quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

89 - O que é “ser rígido --- ou exigente ---- na educação escolar”?


Cipriano Luckesi

(OBS - Tratando da avaliação da aprendizagem e disciplina comportamental).


Aqui e acolá, ouço essa expressão: “Como professor, eu sou exigente com meus alunos. Quero que eles aprendam, por isso...”. 

Também ouço: “Esta escola é exigente com seus estudantes, por isso, eles se esforçam nos estudos...”.

Assistindo um telejornal, que trazia uma matéria sobre educadores escolares no Brasil, novamente ouvi o depoimento de um professor, considerado um bom professor, que dizia: “Sou exigente com os estudantes. Eles têm que aprender tudo certo...”

Essa expressão “sou exigente” deve ser esclarecida conceitualmente. O “ser exigente”, no uso cotidiano, é entendido como rígido, autoritário, disciplinador.

No entanto, fico a pensar que todo educador deveria ser exigente em relação ao resultado a ser atingido por seu exercício profissional, ou seja, que todos os estudantes, por ele liderados, numa sala de aula, aprendam efetivamente o que necessitam aprender. Esse desejo e a dedicação, para que os resultados da ação pedagógica sejam alcançados como deveriam sê-lo, não têm nada a ver com “rígido, autoritário, disciplinador”.

Tem a ver, sim, com o investimento do educador, seja no que se refere a sua capacitação em relação aos conteúdos que ensina, seja sua capacitação nos recursos metodológicos que utiliza, para que o estudante efetivamente aprenda o que necessita aprender.

Então, “ser exigente na prática pedagógica escolar” significa, no dia a dia da relação com os educandos, investir o que for necessário para que todos aprendam os conteúdos ensinados (sejam informações, procedimentos ou atitudes).

Isso significa que o educador é exigente no que se refere à qualidade do seu próprio exercício profissional e que só se dá por satisfeito quando todos os seus estudantes aprenderam o que deveriam ter aprendido. Enquanto não aprenderam o que deveriam ter aprendido, o educador continua sendo exigente na busca do resultado desejado, isto é, investindo mais... e investindo mais...

Caso não se compreenda dessa forma a expressão “ser exigente na prática pedagógica escolar”, continuaremos a afirmar que o único responsável pelo fracasso escolar é o educando. E, creio  eu, já é tempo para abrirmos mão dessa postura.

Desde os anos 1980, o mundo descobriu e passou a entender que o sistema escolar é o responsável pela qualidade do ensino. No Brasil, temos o Saeb, a Prova Brasil, Enem, Enad, Ided, como instâncias postas para investigar e revelar a qualidade do sistema de ensino. O que falta para nós educadores, que atuamos na escola, entendermos que somos parte do sistema ensinante (sistema de ensino, responsável pelo ensino) e não do sistema aprendente (estudantes, aprendizes)?

O convite, aqui posto, é para que:

01.   abramos mão da compreensão de senso comum de que “ser exigente é ser rígido com o outro” e, aqui, no caso, com  os estudantes;

02.   e passemos a compreender que “ser exigente na prática pedagógica escolar --- como em qualquer outra atividade profissional --- significa investir o necessário para que os resultados da ação sejam compatíveis com os pré-estabelecidos e desejados”.






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