sexta-feira, 9 de junho de 2017

121- ENSINO, AVALIAÇÃO E DEMOCRATIZAÇÃO SOCIAL

Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com



INTRODUÇÃO



Pretendo, neste texto, tratar da questão do nosso investimento de educadores regulares na democratização social através de nossos cotidianos atos de ensinar estudantes sob nossa reponsabilidade no cotidiano escolar. Parto, (01) da compreensão da força que nós educadores temos em mãos, como mediadores no processo de aprendizagem e desenvolvimento dos nossos estudantes, na perspectiva de estamos investindo na democratização social; passo, a seguir, (02) para uma compreensão de recursos para uma prática pedagógica consistente, onde professor ensina e estudante aprende; prossigo, (03) lembrando das posturas necessárias de nós educadores no investimento na aprendizagem dos nossos educandos; e, por último, (04) abordo a avaliação nas práticas educativas escolares como nossa parceira na conquista do sucesso em nossa atividade, contribuindo dessa forma para a democratização social.

Certamente que é um projeto de longo alcance, em termos de tempo, desde que na história e na construção de significativas mudanças a demanda de tempo sempre se faz presente. Nossos investimentos não produzirão modificações na vida humana amanhã, em termos de dias, mas será significativa no amanhã em termos de futuro.



01 - CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM PARA A DEMOCRATIZAÇÃO SOCIAL


Democratização social significa que todos os cidadãos podem participar, em situação de igualdade, da vida individual e coletiva. Para que isso ocorra, importa recursos. Claro, o ideal seria que os recursos econômicos fossem efetivamente distribuídos para o bem-estar de todos. Contudo, sabemos que, no contexto desse fator e de múltiplos outros, vivemos numa sociedade de desiguais. Também vale ficar ciente de que a educação, por si e diretamente, não tem poder suficiente para proceder essa distribuição. Porém, tem um poder indireto, formando sujeitos capazes de buscar e exercitar seus direitos, com base em suas habilidades construídas no cotidiano de nossas escolas.

Hoje temos no Brasil, segundo o Censo Escolar de Educação Básica, 2016, INEP, 180.100 (cento e oitenta mil e cem escolas de ensino básico), nas quais atuam 2.200.000 (dois milhões e duzentos mil) professores. E, 48.800.000 (quarenta e oito milhões e oitocentos mil) estudantes matriculados no Ensino Básico, ou seja, um quarto da população do país. Acrescente-se a esse número os estudantes de nível superior. Diante desses dados, cabe perguntar: Que consequências sociais, políticas, econômicas e éticas teríamos no país, se efetivamente todos nós educadores, em nossas escolas, efetivamente garantíssemos a aprendizagem e, consequentemente, o desenvolvimento dos nossos educandos? Essa é a questão que desejo abordar nesse texto. Mais que isso, desejo abordar compreensões e recursos para uma prática de ensino eficiente a serviço do bem de todos nós cidadãos desta nação.



02 - COMO SE PROCESSA A APRENDIZAGEM EFETIVA POR PARTE DO ESTUDANTE



O objetivo da escola é ensinar “para que os estudantes efetivamente aprendam”. Todas as atividades humanas destinam-se a produzir os resultados positivos desejados. Ninguém de nós age, apostando no insucesso de nossa ação. Em sã consciência, ninguém de nós coloca resultado negativos como objetivo de nossa ação.

Os resultados propostos e desejados de nossa ação pedagógica, no seio de nossas escolas, são a aprendizagem de nossos estudantes, segundo o currículo estabelecido, e o seu consequente desenvolvimento. Para investir na busca do sucesso em nossas práticas de ensino, de início, importa compreender como o estudante aprende, afim de que possamos agir com base nessa compreensão.

A aprendizagem constrói dentro de nós, como também dentro de nossos estudantes, as habilidades necessárias para estar e agir no mundo da forma mais satisfatória possível. As aprendizagens constroem os algoritmos neurológicos de nossas habilidades mentais, afetivas, emocionais e motoras. Para tanto, importa que o ensino-aprendizagem tenha a característica fundamental de realizar-se ativamente. Nosso sistema nervoso cria os algoritmos de memória, a serem utilizados quando necessário, de forma, ao mesmo tempo, compreensiva e ativa.

Tendo em vista praticar um ensino-aprendizagem ativo, importa ter presente os passos que se seguem.

(01) Uma aprendizagem ativa pela exposição de conteúdos novos. O responsável por trazer os conteúdos novos, herdados da experiência sociocultural anterior da humanidade é o educador, subsidiado pelos recursos didáticos. O educador pode expor oralmente novos conteúdos, mas também pode servir-se de recursos que levem novos conteúdos aos estudantes, tais como livros didáticos ou não, documentários, tapes, filmes... A exposição é o meio pelo qual o educador faz a mediação entre as heranças socioculturais da humanidade e o estudante, que vai aprender --- adquirir habilidades ---, através dessa mediação.

(02) O segundo passo da aprendizagem é a assimilação dos conteúdos expostos. Para aprender “ativamente”, importa que o estudante assimile o novo conteúdo e, para isso, necessita do suporte do educador. Observar que, na assimilação, o estudante passa a ser o personagem principal da aprendizagem. Afinal, é ele quem aprende. O professor dá-lhe suporte. Suporte, aqui, significa auxiliar o estudante a compreender o que foi exposto, tomando posse inicial desse conteúdo. Diz-se “inicial” devido ao fato de que, nesse estágio, o estudante somente assimilou os conteúdos exposto, ou seja, compreendeu o quem lhe fora comunicado.

(03) O terceiro passo necessário da aprendizagem é a exercitação orientada pelo educador. O professor cria os exercícios articulados com o conteúdo exposto e a ser aprendido pelo estudante, ao mesmo tempo que o orienta, corrige, reorienta. O estudante, ao exercitar os conteúdos novos, torna-os propriamente seus, transformando-os em habilidades. A construção de habilidades depende de exercitação em todos os campos da vida humana, desde que o ser humano é um ser ativo.

(04) O quarto passo está comprometido com a aplicação dos conteúdos aprendidos. Após tornar-se senhor de um conteúdo novo, através da assimilação e da exercitação, o educando pode, então, realizar aplicações desse conteúdo em diversos campos da vida. A aplicação de um conteúdo em variados campos da vida amplia uma habilidade adquirida, devido o estudante perceber que aquela habilidade possibilita outras possibilidades de compreensão, assim como de ação.

(05) O quinto passo está comprometido com a re-criação dos conteúdos aprendidos. Após o aprendiz adquirir uma habilidade (compreensão teórica + modo de agir), mediada pela exposição + assimilação + exercitação + aplicação, está apto a recriar uma determinada compreensão como uma determinada habilidade; e, então, poder servir-se de sua aprendizagem de modo pessoal e segundo suas necessidades. Esse passo da aprendizagem pode ser traduzido pela afirmação: “Já sei isso e, então, posso recriar essa compreensão e essa prática tendo em vista novas e emergentes situações”. O aprendido garante a possibilidade de sua re-criação.

(06) O sexto passo é a elaboração da síntese. Todos os passos da aprendizagem, sinalizados anteriormente, conduzem à síntese, que representa a posse plena de um conhecimento novo; é a integração ordenada das múltiplas facetas de uma aprendizagem como um todo. A síntese nem sempre será realizada no decurso das aprendizagens escolares, desde que estas são parciais. Usualmente, devido expressar uma integração de partes, a síntese demandará mais tempo, assim como maturidade psicológica e cognitiva por parte do estudante ou do profissional.

Importa observar que, à medida que os passos do ensino-aprendizagem seguem o seu curso, o aprendiz (estudante) vai tomando conta do processo e o educador vai acompanhando e dando suporte para que o estudante faça seu caminho de conhecimento e, pois, constitua sua autonomia e sua independência. A concepção piagetiana do ensinar-prender está comprometida com a construção da autonomia do estudante: inicia uma aprendizagem dependente do professor e a conclui com sua autonomia.

No primeiro passo --- exposição ---, o professor tem o predomínio; contudo, do segundo passo em diante, quem tem o predomínio ativo é o aprendiz; afinal, é ele quem aprende, estruturando seu próprio algoritmo neurológico relativo à habilidade adquirida, registrado na memória dentro de si, no seu sistema nervoso.

Os algoritmos neurológicos da memória (que serão acessados na vida cotidiana, quando necessários) são construídos --- por meio dos milhares e milhares de sinapses --- no seio do sistema nervoso do estudante, pela sua ação de aprender. O professor será seu parceiro nesse caminhar pela aprendizagem.

Os passos, acima indicados, no processo de ensinar e aprender, não necessariamente seguirão a sequência de passos 1º, 2º 3º..., nessa referida ordem. Pode-se tentar iniciar por qualquer um deles, contudo, a aprendizagem efetiva dependerá de todos eles. Podemos iniciar por uma atividade (exercício ou aplicação) e, então, o estudante perguntará --- “mas, como se compreende isso?” --- e, então, haverá necessidade de se retornar à exposição (= retomar a herança sociocultural já trilhada e elaborada pela humanidade, que contém os conceitos dos quais se está necessitando. Poderá se iniciar por uma “síntese” e, então, haverá necessidade de se retomar “as partes” para se compreender a síntese. Então, o que importa não é a ordem dos passos, mas sim que eles sejam utilizados, a fim de que a aprendizagem consistente e satisfatória se dê.



03 – ATITUDES DO EDUCADOR NO PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER


Antes de mais nada, para uma prática educativa escolar consistente, importa uma postura necessária do educador. O educador necessita ir para a sala de aula ou para seus estudantes despido de todo e qualquer preconceito, com o objetivo claro de que ele vai ensinar e todos os estudantes sob sua liderança irão aprender.

Sem a clareza e a posse desse objetivo, o mais comum entre todos nós, educadores escolares, é nos dirigirmos para a sala de aula ou para os grupos de nossos estudantes com a certeza de que “somente alguns aprenderão”, supostamente “os mais hábeis”; outros... certamente ... serão reprovados. A postura do senso comum cotidiano não oferece nenhum suporte ao educador tendo em vista trabalhar com todos, servindo-se dos passos do ensinar e aprender, acima indicados.

Já relatei em múltiplas ocasiões, nas palestras que fiz para variados públicos, que fui uma criança multi-repetente e que saí dessa situação, em torno dos quatorze anos de idade, devido um professor de Língua Portuguesa ter dito a mim e a outros colegas de infortúnio que “se fossemos bem ensinados, aprenderíamos”. E acrescentou que iria cuidar de todos nós. Desse dia em diante, deixei de ser repetente em qualquer atividade cognitiva das quais tenha participado. Meu bom professor de Língua Portuguesa, em seus cuidados pedagógicos com nós, os repetentes, praticou as posturas que exponho a seguir.

Ensinar significa apostar que somos capazes de ensinar e que nossos estudantes são capazes de aprender. Então, qual a razão para as não-aprendizagens e as reprovações? Dificuldades existirão, mas qual ação humana não se depara com impasses? Se desejamos sucesso em nossa ação, importa buscar soluções para ultrapassá-los.

Então, a postura inicial fundamental do educador é: “meus estudantes aprenderão, desde que se invista efetivamente em seu ensino”.

Com essa postura, penso que os atos do educador em sala de aula, seguem aproximadamente, os componentes, a seguir apresentados: acolher, nutrir, sustentar e confrontar.

Acolher significa receber, de coração aberto, o educando com as qualidades com as quais ele chega a nossa atividade de ensino (turma de estudantes). Alto, baixo, pele branca, vermelha, negra, traços indígenas, dos centros das cidades, das periferias, com traços europeus, africanos, orientais, portador de pré-requisitos cognitivos e socioculturais, carente desses pré-requisitos... enfim, acolher o estudante como ele chega à turma com a qual iremos atuar ou com a qual estamos trabalhando. Ele é o nosso estudante, a pessoa a quem daremos suporte para que aprenda os variados conteúdos escolares, seguindo os passos do ensinar e aprender, anteriormente sinalizados.

Ele aprenderá, se --- de início e sempre --- o acolhermos e, no cotidiano de nossa ação pedagógica, estivermos atentos às questões metodológicas da aprendizagem ativa, da qual falamos no tópico anterior deste texto. Acolher o estudante com as condições que chega em nossa sala de aula; esse é o ponto de partida do ensino-aprendizagem. Sem o acolhimento inicial e subsequente, não há ponto de partida nem condição para o ensino-aprendizagem.

Nutrir significa oferecer aos nossos estudantes a melhor exposição dos novos conteúdos, seguindo os passos do ensinar e aprender sinalizados anteriormente. Muitos dirão: “Mas, eles não aprendem”. Como não aprendem, se são neurologicamente saudáveis? Necessitam, sim, de ajuda, suporte, nutrição paciente e permanente, parceria no caminhar pela aprendizagem. Então, aprenderão.

Sustentar a experiência de aprender significa acompanhar o estudante e realimentá-lo todas as vezes que isso for necessário. Certamente não será somente com uma exposição que o estudante aprenderá aquilo que estivermos ensinando. Não aconteceu comigo nem com o caro leitor que a experiência da exposição de um novo conteúdo, de imediato, fosse plenamente assimilada e aprendida (aquisição da compreensão e habilidade do novo conteúdo). Em nossas vidas, tivemos necessidade de ajuda e suporte para aprendermos, nossos estudantes também terão necessidade de ajuda e suporte. A aprendizagem, como vimos, se faz ativamente e isso demanda sustentação, ou seja, tempo para os exercícios e orientação constante. Para nos servirmos de um termo bastante presente em nosso meio cotidiano, há necessidade de um bom e consistente feedback.

Confrontar significa observar a ação de aprender dos estudantes e os consequentes resultados alcançados. Em caso positivo, ótimo, seguimos em frente; em caso, negativo, novos investimentos para que efetivamente eles aprendam e... certamente aprenderão com os nossos cuidados. Ninguém aprende sozinho, sempre com o suporte do outro. Cotidianamente nos servimos das falas e recomendações dos outros. De suas observações. De seus ensinamentos, através dos livros, meios variados de comunicação, tais como TV, rádio, livros, documentários, filmes... Um professor sempre encontrará um meio novo de oferecer suporte ao seu aprendiz, a afim de que crie suas habilidades. Mas isso é preciso desejar e investir nesse desejo

Enfim, ensinar eficientemente implica em cuidados permanentes do profissional de educação com os seus estudantes, afinal, o objetivo de sua ação. A sequência de atitudes --- acolher, nutrir, sustentar e confrontar --- expressa os sucessivos cuidados que um educador necessita ter ao exercitar o ensino. Os passos metodológicos do ensino --- exposição, assimilação, exercitação, aplicação, re-criação e elaboração de sínteses ---, indicados no tópico anterior deste texto, só serão bem utilizados se as condutas do educador estiverem configuradas pelas cuidados imediatamente acima indicados.



04 - AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO COMO PARCEIRA DO SUCESSO DA AÇÃO DO EDUCADOR


O ato de avaliar é um “ato de investigar a qualidade da realidade”. Para tanto, importa (01) configurar adequadamente o objeto da investigação; (02) servir-se, com rigor de pesquisa, de um recurso técnico de coleta de dados; (03) com os dados coletados em mãos, proceder uma descritiva do objeto em investigação; (04) qualificar a realidade descrita através da sua comparação a um padrão de qualidade considerado como satisfatório.

Caso a descritiva preencha as variáveis do padrão de qualidade, a realidade será considerada satisfatória. Caso contrário, será considerada insatisfatória. Neste caso, caberá ao gestor da ação duas opções (a) aceitar a qualidade da realidade como está (insatisfatória) ou (b) tomar a decisão de investir mais na ação, de tal forma que a qualidade da realidade atinja o nível de satisfatoriedade.

Esse conceito se aplica a todo e qualquer ato avaliativo, inclusive os atos avaliativos no âmbito da educação.

Então, o ato de avaliar é um ato parceiro do gestor, seja para revelar-lhe que sua ação produziu satisfatoriamente o resultado desejado, seja para revelar-lhe que sua ação ainda não produziu o resultado desejado e que tem a opção de investir mais, ou não.

Essa compreensão revela que o gestor da ação tem a responsabilidade de (a) aceitar a qualidade da realidade como está --- seja ela positiva, ou não --- (b) como também a responsabilidade de não aceitar a qualidade da realidade como ela se encontra, com a consequente responsabilidade de tomar a decisão de investir mais, e mais, até que a realidade atinja a qualidade satisfatória desejada e necessária.

Caso a opção do gestor seja de aceitar a qualidade da realidade como está, ele encerra a possibilidade de investimento, desde que está assumindo que a qualidade presente permanecerá como está, sendo satisfatória ou insatisfatória, ou seja, decide extinguir os investimentos na ação em curso. Aceitar a qualidade como está implica na classificação da realidade como se encontra, seja ela positiva ou negativa. Esse modo de agir expressa um modo classificatório de servir-se dos resultados da investigação avaliativa.

Caso, por outro lado, a opção do gestor seja de investir mais, e mais, na realidade, até que ela atinja a qualidade desejada, ele estará fazendo um uso diagnóstico dos resultados da investigação avaliativa.

Em síntese, a investigação avaliativa propicia ao gestor da ação duas opções: (01) encerrar a ação com a qualidade que ela se encontra positiva, ou negativa; (02) após a constatação de uma qualidade insatisfatória, continuar a investir na ação, tendo em vista conduzi-la a um resultado satisfatória.

Portanto, cabe ao gestor da ação servir-se dos resultados da investigação avaliativa de modo classificatório ou de modo diagnóstico, sendo que o primeiro implica em dar a ação por encerrada e o segundo modo de uso do resultado da investigação avaliativa implica na continuidade da ação.

Na prática cotidiana ou não prática da avaliação em situações específicas --- como pode ser a educação --- existem as duas possibilidades de uso dos resultados e elas estão e estarão sempre presentes como possibilidades. Caberá a gestor da ação a decisão de como servir-se dos resultados da ação.

Aplicando essas compreensões à prática educativa, seja lá qual for o objeto da investigação avaliativa --- a aprendizagem em sala de aula, a instituição educacional ou o sistema de ensino (avaliação de larga escala) ---, ela será sempre a parceira do gestor. Não é a avaliação que, por si, é classificatória ou diagnóstica. Ela simplesmente investiga e revela a qualidade da realidade. O gestor da ação é o sujeito da decisão do seu uso classificatório ou diagnóstico, ciente de que o uso classificatório encerra uma ação e o uso diagnóstico está a serviço da construção da realidade até que ela apresente a qualidade satisfatória desejada.



05 – CONSIDERAÇÕES FINAIS


(a) Se nós educadores desejamos colocar a prática educativa a serviço da democratização social, importa que ela seja eficiente, isto é, que todos estudantes aprendam aquilo que tem a aprender e, por aprender, se desenvolvam. Então, todos adquirem recurso para buscar o seu lugar na vida social em pé de igualdade.

(b) Para tanto, importa que, conscientemente, nos sirvamos de passos metodológicos fundamentais --- exposição, assimilação, exercitação, aplicação, re-criação, construção de síntese --- para que a efetiva aprendizagem se dê a contento.

(c)  Para exercer um ensino, com os passos metodológicos traçados, onde todos os estudantes aprendam, importa que o educador assuma conscientemente, como suas tarefas cotidianas, acolher, nutrir, sustentar e confrontar os estudantes em seu caminhar pela aprendizagem dos conteúdos com os quais estiver trabalhando.

(d) Por último, importa que o educador veja e sirva-se do ato de avaliar como uma investigação da qualidade da aprendizagem dos seus estudantes, revelando-lhe as possibilidades de (a) aceitar a qualidade da realidade como está (uso classificatório dos resultados da investigação avaliativa) ou de (b), em verificando uma qualidade insatisfatória, decidir por investir mais, e mais, em sua ação pedagógica até que a aprendizagem de todos os seus educandos atinja o nível de satisfatoriedade.

Então, aqui, a avaliação expressa-se como a parceira do educador na busca e construção do resultado satisfatório desejado. Ele lhe revela a qualidade da realidade, a decisão lhe pertence. Nesse contexto, não há como não atribuir a decisão de buscar a qualidade satisfatória da aprendizagem ao educador como gestor da ação educativa. Há que se apostar no fato de que a formação consistente de todos os nossos educandos como um recurso de democratização social.



O convite desse texto é para que todos nós educadores --- que compomos o total de dois milhões e duzentos mil profissionais da educação básica, espalhados pelas cento e oitenta mil e cem escolas, implantadas nos mais variados rincões deste país --- atendamos todos e cada um dos nossos educandos com as posturas apropriados ao ensino e com o rigor metodológico necessário à prática de ensinar-aprender. Afinal, uma atividade profissional pela cidadania, pela busca da democratização social.







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segunda-feira, 5 de junho de 2017

120 - REFINANDO A COMPREENSÃO DA RELAÇÃO ENTRE O “USO DIAGNÓSTICO” E O “USO CLASSIFICATÓRIO” DOS RESULTADOS DO ATO DE AVALIAR

Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com




“Classificar” significa situar um objeto ou uma pessoa numa determinada escala. Por exemplo, classificar um elemento químico na tabela periódica ou classificar o rendimento financeiro anual de uma pessoa na tabela do Importo de Renda, e, assim, em qualquer outra atividade classificatória.

Também na educação escolar o conceito de classificação foi utilizado, ao longo do tempo, de forma equivalente. Na Pedagogia Jesuítica, formalizada no decurso do século XVI, haviam três categorias para a classificação dos estudantes: aprovado, reprovado e médio. Pós-Revolução Francesa, passou-se a utilizar uma classificação numérica, através do recurso que denominamos de “notas escolares”, expressas pelo sistema decimal, variando de 0 (zero) a 10 (dez), ou, então, expressas por uma escala de 0 (zero) a 100 (cem). Em alguns sistemas escolares pelo mundo, como na Inglaterra e nos Estados Unidos da América do Norte, as “notas escolares” são registradas por uma escala de letras --- A, B, C, D, E ---, assumindo que o A representa o desempenho mais satisfatório e o E, o menos satisfatório.

No texto anterior deste blog, usei o conceito “classificatório” de forma diversa da compreensão comum dessa fenomenologia. Servi-me, então, o termo “classificatório” para definir “o padrão ideal da escala classificatória” que deve ser atingido pelo estudante em sua aprendizagem.

No caso, se o padrão da aprendizagem satisfatória (= aprendizagem efetiva de todos os conteúdos essenciais contidos no plano de ensino) for representado pela nota 8 (oito), dentro da escala decimal, variando de 0 (zero) a 10 (dez), o professor(a) necessitará de investir no ensino-aprendizagem de seus estudantes até que “todos” aprendam o necessário e, por isso, se lhes seja atribuída a nota 8 (oito).

Nesse contexto, o padrão de classificação --- nota 8 (oito) --- passa a ser meta que deverá ser atingida pelo estudante em sua aprendizagem, evidentemente sob a orientação consistente do professor(a). Então, o sistema de ensino e o professor(a), como seu representante, trabalhará para que todos atinjam esse padrão de classificação.

No caso, o “uso diagnóstico” dos resultados do ato avaliativo, no decurso do processo de ensino --- seja ele mensal, bimensal, trimensal, semestral ou anual --- subsidiará decisões sucessivas do educador(a) na perspectiva de garantir que os estudantes efetivamente aprendam aquilo que deveriam aprender, configurado no plano de ensino. Ou seja, haverá necessidade de investir na aprendizagem satisfatória de “todos os estudantes”. Existem países que já conseguiram isso, tais como Canadá, Dinamarca, Finlândia, Suíça, qual a razão para não conseguirmos? Ou qual a razão para ao menos investirmos nessa meta?

Aqui, importa retomar a compreensão de Norman Groulund, a respeito de (01) “aprendizagem para o domínio” e (02) “aprendizagem para o desenvolvimento”.

“Aprendizagem para o domínio” significa a aprendizagem de todo o protocolo estabelecido no planejamento do ensino e “aprendizagem para o desenvolvimento” significa o uso criativo que o estudante poderá fazer das aprendizagens decorrentes da “aprendizagem para o domínio”. A “aprendizagem para o desenvolvimento” tem a ver com as infinitas possibilidades que o estudante tem de se servir daquilo que aprendeu pela vida afora. Para o efetivo “uso diagnóstico” dos resultados dos atos avaliativos --- como definido acima na sua relação com o “uso classificatório” --- o educador se aterá ao campo definido como “de domínio”. Ou seja, estará focado no ensino-aprendizagem para o domínio.

A “aprendizagem para o desenvolvimento”, por estar comprometida com o “além da aprendizagem estabelecida no protocolo planejado”, poderá --- e até mesmo deverá --- ser levada em conta, mas não para registrar a “nota”, que represente aprendizagem do estudante. O educador(a), em sala de aula, necessitará saber se seu estudante aprendeu os conteúdos estabelecidos no protocolo. “Aquilo que vai além” decorre de seu investimento e de sua criatividade pessoal. Pode-se levar em conta essa aprendizagem, mas não para o registro classificatório, que promove o estudante de uma série para outra.

Em síntese, o “uso diagnóstico” dos resultados de uma investigação avaliativa em sala de aula está a serviço de subsidiar ações que possibilitem atingir o padrão de qualidade desejado, representado pelo protocolo do que deve ser ensinado e aprendido, em conformidade com o planejado. Vale observar que em todas as ações humanas cotidianas e profissionais, o ato de avaliar subsidia o diagnóstico, que, por sua vez, possibilita decisões construtivas. Não existe atividade humana, sem uma prática diagnóstica de avaliação, desde que ela garante a “busca da qualidade desejada”. A “qualidade desejada” é a meta a ser atingida; em última instância, para permanecer no âmbito dos conceitos utilizados neste texto, a “classificação desejada”.

Esse será o caminho para colocar a avaliação a serviço da aprendizagem de todos, e, pois, da democratização social, o que implica que a educação escolar estará oferecendo "a todos os estudantes" condições de igualdade. No caso, todos aprendem o que necessitam aprender, segundo o currículo e o plano de ensino (= aprendizagem para o domínio); e, depois, cada um seguirá pela vida "desenvolvendo-se" com os seus recursos e investimentos pessoais (= aprendizagem para o desenvolvimento). A ação educativa se dá no âmbito metodológico profissional (eficiência), mas, ao mesmo tempo que está comprometida com a vida social e política de todos os cidadãos.







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domingo, 4 de junho de 2017

119 - O ATO DE AVALIAR E INVESTIMENTO NA CONSTRUÇÃO DE RESULTADOS SATISFATÓRIOS

Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com



Ao agir, buscamos o resultado bem-sucedido de nossa ação.

Remexendo no baú da memória, não consigo identificar uma única situação em que um ser humano, ao agir, tenha apostado no insucesso de sua ação, que “daria tudo errado”.

A ação e o seu resultado podem representar uma distorção social e/ou ética do sujeito que está agindo, contudo, por si, está apostando que sua ação vai ter sucesso, mesmo que seja negativa para todos os outros. Ele terá sucesso, ainda que em detrimento dos outros. O “em detrimento dos outros” tem a ver com ética; então, pode haver uma ação bem-sucedida para o agente, ainda que eticamente indevida. No caso, todo sujeito que age aposta no sucesso de sua ação.

A parceira mais significativa e essencial para a conquista de resultados bem-sucedidos num projeto de ação, seja ele qual for, é a avaliação.

Epistemologicamente, se define o ato de avaliar como “o ato de investigar a qualidade da realidade”, ou seja, tem como destino “revelar a qualidade da realidade”. Como na relação ciência/tecnologia, são os resultados da investigação avaliativa --- no caso, como “leitura da qualidade da realidade” --- que podem subsidiar decisões. No caso da avaliação, esses determinados resultados podem ser utilizados de dois modos: modo classificatório e modo diagnóstico.

O modo classificatório subsidia a classificação da ação ou do sujeito em avaliação. Na escola, ao final da ação pedagógica, o estudante é classificado em aprovado ou reprovado. Numa competição esportiva, os participantes são classificados segundo uma escala descendente: 1ºlugar, 2º lugar, 3º lugar... O mesmo ocorre num concurso público, onde os candidatos são classificados segundo uma escala. O modo de uso classificatório dos resultados de uma ação qualquer assume que a ação chegou ao seu final; não há o que ser feito.

O modo diagnóstico de uso dos resultados da investigação avaliativa opera subsidiando a construção dos resultados da ação, que se deseja que sejam satisfatórios. A ação ainda está em curso, por isso, o agente pode investir mais e mais na busca do resultado desejado; está no espaço da construção. Então, a avaliação --- no modo diagnóstico de uso do resultado da investigação da qualidade da realidade --- possibilita que o sujeito da ação aquilate se já atingiu, ou ainda não, a qualidade desejada para o resultado de sua ação. Se sim, ótimo; se não e se se deseja um resultado mais significativo do que aquele que já atingiu, há que se investir mais e mais.

No meio da educação formal, de modo constante --- para não dizer quase que exclusivo ---, se faz “uso do modo classificatório” dos resultados do ato de avaliar. Todos --- gestores da educação, educadores em sala de aula, pais, estudantes --- investem pouco, ou quase nada, no uso da avaliação sob a ótica diagnóstica.

Todavia, importa compreender que ambas as modalidades de uso dos resultados do ato avaliativo são fundamentais. O uso diagnóstico subsidia a construção dos resultados desejados e o uso classificatório expressa o convite para investir no resultado final com qualidade positiva.

Ou seja, quando alguém inicia a investir num projeto de ação --- seja ele qual for, inclusive, evidentemente, o projeto da aprendizagem dos educandos na sala de aula --- tem como meta a obtenção do resultado satisfatório decorrente de sua ação.

No caso do uso diagnóstico e do uso classificatório dos resultados da avaliação, o uso diagnóstico “subsidia” a construção do resultado desejado e o uso classificatório “define” o limite da qualidade dos resultados a serem atingidos, ou seja, a satisfatoriedade. Em se tratando da sala de aulas, o limite classificatório expressa a “qualidade da aprendizagem à qual todos devem ser conduzidos”; o que implica em que o educador vai trabalhar para que isso efetivamente ocorra.

A distorção no uso dos atos avaliativos ocorre quando o educador obscurece a relação entre as duas modalidades de uso dos resultados do ato avaliativo, fixando-se de modo predominante ou exclusivo no uso classificatório. 

O convite é para que o educador em sala de aula sirva-se dos dois usos dos resultados do ato avaliativo, servindo-se do primeiro --- diagnóstico --- como recurso para se chegar ao segundo --- classificatório. Na sala de aula, diagnosticar sempre, com as sucessivas tomadas de decisão, tendo em vista classificar todos os estudantes sob sua orientação no nível necessariamente satisfatório de aprendizagem.








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quinta-feira, 1 de junho de 2017

118 - NOVO ENDEREÇO ELETRÔNICO

Cipriano Luckesi
Contato --- ccluckesi@gmail.com



Amigos e amigas,

Há muito tempo, sirvo-me do endereço eletrônico --- luckesi@terra.com.br. Estou fazendo uma migração para ccluckesi@gmail.com.

Durante trinta dias, ainda farei uso do luckesi@terra.com.br, contudo, informo que, desde a presente data, inicio uma migração para o novo endereço e, após trinta dias, farei uso exclusivamente do novo endereço. E, desde esse momento, está a disposição dos educadores, pares deste blog.

Também informo que, a partir do dia 10/06/2017, não farei mais uso do endereço --- cipriano@luckesi.com.br --- que está atrelado ao site www.luckesi.com.br, que deixará de existir.

Em função dessas decisões, minhas contribuições com todos os pares da educação, através de meus escritos, se farão através do blog --- luckesi.blogspot.com --- que já mantenho há bons anos.

Sem mais, grato pela atenção.
Um abraço a todos.
Cipriano Luckesi





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