Cipriano Luckesi
_________________________________________________________________________________
OBS - Os artigos 76; 77; 78 e 79 tem uma sequência de conteúdos sobre atitude proativa em avaliação da aprendizagem. Ler na ordem crescente, de 76 para 79.
______________________________________________________
OBS - Os artigos 76; 77; 78 e 79 tem uma sequência de conteúdos sobre atitude proativa em avaliação da aprendizagem. Ler na ordem crescente, de 76 para 79.
______________________________________________________
Este é o terceiro post da série
sobre “atitude proativa do educador em torno da prática da avaliação da
aprendizagem”.
Sinalizo, de início, que, para
que a avaliação da aprendizagem seja efetiva, importa não só considerar o
desempenho do estudante sob a ótica individual (se ele aprendeu ou não
satisfatoriamente), mas também sob a ótica coletiva, do sistema de ensino.
Até os anos 1980, não só no
Brasil, mas também em variadas partes do mundo, se considerava que o único
responsável pelo fracasso escolar, acadêmico, era do estudante. A partir dessa
década, expandiu-se a compreensão de que também o sistema fracassa, à medida
que ele é o gestor do ensino e, por isso, está comprometido com essa tarefa.
Afinal, ele é o responsável pela proposição e execução do ensino. Se o executor
não cuida suficientemente bem da qualidade de sua ação, os resultados
efetivamente não podem ser positivos.
Então, nesse contexto emergiram
as avaliações denominadas de larga escala, cujo objetivo é detectar a
satisfatoriedade ou insatisfatoriedade do sistema de ensino em cumprir o que
promete, isto é, que ele ensina e que os estudantes aprendem.
Foi em função desse movimento
que, no Brasil, a partir do final dos anos 1980 (com alguns ensaios anteriores,
como o PARU – Programa de Avaliação da Reforma Universitária e o PAIUB –
Programa de Avaliação Institucional da Universidade Brasileira), foi se
estabelecendo um sistema nacional de avaliação de larga escala, onde o
estudante individual oferece as informações (afinal, ele expressa, como aprendiz,
a capacidade do sistema de ensinar) para que se possa aquilatar a qualidade do
sistema de ensino em seu papel específico.
Como esse fato pode caracterizar
e contribuir para a proatividade de um educador individual? Vejamos.
Vale a pena compreender que o
sistema de ensino, em sua complexidade, se inicia nas decisões das políticas
públicas do governo federal, com todo seu staff (Presidência, Ministérios,
Congresso Nacional), prossegue nas decisões das políticas públicas dos governos
estaduais, com seu respectivo staff, e prossegue ainda nas decisões das políticas
públicas municipais, com seu staff, como também nas decisões das instituições escolares,
com seu staff, e, finalmente na turma de estudante, da qual o educador
individual é o líder. Então, o sistema de ensino, na direção hierárquica, de
cima para baixo se encerra no professor em sala de aula e, de baixo para cima,
se inicia na sua turma de estudantes.
N caso, avaliar o desempenho da
turma de estudante é uma atividade que se encontra no primeiro degrau da
avaliação de larga escala, ou seja, estar-se-á a perguntar se a atuação do
educador como o primeiro profissional na escala hierárquica ascendente do
sistema de ensino, e seu representante nesse nível, está sendo eficiente ou
não. E, importa evidentemente, que ele seja eficiente. A única forma de saber
se ele está sendo eficiente é investigar a qualidade de sua atuação através do desempenho
dos estudantes com os quais ele trabalha. O desempenho da turma de estudante revela
a qualidade do desempenho do educador em sala de aula.
Pode ser uma prática de avaliação
bem simples, mas que indica a sua eficiência ou não, tal como uma escala de
aproveitamento dos estudantes de uma determinada turma.
Vamos supor que temos uma turma
de 45 estudantes e que os registros de aproveitamento sejam feitos por “notas escolares”
(poderá ser feito por outros recursos de registros, como conceitos, letras ou adjetivos).
A curva de aproveitamento mais simples possível é: “quantos estudantes obtiveram
nota 10”, quantos obtiveram nota 9”, “quantos obtiveram nota 8” e assim por
diante numa escala descendente até a nota zero.
Se nessa escala, 40 estudantes
tiverem obtido notas entre 8 e 10, poder-se-á dizer que a maioria dos seus
estudantes está aprendendo o suficiente, mas 5 deles estão necessitando de
novas ajudas, tendo em vista chagarem ao desempenho necessário.
Agora, vamos supor o contrário, 5
estudantes dessa turma obtiveram resultados 8, 9 e 10; e 40 deles obtiveram resultados
inferiores à nota 5. Nesse caso, o sistema de ensino estará se revelando
ineficiente --- pois diz que ensina, mas somente 20% dos estudantes estão manifestando
ter aprendido o necessário.
A proporção entre aqueles que
aprenderam e os que não aprenderam o suficiente variará em cada turma, contudo
será um termômetro para indicar se, esse nível do sistema de ensino está sendo
eficiente ou não. E, no caso, o educador em sala de aula, como representante do
sistema na sala de aula, está no centro de atenção. Ele está sendo eficiente ou
não?
Se o resultado da avaliação,
indicar que não está sendo eficiente, não necessita ser julgado e massacrado
nem por si mesmo, nem pelos pares nem pela direção da escola. Haverá sim que
investigar o que está ocorrendo para que essa turma de estudante não esteja
aprendendo o que deveria aprender.
A razão pode estar na estrutura
física ou administrativa da escola, pode estar no material didático utilizado,
pode estar na metodologia utilizada pelo professor, pode estar no próprio modo
de ser do professor ou em todas essas variáveis no seu conjunto.
São muitas as razões que podem
estar como causa da insatisfatoriedade de desempenho de uma turma. A curva de
aproveitamento, acima sugerida, indica, de modo inicial, se a turma está
aprendendo o que deveria aprender, ou não; a seguir, importa aprofundar a
investigação e descobrir onde está o impasse, que, por si, deve ser superado se
se deseja eficiência no ensino. A exclusiva função da avaliação é ser parceira
do gestor de qualquer atividade na busca da eficiência.
Só se poderá encontrar um caminho
satisfatório para a eficiência do ensino numa turma de estudantes, dentro de
uma escola, se se praticar uma avaliação do desempenho da turma. Mas, indo um
pouco além: se se praticar a avaliação por turma “em todas as turmas” de uma determinada
escola. Então, ter-se-á uma avaliação da escola inteira em sua eficiência, sob
a liderança de um diretor de escola e seu staff. Não se pode esquecer que a
eficiência de uma escola depende da capacidade do gestor de liderar essa instituição
para a eficiência (abordaremos isso num próximo post).
A avaliação do desempenho da
turma de estudantes, regida por cada professor, é mais um modo de ser proativo
em avaliação da aprendizagem, o que implica em abandonar a compreensão de que o
responsável pelo fracasso escolar é o estudante individual.
O objetivo será sempre, que “todos
aprendam o necessário” e, para tanto, o sistema de ensino, cujo último elo
descendente é o professor (depois dele, só existe o sistema aprendente, representado
pelo estudante), necessita iniciar a se avaliar a partir desse ponto.
Em síntese, um educador proativo
em avaliação da aprendizagem estará atento não só a um ou outro estudante de
sua turma, tomado individualmente, mas a todos eles, pois que todos vieram à
escola para aprender e, por isso, devem aprender.
Para tanto, o educador deverá
lançar mão dos recursos próprios da avaliação da aprendizagem, como vem sendo
trabalhado em sucessivos “posts” deste blog, como, por exemplo, no último (de
número-guia 76 (04).
Sempre será absurdo afirmar que “um
bom professor ou uma boa escola é aquele ou aquela que reprova bastante”. Como um
profissional ou uma instituição pode ser aquilatado ou aquilatada de eficiente
se não produz o resultado que promete produzir? Contudo, infelizmente, no senso
comum social, por múltiplas vezes, é assim que se pensa. De fato, bom professor
ou boa escola é aquele ou aquela onde os estudantes efetivamente aprendem o que
necessitam de aprender.
A avaliação do desempenho de uma
turma de estudante é um termômetro necessário para se iniciar a ter uma noção
da eficiência do sistema de ensino.
Então, cuidar da avaliação da
turma de estudante --- e usar os seus resultados para a melhoria do seu desempenho
--- é uma forma essencial e necessária de uma postura proativa do educador que
já conseguiu --- ou está conseguindo --- transitar da prática dos exames
escolares para a avaliação.
================================================
Nenhum comentário:
Postar um comentário