135 – AVALIAÇÃO DA
APRENDIZAGEM ESCOLAR COMO INVESTIGAÇÃO DA SUA QUALIDADE
O ato de avaliar a aprendizagem
dos estudantes, no decurso de um ano letivo, é um ato de investigar a sua
qualidade, tendo como consequência subsidiar decisões. Tenho insistido em
textos anteriores deste blog que o ato de avaliar a aprendizagem se encerra
quando a qualidade da aprendizagem do estudante é revelada. A decisão, com base
no resultado dessa investigação, já não pertence mais ao ato de avaliar, mas
sim ao ato de “tomar decisão” com base na qualidade revelada, seja ela positiva
ou negativa. Temática já abordada em textos anteriores neste blog.
Epistemologicamente, para
se chegar ao conhecimento da qualidade da realidade, decorrente de uma
investigação avaliativa, importa dois passos: (01) a descritiva da realidade a
ser avaliada e (02) a atribuição da qualidade à realidade investigada através
da comparação da realidade descrita com um padrão de qualidade previamente
assumido como satisfatório.
Tendo em vista “ter
ciência da realidade” no que se refere à aprendizagem do estudante, importa ter
presente que a aprendizagem se dá no interior da pessoa, cujo desempenho será
qualificado; fator que implica na necessidade de coleta de dados, através de
recursos que “convidem” o estudante a expressar aquilo que aprendeu,
respondendo a perguntas, a situações problemas, apresentando demonstrações,
desempenhos...
Estando em frente a uma
pessoa, seja ela criança ou adulto, não há como ter ciência do que se passa
dentro dela, a menos que ela revele, seja por suas posturas, seus estados de
ânimo expressos através de condutas, gestos... ou por relatos a partir de indagações
ou solicitações de desempenhos.
No caso da aprendizagem
escolar, não há como ter ciência da qualidade --- positiva ou negativa --- da
aprendizagem de um estudante, a menos que ele revele aquilo que vai por dentro
de seu sistema cognitivo.
Para tanto, importa que
quem pratica o ato avaliativo --- no caso da investigação da qualidade da aprendizagem
do estudante ---, necessita servir-se de recursos que “convidem o estudante a
revelar aquilo que ele aprendeu”, em termos dos conteúdos ensinados, de sua compreensão,
das habilidades adquiridas, da capacidade de proceder aplicações do aprendido,
assim como a capacidade de avaliar o conteúdo aprendido.
Em síntese, uma conduta
aprendida permanece ancorada no sistema nervoso do aprendiz e só se revela se for
investigada, através de uma solicitação pela qual ele revele que aprendeu o que
fora ensinado ou que ainda não aprendera.
As perguntas de um teste,
de uma entrevista, assim como a solicitação para o desempenho de uma tarefa com
base em uma determinada aprendizagem, são recursos dos quais nos servimos para
solicitar ao aprendiz que nos revele se já tem a posse daquilo que ensinamos
com a qualidade necessária da referida aprendizagem.
Sem essa interlocução com
o aprendiz --- no caso da escola, com o estudante --- não há como ter ciência
se ele aprendeu, ou não, aquilo que fora ensinado. Essa interlocução pode
dar-se verbalmente ou por escrito, em suas mais variadas modalidades. No caso,
importa que o aprendiz revele sua aprendizagem, através de uma conduta que
possa ser observada, seja realizando uma tarefa, seja respondendo a um
instrumento de coleta de dados.
Para proceder a coleta de
dados sobre o desempenho do estudante em sua aprendizagem, importa:
(01) servir-se
de um “mapa” daquilo que fora ensinado e que o estudante deveria ter aprendido;
“nem mais nem menos que isso”. Perguntas para além ou para aquém do ensinado
não ajudam a coletar dados para a realização de uma avaliação do desempenho do
estudante;
(02) uso
de uma “linguagem compreensível” nos procedimentos de coleta de dados. O
estudante necessita compreender o que se lhe pergunta. E, quando não
compreende, importa auxiliá-lo a compreender o que se solicita. Impossível
responder a uma pergunta se não se compreende aquilo que está sendo solicitado;
(03) “compatibilidade
entre ensinado e aprendido”, em termos de conteúdos e metodologias utilizadas.
Se se ensina fácil, pergunta-se fácil; se se ensina de modo complexo, pergunta-se
de modo complexo; se se ensina com uma linguagem sofisticada, pergunta-se com
uma linguagem sofisticada. O mesmo ocorrendo com as metodologias utilizadas na
prática de ensino dos variados conteúdos escolares. Por exemplo, se ensino Língua
Portuguesa for realizado através de análise de texto, as perguntas deverão
decorrer de análise de texto; se o ensino ocorrer por Gramática, perguntas
características de gramática. Se o ensino História ocorrer de modo factual,
perguntas factuais; se ensino se der por relações histórico-sociais, perguntas
com características semelhantes. Se se deseja ter ciência se o estudante
aprendeu o que fora ensinado, não se pode ensinar e uma forma e perguntar por
outra;
(04) precisão.
As perguntas formuladas necessitam ter precisão, ou seja, a questão formulada
deve explicitar as condições do entendimento e da resposta. Por exemplo: “O que
fez D. Pedro I”. Certamente que esse personagem histórico brasileiro “fez
muitíssimas coisas”; então, importa precisar, na pergunta, quando, onde,
como..., a fim de que educador/avaliador e estudante compreendam uma
determinada questão de modo equivalente. Fator que evita a dubiedade, afinal,
uma condição inadequada tanto para o estudante como para o educador.
Só após esse
instrumento de coleta de dados estar elaborado com essas quatro características
metodológicas básicas é que pode ser utilizado para investigar a aprendizagem
dos estudantes.
Após a aplicação
do recurso de coleta de dados, há que se corrigir as respostas praticadas pelos
estudantes através da comparação das mesmas com os conteúdos corretamente
compreendidos (forma como devem ter sido praticados no ensino).
Usualmente, em
nosso meio, os resultados dessa prática avaliativa são registrados notarialmente
através de convenções numéricas --- notas escolares de zero (0,0) a 10,0 (dez)
--- ou por símbolos alfabéticos --- tais como A, B, C, D, E ---, ou outra
modalidade de registro.
No contexto deste
escrito, importa insistir na necessidade dos cuidados metodológicos com o
exercício do ato de avaliar.
Para este texto,
bastam as considerações sobre a coleta de dados e a prática da atribuição de
qualidade à aprendizagem dos estudantes. Em momento posterior, cuidaremos da
questão do “uso dos seus resultados” , tendo em vista melhor desempenho seja na
prática do ensino em sala de aula, seja da aprendizagem por parte dos
estudantes.