Cipriano Luckesi
(OBS - Ver os 'posts' 89 e 90 deste blog, que tratam do mesmo tema)
Em conferências, simpósios, seminários, ouço a argumentação de que há um lado do professor, professora, e há outro lado, que é do estudante. Certíssimo!
Não se deve ter dúvida de que há
o lado do estudante, assim como o nosso de educadores, e, para compreender
isso, importa retomar alguns pontos:
- tanto o educador como o educando têm uma estrutura psicofísica, que inclui todo o sistema neural constituído, de um lado, pela filogênese (constituição neurobiológica, ao longo de milhares e milhares de anos, que nos permitem todas as ações programadas e instintivas), e, de outro lado, pela ontogênese (nossa biografia pessoal constituída por todas as experiências e acontecimentos em nossa vida pessoal e relações com o mundo e com os outros, que, afim, culmina em nossa individualidade)
- tanto pela filogênese como pela ontogênese, formamos --- entre outros componentes --- recursos de sobrevivência. Isso significa que buscamos um espaço material e psicológico continente, seguro, amistoso, viável para a vida; e, para o que, também nos defendemos de toda a qualquer ameaça à vida;
- em nosso cérebro, temos um segmento denominado “amigdala cerebral” (que tem essa denominação em função ter a forma de uma amêndoa, ”amígdala” na língua grega), responsável por nos alertar diante de qualquer ameaça e nos permitir o repouso quando em segurança;
- na relações com o mundo e nas relações interpessoais, nossas amigdalas cerebrais (são duas, uma em cada hemisfério cerebral) estão sempre em alerta, a fim de evitar que sejamos submetidos à situações que possam parecer ameaçadoras;
- em função disso, nossas amígdalas --- que não raciocinam, mas, automaticamente, reagem a qualquer situação que possa parecer ameaçadora --- nos conduzem, por vezes, a ter reações intempestivas frente a certas situações que “se parecem”, com situações do passado, que nos foram desagradáveis; antes que elas ocorram novamente, reagimos.
- o recurso das amigdalas existe tanto nos educandos quanto nos educadores.
É com essa estrutura que, tanto
nós educadores quanto nossos educandos, vamos para a sala de aula. E, ambos
reagimos a determinadas circunstâncias que emergem nas relações como sendo ameaçadoras
ou seguras. Quando verdadeiramente ou aparentemente ameaçadoras, reagimos
intempestivamente, sem muito raciocinar sobre o que está ocorrendo.
Nesse contexto, necessitamos de
pensar e entender que nós, os educadores escolares (mas, também os educadores não-escolares)
como adultos e responsáveis pela
relação pedagógica, necessitamos, muito mais que nossos educandos, estarmos
atentos às nossas reações intempestivas, pois que elas certamente não nos
ajudarão na relação pedagógica nem na orientação da aprendizagem dos nossos
educandos.
Então, o educador e a educadora
necessitam compreender e assumir que são os
adultos da relação pedagógica, o que significa que são eles que dão “o tom
à prática pedagógica em andamento”.
Se estiverem tristes, suas aulas
serão tristes; se estiverem alegres, suas aulas serão alegres; se estiverem aborrecidos,
os estados emocionais de todos estarão exacerbados. O educador, é o líder da
sala de aula. “Líder” não é aquele que manda, e sim aquele que dá o tom.
Se tom do que se ensina for
importante, os estudantes compreenderão sua importância; se o que se ensina for
apresentado com alegria, a aprendizagem será alegre; se o olho do educador “brilhar”
por determinado conteúdo, os olhos dos seus educandos também brilharão. Se o
tom for ameaçador, os estudantes assumirão o tom de defesa, pois que, em primeiro lugar, está a
sobrevivência, seja em que variável for.
Nesse caso, “ser exigente”
representará “como líder, ser capaz de administrar a sala de aula para que todos
aprendam; e aprendam bem”.
Essa compreensão não significa atulhar
o educador de responsabilidades; somente assumir a responsabilidade que lhe pertence:
“ser o adulto da relação pedagógica”, o líder que convida e orienta todos os
educandos para a aprendizagem necessária.
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