segunda-feira, 30 de novembro de 2015

96. COMO O CÉREBRO EVOLUIU E A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM


No texto anterior, abordei a questão do cérebro trino e a necessidade de, via ensino e aprendizagens, associar cada vez mais límbico (setor emocional do sistema nervoso) com o neocórtex (seu setor racional), a fim de que possamos unir cada vez mais as duas qualidades --- afeto e razão ---, tendo em vista garantir uma vida mais saudável à humanidade e a nós todos.


Esse será o caminho para compreendermos que, acima de nacionalidades, culturas, religiões está o fato de que, universalmente, somos todos seres humanos. É importante que pertençamos aos variados grupos humanos --- nacionalidade, etnia, cultura, religião ---, porém, para além as distinções, está o fato universal de que somos todos seres humanos e, dessa forma somos iguais e unos. Ninguém melhor nem pior, nem acima nem abaixo, todos humanos.

O texto que se segue foi transcrito do livro Inteligencia emocional, da autoria de Daniel Goleman, Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 51ª edição, páginas 24-26. Um aperitivo para que cada um adentre na leitura da obra inteira, do início ao seu final.

O texto sinaliza, sinteticamente, o percurso evolutivo do nosso sistema nervoso e deixa clara a necessidade da articulação entre límbico e neocórtex, a fim de que, com as contribuições desses segmentos cerebrais, possamos conviver inteligentemente (= saudavelmente) conosco mesmos, com os outros e com o ambiente.

A educação, em todas as suas modalidades, é o caminho para esse projeto. Vamos ao texto de Goleman, que trata de “Como o cérebro evoluiu”.


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“Para melhor entender o enorme domínio das emoções sobre a razão — e por que sentimento e razão entram tão prontamente em guerra — vejamos como o cérebro evoluiu. O cérebro humano, com um pouco mais de um quilo de células e humores neurais, é três vezes maior que o dos nossos primos ancestrais, os primatas não-humanos. Ao longo de milhões de anos de evolução, o cérebro cresceu de baixo para cima, os centros superiores desenvolvendo-se como elaborações das partes inferiores, mais antigas. (O crescimento do cérebro no embrião humano refaz mais ou menos esse percurso evolucionário.)

“A parte mais primitiva do cérebro, partilhada por todas as espécies que têm mais de um sistema nervoso mínimo, é o tronco cerebral em volta do topo da medula espinhal. Esse cérebro-raiz regula funções vitais básicas, como a respiração e o metabolismo dos outros órgãos do corpo, e também controla reações e movimentos estereotipados. Não se pode dizer que esse cérebro primitivo pense
ou aprenda; ao contrário, ele se constitui num conjunto de reguladores pré-gramados que mantêm o funcionamento do corpo como deve e reage de modo a assegurar a sobrevivência. Esse cérebro reinou supremo na Era dos Répteis: imaginem o sibilar de uma serpente comunicando a ameaça de um ataque.


“Da mais primitiva raiz, o tronco cerebral, surgiram os centro emocionais. Milhões de anos depois, na evolução dessas áreas emocionais, desenvolveu-se o cérebro pensante, ou “neocortex”, o grande bulbo de tecidos ondulados que forma as camadas superiores. O fato de o cérebro pensante ter se desenvolvido a partir das emoções muito revela acerca da relação entre razão e sentimento; existiu um cérebro emocional muito antes do surgimento do cérebro racional.


“A mais antiga raiz de nossa vida emocional está no sentido do olfato, ou, mais precisamente, no lobo olfativo, células que absorvem e analisam o cheiro. Toda entidade viva, seja nutritiva, venenosa, parceiro sexual, predador ou presa, tem uma assinatura molecular distintiva que o vento transporta. Naqueles tempos primitivos, o olfato apresentava-se como um sentido supremo para a sobrevivência.


“Do lobo olfativo, começaram a evoluir os antigos centros de emoção, que acabaram tomando-se suficientemente grandes para envolver o topo do tronco cerebral. Em seus estágios rudimentares, o centro olfativo compunha-se de pouco mais de ténues camadas de neurônios reunidos para analisar o cheiro. Uma camada de células recebia o que era cheirado e o classificava em categorias relevantes: comestível ou tóxico, sexualmente acessível, inimigo ou comida. Uma segunda camada de células enviava mensagens reflexivas a todo o sistema nervoso, dizendo ao corpo o que fazer: morder, cuspir, abordar, fugir, caçar.


Com o advento dos primeiros mamíferos, vieram novas camadas, chave do cérebro emocional. Estas, em torno do tronco cerebral, lembravam um pouco um pastel com um pedaço mordido embaixo, no lugar onde se encaixa o tronco cerebral. Como essa parte do cérebro cerca o tronco cerebral e limita-se com ele, era chamada de sistema "límbico", de Umbus, palavra latina que significa "orla". Esse novo território neural acrescentou emoções propriamente ditas ao repertório do cérebro. Quando estamos sob o domínio de anseios ou fúria, perdidamente apaixonados ou transidos de pavor, é o sistema límbico que nos tem em seu poder.


“À medida que evoluía, o sistema límbico foi aperfeiçoando duas poderosas ferramentas: aprendizagem e .memória. Esses avanços revolucionários possibilitavam que um animal fosse muito mais esperto nas opções de sobrevivência e aprimorasse suas respostas para adaptar-se a exigências cambiantes, em vez de ter reações invariáveis e automáticas. Se uma comida causava doença, podia ser evitada da próxima vez. Decisões como saber o que comer e o que rejeitar ainda eram, em grande parte, determinadas pelo olfato; as ligações entre o bulbo olfativo e o sistema límbico assumiam agora as tarefas de estabelecer distinções entre cheiros e reconhecê-los, comparando um atual com outros passados e discriminando, assim, o bom do ruim. Isso era feito pelo “rinencéfalo", literalmente o "cérebro do nariz", uma parte da fiação límbica e a base rudimentar do neocórtex, o cérebro pensante. 


“Há cerca de 100 milhões de anos, o cérebro dos mamíferos deu um grande salto em termos de crescimento. Por cima do ténue córtex de duas camadas — as regiões que planejam, compreendem o que é sentido, coordenam o movimento —, acrescentaram-se novas camadas de células cerebrais, formando o neocórtex. Comparado com o antigo córtex de duas camadas, o neocórtex oferecia uma extraordinária vantagem intelectual. 


“O neocórtex do Homo sapiens, muito maior que o de qualquer outra espécie, acrescentou tudo o que é distintamente humano. O neocórtex é a sede do pensamento; contém os centros que reúnem e compreendem o que os sentidos percebem. Acrescenta a um sentimento o que pensamos dele — e permite que tenhamos sentimentos sobre ideias, arte, símbolos, imagens. 


“Na evolução, o neocórtex possibilitou um criterioso aprimoramento que, sem dúvida, trouxe enormes vantagens na capacidade de um organismo sobreviver à adversidade, tornando mais provável que sua progênie, por sua vez, passasse adiante os genes que contêm esses mesmos circuitos neurais. A vantagem para a sobrevivência deve-se ao dom do neocórtex de criar estratégias, planejar a longo prazo e outros artifícios mentais. Além disso, os triunfos da arte, civilização e cultura são todos frutos do neocórtex.


“Esse acréscimo ao cérebro introduziu novas nuanças à vida emocional. Vejam o amor. As estruturas límbicas geram sentimentos de prazer e desejo sexual, emoções que alimentam a paixão sexual. Mas a adição do neocórtex e suas ligações ao sistema límbico criaram a ligação mãe-filho, que é a base da unidade familiar e do compromisso, a longo prazo, com a criação dos filhos, o que torna possível o desenvolvimento humano. (Espécies que não têm neocórtex, como os répteis, carecem de afeição materna; quando saem do ovo, os recém-nascidos têm de se esconder para que não sejam canibalizados.) Nos seres humanos, é o instinto de proteção que os pais têm em relação aos filhos que vai assegurar a prossecução de grande parte do amadurecimento durante a infância, período em que o cérebro continua a se desenvolver.


“À medida que subimos na escala filogenética do réptil ao rhesus e ao ser humano, o volume do neocórtex aumenta; com esse aumento, ocorre um incremento de proporções gigantescas nas interligações dos circuitos cerebrais. Quanto maior o número dessas ligações, maior a gama de respostas possíveis. O neocórtex abriga a sutileza e complexidade da vida emocional, como a capacidade de ter sentimentos sobre nossos sentimentos. Há uma maior proporção de neocórtex para sistema límbico nos primatas que nas outras espécies — e imensamente mais nos seres humanos —, o que sugere que podemos exibir uma gama muito maior de reações às nossas emoções, e mais nuanças. Enquanto um coelho ou um rhesus possuem um repertório bastante restrito de respostas típicas para o medo, o neocórtex humano, maior, coloca à nossa disposição um repertório muito mais ágil — chamar a polícia, por exemplo. Quanto mais complexo o sistema social, mais essencial é essa flexibilidade — e não existe nenhuma forma de organização social mais complexa do que a nossa.


Mas esses centros superiores não controlam toda a vida emocional; nos problemas cruciais que dizem respeito ao coração e, mais especialmente, nas emergências emocionais, pode-se dizer que eles se submetem ao sistema límbico. Como tantos dos centros superiores se desenvolveram a partir do âmbito da região límbica, ou a ampliaram, o cérebro emocional desempenha uma função decisiva na arquitetura neural. Como raiz da qual surgiu o cérebro mais novo, as áreas emocionais entrelaçam-se, através de milhares de circuitos de ligação, com todas as partes do neocórtex. Isso dá aos centros emocionais imensos poderes de influenciar o funcionamento do resto do cérebro — incluindo seus centros de pensamento.”

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O texto é um convite para nosso investimento cotidiano na aprendizagem, desenvolvimento e formação de nossos educandos para que aprendam a integrar afeto e razão na compreensão, assim como na orientação e realização de suas ações cotidianas.



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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

95. O CÉREBRO TRINO, OS ESTADOS EMOCIONAIS E O FLUXO DA VIDA

Cipriano Luckesi

A evolução ofereceu ao ser humano recursos de entendimentos e de decisões a respeito, tendo em vista escolher a conduta tomar diante das circunstâncias do cotidiano. Com esse recurso poderíamos tomar as decisões mais adequadas e equalizadoras para o bem estar próprio e de todos.
Contudo, devido nossos sistema nervoso funcionar como um todo --- movimento, emoção e razão---, por muitas vezes, automaticamente, confundimos nossas decisões, respondendo às circunstâncias do presente mais por um do que, em equilíbrio, por todos os segmentos funcionais do nosso sistema nervoso, tanto em pequenas como em grandes decisões.
Para compreender isso, vamos tomar a teoria do cérebro trino, ainda que alguns neurologistas, como, por exemplo, Antônio Damásio, considerem que a melhor teoria sobre o sistema nervoso não é a que preconiza que nosso cérebro atua com três segmentos funcionais, mas sim que compreende o sistema nervoso sob a ótica distributiva, ou seja, os neurônios das diversas partes do cérebro podem responder a necessidades especificas e não necessariamente desse ou daquele segmento.
Mesmo com essa restrição, a teoria do cérebro trino nos auxilia a compreender como nossas decisões necessitam ser educadas, a fim que de que as funcionalidades do cérebro atuem de forma conjunta a favor da vida individual e coletiva.
A teoria do cérebro trino foi elaborada em 1970 pelo neurocientista Paul MacLean e tornada pública em 1990, através do seu livro “The triune brain in evolution: role in paleocerebral functions”. Assume que nós humanos temos o cérebro composto por três unidades funcionais, cada uma delas representando um extrato evolutivo do sistema nervoso entre os vertebrados.
Segundo esse autor, o cérebro humano está composto pelas unidades funcionais: reptiliano, límbico e neocortex.



A figura representa, respectivamente, os três segmentos funcionais do cérebro, medula e cerebelo, tronco cerebral, neocortex (nota 1)

O reptiliano é composto pela medula e pelo cerebelo e tem a função de ajudar o corpo a sobreviver e se manter. Isto é realizado através das funções autônomas do corpo, incluindo a digestão e a respiração; o tronco cerebral controla as respostas ao estresse, inclusive as respostas de "luta ou fuga". O comportamento do segmento reptiliano é automático e dificilmente é alterado. Entre os três segmentos cerebrais, esse é o mais antigo.

O límbico é o segundo estrato funcional do sistema nervoso, responsável por controlar o comportamento emocional dos indivíduos, daí o nome de cérebro emocional, ou seja, ele sedia nossos sentimentos e emoções, sejam positivos ou negativos. E, dessa forma, contribuem ou, de modo exclusivo, orientam nossas ações e reações.

Além de contar com os componentes do segmento reptiliano, anterior a ele na escala evolutiva, conta com os núcleos da base do telencéfalo e com o diencéfalo, este constituído pelo tálamo, hipotálamo e epitálamo; e, ainda, com giro do cíngulo, com o hipocampo e com o parahipocampo. Esse segmento se faz presente no cérebro da maioria dos mamíferos.
O neocortex é composto pelo córtex telencefálico e está dividido em lobos: frontal --- responsável pelas funções executivas; parietal --- responsável pelas sensações em geral; temporal --- responsável pela audição e pelo olfato; occipital --- responsável pela visão; insular --- responsável pelo paladar e gustação. O neocortex é o segmento que diferencia o ser humano dos demais animais.

Segundo Paul MacLean é apenas pela presença do neocortex que o ser humano consegue desenvolver o pensamento abstrato e tem capacidade de gerar invenções, assim como de projetar e tomar decisões. É responsável pela linguagem, incluindo a fala e a escrita, como também pelo pensamento lógico e organizado. O lobo frontal permite escolher, projetar e decidir como agir (nota 2).

As amigdalas cerebrais --- estudadas especialmente após os recursos de investigação por imagens, a partir dos anos 1980 ---, em número de duas, sediadas no hipocampo, segmento do tronco cerebral, nos dois hemisférios, são os segmentos responsáveis pelas reações emocionais, vinculadas ao medo. Em relação às experiências passadas negativas, elas atuam, independentes de nossas escolhas conscientes, “como a dizer” --- “Isso não acontecerá novamente” --- e, dessa forma, nos conduzem a reagir de modo automático e intempestivo às circunstâncias do presente.

Freud em finais do século XIX e inícios do XX, afirmou que uma reação emocional desproporcional à uma circunstância do presente, não é do presente, mas sim do passado; razão pela qual reagimos intempestivamente a algumas circunstâncias, que, ao nosso inconsciente, parecem ser as mesmas circunstâncias do passado. Ele considera que, nesse contexto, o inconsciente é atemporal. Passaram-se anos, contudo, a nova cena é tomada como sendo a mesma do passado, daí a reação intempestiva.

No caso, nossas experiências negativas passadas registradas em nossas amigdalas, como memórias dessas experiências, nos levam a reagir às circunstâncias do presente, como se fossem as mesmas circunstâncias do passado, que irão se repetir. Então, antes mesmo de observar se a experiência do presente é a mesma do passado (ou não), a reação vem automática e intempestiva, como se a presente circunstância fosse a antiga circunstância, que fora impactante e negativa; e que, por isso mesmo, não fora compreendida nem integrada na psique.

Daí, então, passamos a ter ciência de que muitas de nossas reações intempestivas e, por isso mesmo, aparentemente incompreensíveis, tem sua base no segmento límbico de nosso sistema cerebral. No cotidiano, dizemos que essas reações são “irracionais” devido não terem uma razão explícita para terem ocorrido da forma como ocorreram. Nessas circunstâncias somos “tomados” por esses estados emocionais, o que significa que não nos damos efetivamente conta do que está acontecendo. Reagimos.

Reações desse tipo ocorrem devido não se processar uma interação funcional entre o segmento límbico e o neocortex em nossa estrutura cerebral, de tal modo que uma escolha e uma decisão serena pudessem ser assumidas. Essas reações desproporcionais vêm... e nos tomam de surpresa; somos tomados por elas. Nem mesmo há tempo para a devida interação entre os dois segmentos funcionais do cérebro, que possibilitaria ponderações e uma consequente decisão consciente sobre como agir e o que fazer na circunstância que se tem pela frente. Essa decisão não seria demorada, mas “decisão em decorrência de uma escolha”; já a reação automática e intempestiva não tem escolha nem decisão; ela emerge.Foram feitos estudos sobre as possibilidades de relação entre as amígdalas cerebrais --- sediadas no hipocampo, tronco cerebral --- e o lobo frontal do nosso cérebro (nota 3).

Os comandos que partem do lobo frontal --- centro cerebral de ponderações, escolhas e decisões --- atravessam imensas dificuldades para chegar e “dialogar” com as amígdalas; contudo, as reações disparadas pelas amígdalas cerebrais nem mesmo chegam ao lobo frontal para análise e decisão, simplesmente produzem atuações automáticas e intempestivas em nosso modo de agir e estar no mundo.

Desse modo, muitas das nossas reações automáticas e intempestivas à uma circunstância qualquer do presente --- como lembra Freud ---, sendo desproporcionais à essa situação, estão vinculadas a experiências do passado, não compreendidas (“não elaboradas”, como se diz em linguagem psicoterapêutica) e, por isso mesmo, não integradas à psique de cada um de nós. Quando menos esperamos, elas nos tomam de assalto e suprimem nossas possibilidades de entendimento, escolha e decisão. Essas reações tem seu fundamento em nossa biografia.

Wilhelm Reich --- discípulo de Freud e criador da psicossomática, sabia perfeitamente disso, de tal forma que, em seu testamento, nos meados dos anos 1950, deixou seus bens para que se criasse uma Fundação dedicada às mães grávidas, às crianças, com o objetivos de “prevenir das neuroses futuras” (nota 4). 

A Fundação deveria estar voltada para o cuidado psicológico-educativo das mães e das suas crianças. Reich estava ciente de que a biografia de cada um de nós é determinante para nosso modo de estar na vida e no mundo. Cuidar da gravidez e da infância é cuidar do futuro, à medida que as marcas mais profundas de nossa personalidade estão vinculadas a fragmentos de memória predominante de nossa infância, ainda que não exclusivamente desse período de nossas vidas.

Diante dessa realidade psiconeurológica, o que fazer? De um lado, cuidar das mães para que efetivamente possam ser “mães de seus filhos”, prevenindo traumas da gravidez; cuidar da infância, a fim de que ela não seja traumatizada excessivamente, desde que por alguma experiência traumatizante todos os seres humanos terão passado ou passarão; de outro lado, cuidar de nós mesmos, já adultos, a fim de que nossas memórias --- sejam elas traumáticas ou incorporadas por experiências socioculturais, familiares, comunitárias, religiosas... --- não interfiram excessivamente em nosso cotidiano, nos dificultando a vida, assim como nossas relações com os outros e com o mundo.

Para isso, importa cuidados educativos, psicoterapêuticos, existenciais. Tarefa para pais, educadores, profissionais da saúde psíquica dos cidadãos, serviços sociais, comunitários, religiosos, que se coloquem à serviço da vida.

Nossa tarefa, através da maternidade, paternidade, educação, serviços sociais... é e será dar suporte para que crianças, adolescentes, adultos e idosos tenham a possibilidade de garantir que o tronco cerebral, predominantemente emocional, converse, interaja e se integre com o neocortex, predominantemente cognitivo e conceitual, de tal forma que nossas ações sejam compatíveis com nossas necessidades individuais, coletivas e ambientais.
Então, a vida seguirá o seu fluxo de modo mais compatível com nossos anseios e nossas necessidades.




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Nota
(1) Figura obtida em http://bio-neuro-psicologia.usuarios.rdc.puc-rio.br/tronco.html, acesso em 16/11/2015.
(2) As informações sobre os três segmentos cerebrais --- reptiliano, límbico e neocortex --- foram obtidas em https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_c%C3%A9rebro_trino, porém, acrescidas de novas observações.
(3) Sobre esses estudos ver Joseph LeDoux, O cérebro emocional, Rio de Janeiro, Ed. Objetiva; Daniel Goleman, Inteligência emocional, Rio de Janeiro, Ed. Objetiva.
(4) Ver David Boadella, Nos Caminhos de Reich, São Paulo, Summus Editorial, 1985. Um excelente livro sobre Reich; é a expressão da gratidão de David Boadella a Reich.