sexta-feira, 14 de novembro de 2014

76 - Avaliação da aprendizagem e atitude proativa I --- da necessidade de uma atitude proativa em avaliação da aprendizagem


Cipriano Luckesi

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OBS - Os artigos  76; 77; 78 e 79 tem uma sequência de conteúdos sobre atitude proativa em avaliação da aprendizagem. Ler na ordem crescente, de 76 para 79.
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Atuo no âmbito da avaliação da aprendizagem há muitos anos, como também na área da educação em geral. Tem me chamado a atenção o tempo que demoramos para atingirmos um novo padrão de conduta nessa área.

Iniciei a estudar essa área de conhecimentos e de prática pedagógica, quando era estudante universitário, no final dos anos 1960. De lá para cá, passaram-se um pouco mais de quarenta anos. Mudamos bastante a compreensão sobre essa prática na educação escolar, mas mudamos pouco na prática do cotidiano em nossas escolas. Seminários, simpósios, congressos, revistas, livros, tem trazido a todos nós possibilidades de compreender avaliação da aprendizagem de uma forma adequada. A esperança era de que, em compreendendo, passássemos à ação.

Temos compreendido essa fenomenologia de um modo melhor e mais adequado do que no passado. Todavia, a prática ainda permanece prisioneira daquilo que vem se denominando de educação tradicional, que contém hábitos e distorções históricas que se acumularam nos últimos quinhentos anos de educação escolar, mais por determinações do senso comum do que por concepções pedagógicas consistentemente configuradas.

Por “senso comum” compreendo os hábitos nascidos de uma prática repetida, quase que ao infinito, por gerações, sem que se desenvolvesse um senso crítico sobre esse fenômeno que denominamos de avaliação da aprendizagem escolar.

Na Ratio Studiorum, documento que contém as normas e as compreensões sobre educação no seio da Companhia dos Padres Jesuítas, publicado em 1599, consta que os exames escolares deveriam ocorrer ao final do ano letivo, tendo em vista promover, ou não, os estudantes para a classe subsequente.

Durante o ano escolar, o professor deveria acompanhar os estudantes e fazer anotações em sua Pauta (hoje, seria denominada Caderneta do Professor) sobre cada estudante. Para a promoção de uma classe para a outra, a Banca Examinadora deveria levar em conta tanto os resultados dos exames escolares como as anotações contidas na Pauta do Professor. Os exames escolares, escritos e orais, eram da responsabilidade de uma Banca Examinadora, constituída pelo administrador acadêmico da escola [= Prefeito de Estudos] e mais dois outros professores, de outras escolas; já a Pauta do Professor era de responsabilidade do professor que acompanhava a turma de estudantes durante o ano letivo.

Com os passar dos anos, os exames escolares invadiram o espaço do “acompanhamento” dos estudantes, permanecendo os sucessivos exames e praticamente nenhum acompanhamento. Nos anos 1950 e 1960, no Brasil, usualmente, os estudantes eram submetidos às provas mensais e mais as provas semestrais (meio do ano letivo) e mais as provas finais (final do ano letivo). Hoje, os exames em nossas escolas, usualmente, são bimestrais. Afinal, os exames sucessivos substituíram o acompanhamento e, nós, pelo senso comum pedagógico, nem nos perguntamos sobre o significado dessa prática. Um senso comum pragmático tomou conta de nossas práticas. Gerações passadas “fizeram assim, também nós fazemos” ou “o que aconteceu comigo deve acontecer com os meus estudantes”,...
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Fico a pensar que, hoje, estamos devendo à educação escolar e aos estudantes em nossas escolas uma mudança de rumos. Uma conduta proativa visando integrar o que pode ter de significativo nos exames escolares, mas especialmente ultrapassando-os, deixando-os no passado no que se refere à prática escolar. Os exames escolares podem e devem continuar a ser utilizados nos concursos públicos. Estes são seletivos e, por isso, devem desaparecer da sala de aula, que, por si, deve ser inclusiva. Os estudantes, que se encontram numa sala de aula, vieram para aprender e não para conquistar uma vaga. A vaga, eles já a têm; só importa aprender.

Não basta uma compreensão nova sobre avaliação da aprendizagem, importa uma ação nova. E esta, no caso que vimos abordando neste blog, será o ato de transitar do ato de examinar para o ato de avaliar a aprendizagem em nossas escolas.

A avaliação será, então, nossa parceira na busca do sucesso de todos os nossos educandos em suas aprendizagens. O ato de avaliar não aprova nem reprova, avalia, ou seja, investiga a qualidade da aprendizagem dos educandos, tendo em vista, se necessário, proceder novas intervenções, tendo em vista a obtenção dos resultados desejados, isto é, resultados satisfatórios.

No cotidiano de nossas vidas, em nossas ações diárias, nós nos servimos permanentemente da avaliação para atingirmos os objetivos que traçamos. Só na prática educativa escolar não utilizamos a avaliação como recurso de sucesso. Está na hora de sermos proativos e darmos uma chance às novas compreensões que temos estabelecidos sobre avaliação da aprendizagem na escola.

Importa passarmos da teoria à prática. Então, amanhã, em nossas atividades escolares, vamos investir --- entre outras condutas novas de que o ensino está necessitando --- na avaliação da aprendizagem.

Sobre os conceitos e recursos metodológicos para praticar a avaliação da aprendizagem, o leitor poderá contar com todos os textos desse blog, assim como com meus livros, publicados pela Cortez Editora, São Paulo: Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições (22a edição, 2012); Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico (2011); Sobre notas escolares: distúrbios e possibilidades (2014). E, ainda pode contar com o site  --- http://www.luckesi.com.br






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