas entre outras possibilidades.
Atos
sucessivos de avaliação subsidiam o educador a diagnosticar e intervir mais, e
mais, tendo em vista garantir que todos os estudantes tenham aprendido o
conteúdo ensinado.
Então,
a avaliação será a “parceira” do educador, a lhe sinalizar, de modo sucessivo, a
qualidade dos resultados de sua ação, o que implica em tomadas de decisão de investir
mais, e mais, em caso de necessidade, ou prosseguir para novas tarefas, desde que
a anterior já produziu resultados com a qualidade desejada.
A “prática
pontual” se dará em momentos específicos da ação pedagógica, usualmente ao seu final,
desde que tem por destino proceder a “classificação” dos resultados, tendo por
base a qualidade atingida. No caso do estudante, a qualidade de sua
aprendizagem, manifestada através de seu desempenho em uma tarefa ou em um
teste para verificar conhecimentos e habilidades adquiridos.
Casando
a “prática sucessiva” com a “prática pontual”, observaremos que a primeira
subsidia o educador a chegar ao final de sua ação com resultados de
aprendizagem qualitativamente satisfatórios, desde que as decisões de
intervenção corretiva foram sendo realizadas ao longo do percurso da ação
pedagógica. Por outro lado, se a qualidade do resultado da aprendizagem dos
estudantes foi sendo construído ao longo de uma unidade de ensino, será natural
que, “pontualmente”, ao seu final, eles (todos) apresentem resultados satisfatórios,
permitindo sua classificação no topo da escala de qualidades, e, pois, uma
qualidade probatória positiva.
Desse
modo, nós educadores necessitamos incorporar em nosso modo de agir pedagógico
cotidiano, que as práticas “sucessivas” e “pontuais” --- “casadas” --- da
avaliação da aprendizagem em sala de aula. Elas não se opõem nem se excluem; se
somam. Importa servirmo-nos das duas da forma mais criativa possível, a fim de
que “todos” os nossos estudantes efetivamente aprendam o necessário.
Dessa
forma, estaremos contribuindo para a democratização da sociedade, via a
educação escolar. Hoje, a cada cinco milhões de estudantes que ingressam na 1ª
série do Ensino Fundamental, dezesseis anos depois, somente um milhão obtém um
diploma universitário, ou seja, quatro milhões de estudantes (= 80% deles) são
ceifados por variadas razões, mas especialmente em decorrência das múltiplas e
sucessivas não- aprendizagens e, consequentes, reprovações.
É
certo que não temos em nossas mãos “individuais” a possibilidade de reverter
políticas públicas (nesse âmbito, só podemos atuar “coletivamente”), contudo,
em nossa sala de aula, somos autônomos para investir mais, e mais, a fim de que
todos os nossos estudantes aprendam e, com isso, tenham recursos para inserir-se
nos mais variados processos de democratização social. Sucesso para nós todos em
nossas salas de aula.
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