sábado, 1 de agosto de 2020

135 – AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR COMO INVESTIGAÇÃO DA SUA QUALIDADE


135 – AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR COMO INVESTIGAÇÃO DA SUA QUALIDADE




O ato de avaliar a aprendizagem dos estudantes, no decurso de um ano letivo, é um ato de investigar a sua qualidade, tendo como consequência subsidiar decisões. Tenho insistido em textos anteriores deste blog que o ato de avaliar a aprendizagem se encerra quando a qualidade da aprendizagem do estudante é revelada. A decisão, com base no resultado dessa investigação, já não pertence mais ao ato de avaliar, mas sim ao ato de “tomar decisão” com base na qualidade revelada, seja ela positiva ou negativa. Temática já abordada em textos anteriores neste blog.

Epistemologicamente, para se chegar ao conhecimento da qualidade da realidade, decorrente de uma investigação avaliativa, importa dois passos: (01) a descritiva da realidade a ser avaliada e (02) a atribuição da qualidade à realidade investigada através da comparação da realidade descrita com um padrão de qualidade previamente assumido como satisfatório.

Tendo em vista “ter ciência da realidade” no que se refere à aprendizagem do estudante, importa ter presente que a aprendizagem se dá no interior da pessoa, cujo desempenho será qualificado; fator que implica na necessidade de coleta de dados, através de recursos que “convidem” o estudante a expressar aquilo que aprendeu, respondendo a perguntas, a situações problemas, apresentando demonstrações, desempenhos...

Estando em frente a uma pessoa, seja ela criança ou adulto, não há como ter ciência do que se passa dentro dela, a menos que ela revele, seja por suas posturas, seus estados de ânimo expressos através de condutas, gestos... ou por relatos a partir de indagações ou solicitações de desempenhos.

No caso da aprendizagem escolar, não há como ter ciência da qualidade --- positiva ou negativa --- da aprendizagem de um estudante, a menos que ele revele aquilo que vai por dentro de seu sistema cognitivo.

Para tanto, importa que quem pratica o ato avaliativo --- no caso da investigação da qualidade da aprendizagem do estudante ---, necessita servir-se de recursos que “convidem o estudante a revelar aquilo que ele aprendeu”, em termos dos conteúdos ensinados, de sua compreensão, das habilidades adquiridas, da capacidade de proceder aplicações do aprendido, assim como a capacidade de avaliar o conteúdo aprendido.

Em síntese, uma conduta aprendida permanece ancorada no sistema nervoso do aprendiz e só se revela se for investigada, através de uma solicitação pela qual ele revele que aprendeu o que fora ensinado ou que ainda não aprendera.

As perguntas de um teste, de uma entrevista, assim como a solicitação para o desempenho de uma tarefa com base em uma determinada aprendizagem, são recursos dos quais nos servimos para solicitar ao aprendiz que nos revele se já tem a posse daquilo que ensinamos com a qualidade necessária da referida aprendizagem.

Sem essa interlocução com o aprendiz --- no caso da escola, com o estudante --- não há como ter ciência se ele aprendeu, ou não, aquilo que fora ensinado. Essa interlocução pode dar-se verbalmente ou por escrito, em suas mais variadas modalidades. No caso, importa que o aprendiz revele sua aprendizagem, através de uma conduta que possa ser observada, seja realizando uma tarefa, seja respondendo a um instrumento de coleta de dados.

Para proceder a coleta de dados sobre o desempenho do estudante em sua aprendizagem, importa:

(01)    servir-se de um “mapa” daquilo que fora ensinado e que o estudante deveria ter aprendido; “nem mais nem menos que isso”. Perguntas para além ou para aquém do ensinado não ajudam a coletar dados para a realização de uma avaliação do desempenho do estudante;


(02)    uso de uma “linguagem compreensível” nos procedimentos de coleta de dados. O estudante necessita compreender o que se lhe pergunta. E, quando não compreende, importa auxiliá-lo a compreender o que se solicita. Impossível responder a uma pergunta se não se compreende aquilo que está sendo solicitado;

(03)    “compatibilidade entre ensinado e aprendido”, em termos de conteúdos e metodologias utilizadas. Se se ensina fácil, pergunta-se fácil; se se ensina de modo complexo, pergunta-se de modo complexo; se se ensina com uma linguagem sofisticada, pergunta-se com uma linguagem sofisticada. O mesmo ocorrendo com as metodologias utilizadas na prática de ensino dos variados conteúdos escolares. Por exemplo, se ensino Língua Portuguesa for realizado através de análise de texto, as perguntas deverão decorrer de análise de texto; se o ensino ocorrer por Gramática, perguntas características de gramática. Se o ensino História ocorrer de modo factual, perguntas factuais; se ensino se der por relações histórico-sociais, perguntas com características semelhantes. Se se deseja ter ciência se o estudante aprendeu o que fora ensinado, não se pode ensinar e uma forma e perguntar por outra;


(04)    precisão. As perguntas formuladas necessitam ter precisão, ou seja, a questão formulada deve explicitar as condições do entendimento e da resposta. Por exemplo: “O que fez D. Pedro I”. Certamente que esse personagem histórico brasileiro “fez muitíssimas coisas”; então, importa precisar, na pergunta, quando, onde, como..., a fim de que educador/avaliador e estudante compreendam uma determinada questão de modo equivalente. Fator que evita a dubiedade, afinal, uma condição inadequada tanto para o estudante como para o educador.

Só após esse instrumento de coleta de dados estar elaborado com essas quatro características metodológicas básicas é que pode ser utilizado para investigar a aprendizagem dos estudantes.

Após a aplicação do recurso de coleta de dados, há que se corrigir as respostas praticadas pelos estudantes através da comparação das mesmas com os conteúdos corretamente compreendidos (forma como devem ter sido praticados no ensino).

Usualmente, em nosso meio, os resultados dessa prática avaliativa são registrados notarialmente através de convenções numéricas --- notas escolares de zero (0,0) a 10,0 (dez) --- ou por símbolos alfabéticos --- tais como A, B, C, D, E ---, ou outra modalidade de registro.

No contexto deste escrito, importa insistir na necessidade dos cuidados metodológicos com o exercício do ato de avaliar.

Para este texto, bastam as considerações sobre a coleta de dados e a prática da atribuição de qualidade à aprendizagem dos estudantes. Em momento posterior, cuidaremos da questão do “uso dos seus resultados” , tendo em vista melhor desempenho seja na prática do ensino em sala de aula, seja da aprendizagem por parte dos estudantes.







5 comentários:

  1. Olá professor. Para longe de querer classificar, mas como podemos qualificar os nossos objetivos a fim de avaliar o progresso do aprendiz? Ao cabo de podermos consolidar os progressos e corrigir os desvios ou a progressão em defasagem.
    Obrigado por compartilhar a experiência.

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  2. Marco Aurélio,

    De fato, a investigação da qualidade da realidade (avaliação) já revela aquilo que buscamos saber, ou seja: qual qualidade da realidade em investigação? Satisfatória/não satisfatória?

    Cpmp se chega a esse conceito relativo à qualidade da realidade? Comparando a realidade descrita pela coleta de dados (questionários, testes, redações...) com o padrão de qualidade assuimido como satisfatório. Se nessa comparação o resultado for positivo, ok. Se for negativo, caberá ao gestor da ação tomar decisões. Investir mais, e mais, até atingir a qualidade desejadda ou deixar como está. A segunda opção é negativa.

    O gestor de uma ação sempre tem o desjo de que seus atos produzam o resultado estabelecido como meta. Para tanto, investe na ação, inclusive na ação corretiva, caso seja necessária.

    A avaliação é a parceira do gestor que lhe revela a qualidade do resultado de sua ação. A decisão de investir mais, e mais, em busca do resultado satisfatório, pertence a ela, gestor da ação. A avaliação, como investigação, só revela a qualidade da realidade. A ação pertenmce ao seu gestor.

    A classificação é uma decisão de quem usa os resultados da investigação avaliativa. A classificação, por si, não pertence à onvestigação avaliativa. Ela é uma escolha do gestor da ação, seja ele um sistema, uma insituição ou um profissional. A avaliação somente revela a qualidade da realidade.

    Sucesso em suas atividades no IFNMG Almenara!

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  3. Corrigindo:

    A avaliação é a parceira do gestor que lhe revela a qualidade do resultado de sua ação. A decisão de investir mais, e mais, em busca do resultado satisfatório, pertence ao gestor da ação. A avaliação, como investigação, só revela a qualidade da realidade. A ação pertenmce ao seu gestor.

    A classificação é uma decisão de quem usa os resultados da investigação avaliativa. A classificação, por si, não pertence à onvestigação avaliativa. Ela é uma escolha do gestor da ação, seja ele um sistema, uma instituição ou um profissional. A avaliação somente revela a qualidade da realidade.

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  4. Os atos de "aprovar" e "reprovar" ocorrem quando o gestor da ação considera que ela se encerrou e já não há mais possibilidades de intervenção. Contudo, enquanto houver possibilidades de intervenção, o gestor da ação pode e, a meu ver, deve decidir por investir mais, e mais, tendo em vista atingir o objetivo desejado que, em qualquer ação, é o seu sucesso.

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  5. Prof. Luckesi. Com muito carinho em assistir e apropriar de seus conhecimentos. Que serão apoio para escrever um pré projeto. Obrigada.

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