quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

145 – Avaliação como parceira do ser humano, sempre!

 

 

O ato de avaliar é constitutivo do ser humano, assim como são constitutivos do ser humano os atos de planejar e de executar. Em função disso:

1.      não existe ato humano que não seja precedido de uma escolha do que se deseja e de como consegui-lo, isto é, não existe ato humano que não seja precedido do ato de planejar;

 

2.      a seguir, importa a sua execução em conformidade com o planejado e, se necessário, com correções no percurso da ação;

 

3.      e, por fim, o ato de avaliar que (a) precede toda e qualquer ação que o ser humano pratique, subsidiando suas decisões, e que (b) acompanha sua execução tendo em vista atingir os resultados desejados. Afinal,  ato de avaliar subsidia o ser humano nas suas decisões, tanto no planejar como no executar uma ação, sempre tendo em vista a obtenção dos resultados desejados.

 

Nesse contexto, repetiremos aqui compreensões já expostas em outras publicações deste site de que o ato de avaliar é um ato parceiro do ser humano a avisá-lo da qualidade dos resultados de sua ação, fator que permite uma tomada de decisões, que devem ser as mais adequadas e a favor da uma vida humana saudável para todos.

Nesse contexto, importa que todos nós assumamos a consciência de que o ato de avaliar é universal, como são universais os atos de planejar e executar, tendo em vista a busca e a conquista dos resultados que sejam satisfatórios para cada um de nós, mas, simultaneamente, para todos.

 

O ato de avaliar na prática educativa

 

Na prática educativa diária, assim como em momentos específicos do ato institucional de ensinar (Escola e Universidade) - provas periódicas e prova ao final do ano letivo -, importa praticar atos avaliativos como atos de investigar a qualidade da realidade, subsidiando decisões, que, a nosso ver, devem ser sempre construtivas.

As decisões de prosseguir ou encerrar uma determinada ação pertence ao seu gestor em conformidade com regras previamente definidas. No caso da sala de aula, pertencem ao professor e à professora - como gestores da sala de aula - agir sempre tendo em vista o sucesso de sua ação, no caso, a aprendizagem por parte de todos os estudantes. É importante que todos aprendam e se desenvolvam. Todos, não somente alguns, à medida que todos são cidadãos e, como tal, merecem cuidados, tendo em vista tanto uma vida saudável tanto pessoal, como coletiva.

O convite é: vamos nos servir da avaliação da aprendizagem como um recurso que nos avisa se os resultados de nossa ação pedagógica já são suficientemente positivos ou se importa investir mais na busca dos resultados desejados, ou seja, que todos aprendam, recurso subsidiário de uma vida saudável para cada um e para todos.

Afinal, o ato avaliativo está sempre a serviço, seja subsidiando decisões prévias e necessárias à uma ação, seja subsidiando os investimentos na sua busca e construção. A avaliação é parceira de uma ação que busca resultados bem-sucedidos.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

144 - O SER HUMANO E A BUSCA DE RESULTADOS BEM-SUCEDIDOS ATRAVÉS DA AÇÃO A FAVOR DE TODOS

 

O SER HUMANO E A BUSCA DE RESULTADOS BEM-SUCEDIDOS ATRAVÉS DA AÇÃO A FAVOR DE TODOS

 

 

Todos os seres viventes no Planeta Terra buscam o sucesso em seu estar no mundo, seu crescimento e sua sobrevivência, ou seja, buscam o melhor caminho para viver e sobreviver. Uma árvore naturalmente busca o melhor caminho para seu crescimento, sua sobrevivência e assim agem todos os seres presentes no mundo.

O ser humano, por sua vez, também busca resultados bem-sucedidos em decorrência de sua ação, porém, infelizmente, por muitas vezes, busca o sucesso exclusivamente para si como indivíduo, fator que implica em detrimento para os outros, seus pares na vida. Importa, pois, o uso dos atos avaliativos a serviço de uma vida saudável para cada um individualmente e, simultaneamente, para todos de modo coletivo.

Nesse contexto, a avalição se caracteriza como nossa parceira a sinalizar-nos a qualidade dos resultados de nossa ação tendo em vista a tomada das decisões necessárias na busca do sucesso de nosso agir. Contudo, importa que sejam resultados configurados sob uma ótica filosófica, política e social a favor de todos, ou seja, que nosso Projeto de Ação esteja traçado - e também praticado - a favor de todos.

No caso, interessa a nós educadores servirmo-nos da avaliação, de modo consciente, como recurso subsidiário de nosso agir no cotidiano profissional, e, claro, além de nos subsidiar a cada instante de nosso viver. Desse modo, a avaliação é e será nossa parceira a nos sinalizar a qualidade do resultado de nosso agir tanto profissional como cotidiano.

No cotidiano pessoal, atuamos avaliativamente de modo usual, porém, no cotidiano profissional, necessitamos atuar de maneira consciente, escolhida e  decidida. Tanto em nosso cotidiano pessoal como em nossa atividade profissional, necessitamos de nos servir dos atos avaliativos tendo em vista a obtenção de resultados positivos.

Todavia, importa acrescentar uma observação. O ideal é que nos sirvamos dos atos avaliativos sempre a favor do sucesso e do bem-viver por parte de todos e, no caso, do ensino a serviço da aprendizagem de todos os nossos estudantes.

Nesse contexto, importa assumirmos a filosofia da busca de resultados satisfatórios a favor de todos!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

143 - COMPREENDENDO O ATO DE AVALIAR: aprendizagem, instituição e sistema de ensino

 

COMPREENDENDO O ATO DE AVALIAR

aprendizagem, instituição e sistema de ensino[1]

 

Cipriano Carlos Luckesi

 

 

INTRODUÇÃO

No texto que se segue, o leitor encontrará três tratamentos da fenomenologia da avaliação em educação:

1 – Compreensões epistemológicas essenciais do ato de avaliar cuida do conceito do ato de avaliar, concebido como ato de investigar a qualidade da realidade;

2 – Uso dos resultados da investigação avaliativa desdobra o conteúdo do tópico 1 e está comprometido com os usos classificatório e uso diagnóstico dos resultados do ato avaliativo;

3 – Avaliação em educação está articulado com a fenomenologia da prática da avaliação em educação: da aprendizagem, institucional e de larga escala.

1. COMPREENSÕES EPISTEMOLÓGICAS DO ATO DE AVALIAR

1.1. O ato de avaliar é constitutivo do ser humano

O ato de avaliar nasce com a emergência do ser humano no Planeta Terra. Ele faz parte dos três âmbitos de práticas de conhecimento que são universais:

(1) todo ser humano conhece fatos, tanto através do senso comum (conhecimento cotidiano) como do senso crítico (filosofia, ciência, artes...);

(2) todo ser humano conhece valores, e, pois, avalia através do senso comum emocional (os julgamentos emergem de dentro de nós), assim como através dos recursos conscientes e metodologicamente praticados (investigação avaliativa intencional).

 

(3) todo ser humano age com base nessas duas áreas de conhecimento

 

Não existe conduta humana que tenha sido escolhida - consciente ou inconscientemente – sem ter como base uma qualificação da realidade. A avaliação subsidia nossas escolhas, que acreditamos ser as melhores. Ninguém de nós escolhe um ato ou uma prática com o objetivo de produzir resultados negativos. Sempre realizamos escolhas na expectativa de que obteremos um resultado positivo, ainda que esse positivo possa ser um positivo somente para nós e não para todos do nosso entorno ou para a humanidade.

As práticas avaliativas avaliações cotidianas, de maneira comum, implicam em atos imediatos pelos quais somos tomados. As avaliações conscientes, por sua vez, nos subsidiam a escolher e encontrar as melhores soluções para os impasses com os quais nos defrontamos em nosso cotidiano. A avaliação, pois, faz parte da constituição de cada um de nós seres humanos.

1.2. Considerações epistemológicas sobre o ato de avaliar

a) Descritiva da realidade

 

 

Epistemologicamente, o ato de avaliar é um ato de investigar a qualidade da realidade, fator que implica em proceder (a) sua descritiva e (b) sua qualificação. Desse modo, o primeiro passo do ato de avaliar é a descritiva da realidade, a partir da qual ocorrerão os procedimentos de sua qualificação. À semelhança do que ocorre no âmbito da ciência, o ato de avaliar tem um objeto a ser avaliado, fator que exige sua descritiva através de uma observação configurada por variáveis definidas.

Usualmente, no cotidiano, fazemos isso de modo imediato e pelo senso comum, de tal forma que nem mesmo parece que praticamos uma observação da realidade, em decorrência da qual temos sua descritiva e realizamos sua qualificação, com base na qual praticamos nosso agir. Essa instantaneidade nos atos do cotidiano ocorre devido ao fato de que, nesse contexto, o ato avaliativo se dá sem o uso de uma metodologia constituída de modo crítico.

Tendo presente a compreensão exposta no parágrafo anterior, passemos a compreender a prática do ato de avaliar conduzida de forma metodologicamente consciente.

Nesse contexto, o primeiro passo é a descritiva do objeto a ser avaliado, fator que que implica em uma coleta de dados tendo presente suas variáveis constitutivas.

No senso comum, a coleta de dados usualmente ocorre de modo espontâneo e, em decorrência disso, por vezes, superficial; e, no âmbito do senso crítico, a coleta de dados obrigatoriamente deve ser conduzida de modo metodologicamente consciente e consistente. Nesse contexto, há exigência de uma rigorosa coleta de dados que lhe dê base.

Em qualquer investigação e também no caso da avaliação como investigação da qualidade da realidade, necessitamos de recursos técnicos que nos possibilitem coletar os dados que a caracterizem e a descrevam. Contudo, como nossa capacidade de observar e descrever a realidade tem possibilidades variadas, necessitamos estabelecer e utilizar  recursos técnicos específicos que ampliem nossa capacidade de observá-la e descrevê-la.

Por exemplo, como observar o solo lunar e descrevê-lo, sem ter a posse de um potente telescópio como recurso necessário para essa prática? Como observar micro-organismos e descrevê-los, sem o uso de um microscópio? Como coletar a opinião de cidadãos sobre fatos e acontecimentos, sem entrevistá-los? Como poderíamos saber aquilo que o outro está sentindo, se não lhe perguntarmos?

No processo de coletar criticamente dados tendo em vista uma investigação - portanto, de forma consciente e explícita -, importa usar instrumentos de coleta de dados, metodologicamente estruturados, que podem variar desde um roteiro de observação, um roteiro de entrevista, um questionário, a instrumentos óticos, físicos, bioquímicos e outros mais, que viabilizem coletar dados essenciais e que, consequentemente, subsidiem descrever a realidade da forma mais precisa possível.

Sem uma cuidadosa coleta de dados, podemos nos enganar nas afirmações que viermos a fazer a respeito da realidade, seja do ponto de vista do seu funcionamento (ciência), seja do ponto de vista de sua qualidade (avaliação).

Caso os recursos de coleta de dados – no âmbito da avaliação - estejam elaborados de forma inadequada ou insatisfatória, nossa descritiva da realidade será distorcida, fator que, consequentemente, gerará sua qualificação também distorcida, desde que esta se assenta sobre aquela.

Uma satisfatória descritiva da realidade será inviabilizada, caso os dados coletados - seja por uma distorção ideológica, seja por uma distorção metodológica - não descrevam com precisão necessária o objeto da investigação que estamos abordando.

b) Atribuição de qualidade à realidade descrita

A avaliação, como investigação da qualidade da realidade, para além de sua descritiva, implica em sua qualificação. A qualificação, que, epistemologicamente, se apresenta como a essência do ato avaliativo, refere-se a uma atribuição de qualidade à realidade. A descritiva da realidade, como já sinalizamos anteriormente - e aqui reforçamos -, tanto serve de base para ciência como para a avaliação. No caso da ciência, ela possibilita compreender a constituição e o funcionamento da realidade investigada e, no caso da avaliação, possibilita sua qualificação de modo consistente.

Como se chega à qualificação da realidade, o segundo passo do ato avaliativo? A atribuição de qualidade realidade – seja ela factual, psicológica, cultural, religiosa, emocional, entre outras - se processa através de uma comparação da realidade descrita com um padrão ou critério de qualidade assumido como satisfatório.

Se as características da realidade descrita preenchem o critério de qualidade assumido como válido, atribuímos-lhe a qualidade plenamente positiva; caso essas características estejam aquém desse critério, atribuímos-lhe uma qualidade com base em uma escala que se estende entre o positivo e o negativo.

Existem os critérios de qualificação da realidade que usamos de modo espontâneo no cotidiano, em função dos quais emitimos nossas opiniões, que, na quase totalidade das vezes, trazem a marca da subjetividade individual, vinculada aos estados emocionais de cada um de nós. As expressões - “Para mim, é assim”; “Eu sinto dessa forma”, entre outras - configuram essa fenomenologia.

Todavia, existem também critérios metodologicamente traçados a partir de estudos e pesquisas sobre a qualidade necessária de uma determinada realidade ou de uma determinada conduta. Por exemplo, qual a conduta satisfatória de um piloto de um avião comercial? Qual a conduta satisfatória de um cirurgião cardíaco? Qual a qualidade que deve ter uma laje ou uma viga na construção de um determinado prédio residencial? Qual é o critério para avaliar a qualidade da conduta de um psicoterapeuta ao atender um cliente?

Critérios de qualidade para essas realidades e práticas, assim como para muitíssimas outras, são estabelecidos tendo por base estudos e pesquisas nas diversas áreas de conhecimento e ação. Tanto o estabelecimento como o uso desses critérios ocorrem - e devem ocorrer - de modo intencional. No Brasil, a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - oferece parâmetros de qualidade para múltiplas atividades humanas.

Tomemos a conduta de um alfaiate como um exemplo do cotidiano que nos permite a percepção de como funciona a qualificação nos atos avaliativos. Ao produzir uma roupa para um cliente, o profissional da costura poderá levar em consideração múltiplas variáveis que lhe possibilitem qualificar sua costura frente a um critério de qualidade assumido como satisfatório no atendimento das necessidades daquele que demanda seu serviço.

No caso, se esse profissional da costura estiver verificando a qualidade da roupa feita em relação à variável adequação ao corpo do cliente, terá que usar como critério de qualidade o “próprio corpo do cliente”, desde que a roupa deverá estar adequada ao seu corpo. Mas, vamos supor que, somando-se à variável anterior, o profissional de costura estará se dedicando a avaliar como profissionalmente está cumprindo o design solicitado para fazer a roupa. Então, caberá perguntar pelo critério de avaliação que, nesse caso, seria o design contratado pelo cliente.  Com essa compreensão, podemos perceber que o ato de avaliar leva em consideração mais que uma única variável, assim como bastará um único critério de qualidade.

Nesse com texto, dever-se-á levar em conta quantas variáveis e quantos critérios forem necessários para qualificar o determinado objeto em foco no ato avaliativo. Por vezes, um objeto de investigação avaliativa - como também na investigação científica - exigirá que se leve em conta múltiplas variáveis e, no caso da avaliação, também múltiplos critérios de qualidade.

Imaginemos, agora, um engenheiro, um arquiteto, um bioquímico, um professor em sala de aula – entre outras possibilidade -, todos esses profissionais deverão ter presente as variáveis e os critérios intencionalmente construídos para orientar e aquilatar os resultados de sua ação. Condições equivalentes serão exigidas para avaliar quaisquer objetos, sejam eles materiais, culturais, psicológicos, de conduta, de atitude, resultados de ações variadas.

Para facilitar a compreensão dos procedimentos avaliativos, podemos nos servir das categorias gramaticais substantivo e adjetivo. Pela gramática, aprendemos que o substantivo descreve o objeto ao qual ele se refere; e o adjetivo, por sua vez, qualifica o substantivo, isto é, qualifica aquilo que está descrito pelo substantivo.

O substantivo está vinculado ao aspecto factual da realidade e o adjetivo à qualidade que lhe é atribuída. O substantivo atém-se à descritiva da realidade; o adjetivo está comprometido com sua qualificação. A descrição é única, mas a atribuição de qualidade pode variar para mais ou para menos segundo uma escala de qualidades.

Epistemologicamente, se diz que a qualificação exige uma posição de não-indiferença em relação à realidade, isto é, diante da realidade, pode-se considerá-la positiva ou negativa. O substantivo, desde que é descritivo, é único – ou seja “é/não é” -, a qualificação, por sua vez, pode variar entre os dois polos, o positivo e o negativo.

A exemplo, podemos relembrar que uma mulher (substantivo) não deixará de ser mulher se for considerada bela ou com outra qualidade estética (adjetivo); coisa semelhante ocorre com qualquer outra realidade expressa substantivamente. A qualidade atribuída à realidade somente a qualifica, não a modifica em sua essência. O que modifica uma realidade é a modificação substantiva, ou seja, fenomenológica.

E, finalmente, vale registrar que o ato de avaliar se encerra com a qualificação da realidade, que, por sua vez, expressa o resultado de uma investigação avaliativa.

2. USO DOS RESULTADOS DA INVESTIGAÇÃO AVALIATIVA

Existem duas possibilidades de uso dos dados do ato avaliativo: o uso classificatório e o uso diagnóstico. O primeiro, assume a realidade presente avaliada como definitiva, por isso, pode classificá-la; o segundo uso assume a realidade presente como transitória ou em construção, por isso, investirá na compreensão da situação expressa através de um conhecimento que subsidia decisões a respeito de intervenções necessárias na realidade tendo em vista a obtenção do melhor resultado a ser obtido. Essas duas modalidades de uso dos resultados dos atos avaliativos, sempre estiveram presentes na vida humana e na história a humanidade.

A modalidade classificatória ocorre sempre que o gestor de uma ação deseja estabelecer o seu lugar em uma escala classificatória, que variará entre as qualidades máxima e mínima, tal como primeiro/último lugar; ótimo/péssimo; belo/feio.... No caso da prática educativa escolar no Brasil, a escala está, comumente, estabelecida por registros numéricos, usualmente denominados de notas escolares, variando de 0 (zero) a 10 (dez).

A modalidade diagnóstica, por sua vez, subsidia decisões relativas aos processos em andamento. Então, subsidia cuidados a serem praticados pelos gestores de uma ação sempre na busca de resultados satisfatórios, desde que o ser humano, em princípio e em sã consciência, aposta no sucesso de sua ação.

A decisão de um gestor em usar classificatoriamente os resultados do ato avaliativo, por si, configura que a ação já se encerrou e, por isso, essa classificação assume uma posição “definitiva”; já o gestor, que está usando os resultados do ato avaliativo como diagnóstico, está admitindo que a ação ainda está em curso e, por isso, pode ser modificada, usualmente, na busca de mais satisfatoriedade.

A curva estatística de Gauss - denominada “curva normal” - permite uma classificação de tudo o que existe entre inferior, médio e superior, sendo que a categoria médio é composta usualmente pela maioria dos indivíduos de uma população classificada, alguns são alocados na categoria superior e outros tantos na categoria inferior. Nesse contexto, essa modalidade de curva estatística é considerada uma curva simétrica, devido um maior volume de indivíduos serem alocados no “médio” e menores volumes nas pontas “inferior” e “superior”; razão pela qual o desenho visual dessa curva estatística se parece com o perfil de um chapéu, alto no meio e raso nas abas.

Essa compreensão classificatória atinge também os atos educativos, como teremos oportunidade de sinalizar, um pouco mais à frente. Essa é a visão mais comum que se tem da distribuição da qualidade da realidade em grupos populacionais, inclusive de estudantes em sala de aula. A curva normal de distribuição apresenta um olhar conservador da realidade, que constantemente apresentará o mesmo desenho: maior volume no espaço “médio” e menores volumes nas pontas “inferior” e “superior” da curva estatística.

Por outro lado, quando há um investimento constante do gestor da ação na busca de resultados satisfatórios, a investigação avaliativa subsidiará suas decisões na perspectiva da construção de resultados satisfatórios desejados. Então, a curva estatística será positivamente assimétrica, o que implica que a população avaliada estará alocada no ponto de qualidade satisfatória desde que, para isso, foram dedicados múltiplos investimentos.

No caso, o uso classificatório dos resultados da avaliação está comprometido com aquilo que se considera satisfatório no ponto final da ação planejada e executada. Já o seu uso diagnóstico está comprometido com um processo construtivo, seja para a melhoria e aperfeiçoamento dos resultados da ação, seja para a requalificação de um resultado já obtido. O uso classificatório é estático; o uso diagnóstico é dinâmico.

Ainda vale uma observação relativa à compreensão de que um gestor que atua junto a seres humanos, um educador, por exemplo, e que tem o desejo claro de que todos ao seu redor - no caso os seus estudantes - cheguem à aprendizagem necessária, a curva estatística classificatória, que leva o nome de Gauss - seu criador -, não será nada útil, a não ser para nos informar que ainda não estamos investindo suficientemente em todos os nossos estudantes a fim de que todos atinjam a mestria nos conteúdos com os quais estamos trabalhando.

Para aquele que efetivamente ensina (o que implica que o estudante aprende), importa que os resultados finais apresentem uma curva estatística assimetricamente positiva, ou seja, uma curva estatística na qual a totalidade da população abordada estatisticamente se concentra no seu topo. O fato de “todos terem aprendido o necessário” é muito diferente do fato de que uma maioria permanece no “médio” e alguns atingem o nível superior (satisfatório), assim como um certo número permanece na faixa “inferior” (insatisfatório).

Desse modo, o ideal do uso classificatório dos resultados da avaliação em educação - no que se refere à aprendizagem dos estudantes - é que o padrão ideal de aprendizagem passe a ser o ponto satisfatório da escala no qual todos devem chegar em termos de classificação. Para a prática educativa, só existirá, então, a possibilidade de uma curva estatística final positivamente assimétrica, ou seja, com todos os estudantes alocados na sua parte superior. No desdobramento do uso classificatório dos resultados da avaliação, havendo premiação, todos seriam premiados, desde que todos teriam atingido a mestria.

3. AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Existem variadas possibilidades de uso sistemático da investigação avaliativa em educação. Nesse contexto, a seguir, vamos nos dedicar a compreender três dessas modalidades: avaliação da aprendizagem, avaliação institucional, avaliação de larga escala.

3.1. Avaliação da aprendizagem

Vamos nos dedicar a compreender a avaliação da aprendizagem em sala de aula, na qual, tendo presente as características etárias, psicológicas e curriculares dos estudantes, o educador, como gestor da sala de aula, praticará o ensino, investindo na aprendizagem de todos, desde que todos vêm para a escola para aprender e desenvolver-se.

Isso implica que o educador deve ter plena consciência de sua ação e dos resultados que deseja produzir junto aos seus estudantes, assim como pleno investimento necessário a fim de que os resultados de sua ação pedagógica sejam satisfatórios frente às proposições estabelecidas.

Nesse contexto, como gestor da sala de aula, o educador agirá ensinando em busca dos resultados positivos decorrentes de sua ação em conformidade com o estabelecido no Planejamento Curricular, traduzido em Plano de Ensino, como guia para a ação pedagógica em sala de aula.

É no seio dessa prática de ensinar-aprender que cabe a prática da avaliação da aprendizagem e, no caso, os seus resultados podem ser utilizados tanto sob a forma classificatória como sob a forma diagnóstica.

A forma classificatória da avaliação da aprendizagem através da prática dos exames escolares foi usada ao longo da história, do século XVI para cá, com conotações variadas.

De início, com as definições jesuíticas na Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Ordenamento e Institucionalização dos Estudos na Sociedade de Jesus), obra publicada pela primeira vez em 1599 e que introduziu no âmbito da educação institucional o ensino simultâneo, os exames ocorriam uma vez por ano, ao seu final. Contudo, ao longo da Modernidade, os exames escolares seguiram ganhando espaço no âmbito escolar como um todo assim como modificando seu modo de ser.

É interessante observar que, quando os jesuítas, iniciadores da moderna organização escolar, propuseram, no decurso da segunda metade do século XVI, a prática dos exames escolares exclusivamente ao final do ano letivo, eles definiram a necessidade de um constante investimento no ensino cotidiano eficiente, estabelecendo um ritual para as aulas configurado da seguinte modo:

(a) oração – os jesuítas eram e são religiosos católicos, então, as atividades deveriam ser precedidas por uma oração;

(b) após a oração, iniciava-se a aula com uma preleção, ou seja, a exposição do conteúdo a ser aprendido;

(c) a seguir, a aula prosseguia com os exercícios relativos ao conteúdo exposto, tendo em vista sua assimilação ativa;

(d) correção coletiva dos exercícios;

(e) superação das dúvidas e dificuldades dos estudantes em relação ao conteúdo abordado;

(f) definição de uma tarefa a ser executada em casa relativa ao conteúdo ensinado.

O dia escolar seguinte iniciava-se com a oração e a correção dos exercícios do dia anterior; a seguir, nova preleção e todos os atos do ritual acima exposto.

O professor deveria ter uma Pauta (uma Caderneta), na qual registrava a situação de cada estudante de sua turma, em termos do sucesso nas aprendizagens. Essa Pauta deveria ser utilizada pela Banca Examinadora por ocasião dos Exames Gerais, que ocorriam por uma única vez no decurso ano letivo -  propriamente ao seu final -, tendo em vista integralizar as condições de aprovação ou reprovação do estudante na série escolar que frequentava. Os exames gerais, no caso, eram precedidos no decurso do ano letivo por um ensino consistente, que deveria formar as competências dos estudantes.

Com o passar do tempo, os exames escolares se multiplicaram nas escolas no decurso do ano letivo, chegando a existir exames semanais, mensais, semestrais e anuais, obscurecendo a prática ativa do ensino, cujos resultados eram registrados na Pauta do Professor, que tinha por objetivo garantir um acompanhamento de cada estudante ao longo do ano letivo, com os respectivos registros de suas aprendizagens.

No caso, o padrão ideal a ser alcançado em termos de aprendizagem por parte dos estudantes era o padrão mais alto da tabela de classificação. Também vale registrar que, na história da educação ocidental, essa determinação construtiva não fora efetivamente sustentada.

Nesse contexto, o registro da classificação do estudante em sua aprendizagem, vagarosamente, foi se tornando mais importante que a própria aprendizagem. As denominadas notas escolares, se tornaram independentes da efetiva aprendizagem. Hoje, de modo usual, ao invés de se perguntar a um estudante - “Como foi sua aprendizagem em tal conteúdo?”; perguntamos - “Que nota você tirou?”

Sob a ótica diagnóstica, como parceira do professor no papel de gestor pedagógico da sala de aula em sua ação construtiva - sinalizando-lhe a qualidade dos resultados de seus investimentos na aprendizagem e no desenvolvimento de seus estuantes -, a avaliação praticamente só retornou a ser considerada sob a ótica diagnóstica a partir de 1930, com as compreensões teóricas formuladas por Ralph Tyler, assumindo que a prática educativa deve produzir resultados positivos para todos os estudantes e, não somente para poucos, considerados os melhores.

O uso dos resultados do ato avaliativo sob essa ótica subsidia o professor com o gestor da ação pedagógica a tomar sucessivas decisões a fim de que todos os seus estudantes aprendam o necessário e, em consequência, se desenvolvam. Desse modo, a curva estatística de aproveitamento escolar será assimétrica. Ou seja, ninguém na parte inferior da curva estatística de distribuição dos estudantes em sua aprendizagem, porém, todos na sua parte superior.

Qual seria o ideal de uso das modalidades - classificatória e diagnóstica - de avaliação na prática do ensino? A resposta é - as duas modalidades -, com a condição de que esta afirmação seja compreendida de modo adequado e satisfatório.

O padrão classificatório expressará, como já sinalizamos acima, o padrão de qualidade necessário ao qual todos os estudantes devem chegar ao final do período de ensino; afinal, o topo da curva estatística que, obrigatoriamente, deverá ser assimétrica.

Para tanto, importa que os educadores assumam como meta de sua ação pedagógica um ensino que possibilite classificar todos os estudantes no nível máximo da curva assimétrica, ou seja, que todos aprendam o necessário, estabelecido curricularmente e praticado em sala de aula. 

Já, a modalidade diagnóstica de uso dos resultados da avaliação deve ocorrer, no caso, subsidiando as decisões no decurso do processo de ensino, de tal forma que todos os estudantes atinjam o nível máximo previsto de satisfatoriedade, ou seja, que todos aprendam o efetivamente necessário, estabelecido no Currículo escolar e traduzido no Plano de Ensino de cada professor.

Ocorre uma distorção quando os educadores se servem exclusivamente da modalidade classificatória, pautados em uma escala de qualidades, que vai do mais para o menos ou do menos para o mais, sem servir-se permanentemente da modalidade diagnóstica em todo seu percurso de ensino.

O uso mais comum - ou quase que exclusivo -, em todas as nossas escolas é o da modalidade classificatória dos resultados da avaliação da aprendizagem através de uma escala estabelecida entre extremos, tais como - aprovado/reprovado; primeiro lugar/último lugar; aprendeu/não aprendeu –, portanto, mais próxima da curva estatística de distribuição denominada normal do que de uma curva assimétrica do ponto de vista positivo, a nosso ver a curva estatística ideal para uma prática educativa consistente e significativa.

Além de compreender e praticar adequadamente as modalidades de uso dos resultados dos atos avaliativos sob as óticas classificatória e diagnóstica, acima abordadas, torna-se fundamental compreender e praticar a elaboração satisfatória dos instrumentos de coleta de dados a respeito da aprendizagem dos estudantes, pois que eles coletam os dados que subsidiam, de um lado, a qualificação da aprendizagem dos estudantes e, de outro, subsidiam as decisões do educador em suas condutas pedagógicas na sala de aula. Afinal, importa dados coletados com precisão e com cuidados metodológicos necessários tendo em vista subsidiar juízos de qualidade consistentes sobre a aprendizagem dos estudantes.

Infelizmente, para a prática cotidiana de coleta de dados sobre a aprendizagem dos estudantes em nossas salas de aula, os instrumentos de coleta de dados têm sido construídos e utilizados sem que se leve em conta - de modo suficiente - as qualidades necessárias acima indicadas.

Por vezes, no âmbito do senso comum, afirmamos que, se elaborarmos instrumentos de coleta de dados sobre a aprendizagem dos nossos estudantes no limite dos conteúdos e da forma como ensinamos, os testes serão muito fáceis e todos os estudantes serão aprovados. De fato, a investigação avaliativa no âmbito do ensino-aprendizagem institucional devem, pois, ser simplesmente compatíveis com o ensinado e o aprendido.

No caso, importa ter ciência se nossos estudantes aprenderam aquilo que lhes fora ensinado e da forma como fora ensinado. Nem mais difícil, nem mais fácil; simplesmente compatível com o ensinado, pois o que se deseja saber é se os estudantes aprenderam aquilo que fora ensinado e da forma como fora ensinado.

Então, na elaboração de um instrumento de coleta de dados para avaliação da aprendizagem dos nossos estudantes, importa ter presente as seguintes características:

(a) sistematicidade, isto é, cobrir todos os conteúdos curriculares essenciais ensinados, nem mais nem menos que isso;

(b) linguagem compreensível, ou seja, as perguntas e proposições de atividades necessitam ser plenamente compreendidas pelos estudantes, desde que deverão manifestar seu desempenho em relação àquilo que se lhes solicita. Caso não compreendam aquilo que se lhes pede, como poderão manifestar um desempenho satisfatório? Só se pode responder adequadamente uma pergunta bem compreendida, da mesma forma que só se pode realizar uma tarefa desde que ela seja plenamente compreendida;

(c) compatibilidade entre ensinado e aprendido, em termos de conteúdos, níveis de dificuldade e de complexidade com o trabalhado em sala de aula, nem mais fácil nem mais difícil;

(d) precisão naquilo que se pergunta ou naquilo que se pede como tarefa ao estudante - professor e estudante necessitam ter a mesma compreensão relativa a uma determinada pergunta ou à uma determinada tarefa a ser realizada. Perguntas imprecisas poderão receber respostas também imprecisas. Tarefas definidas imprecisamente não poderão ser realizadas com precisão.

Assim sendo, os professores, ao elaborar instrumentos de coleta de dados para a avaliação da aprendizagem dos seus estudantes, minimamente, deverão ter presentes as quatro caraterísticas, acima indicadas, ou seja, manter perguntas e tarefas comprometidas com aquilo que fora efetivamente ensinado assim como do modo como fora efetivamente ensinado e aprendido em sala de aula.

Vale ainda uma observação: a fim de que os estudantes aprendam efetivamente aquilo que fora ensinado, importa a condição de que o ensino seja ativo, desde que o cérebro humano, centro administrativo de nossas vidas, constrói os conhecimentos e as habilidades de modo ativo.

Não existe, pois, possibilidade de uma aprendizagem significativa se dar de forma mental e neurologicamente passiva por parte dos nossos estudantes. Aquilo que denominamos, cotidianamente, de aprendizagem de memória, usualmente, é esquecida no momento subsequente devido não estar estruturada em um algoritmo neurológico de memória construído de modo ativo. Para que a aprendizagem se dê ativamente, o educador necessita investir nessa modalidade de ensinar e aprender.

Ensinar ativamente implica em:

(a) expor um conteúdo, seja de forma oral, seja através de livros didáticos, de textos, de tapes, de dicionários...;

(b) auxiliar o estudante na compreensão daquilo que fora exposto;

(c) possibilitar aos estudantes exercitar os conteúdos expostos;

(d) possibilitar aos estudantes atividades de aplicação do aprendido, fator que o sedimenta e, de modo simultâneo, alarga o campo do conhecimento;

(e) produzir sínteses do aprendido;

(f) indo mais longe um pouco, recriar o aprendido.

 

A avaliação, usada diagnosticamente, auxilia o educador a saber se seu estudante aprendeu, ou não, determinada compreensão da realidade articulada com as habilidades próprias de cada conteúdo. Se não adquiriu, seja a compreensão ou a habilidade, e o educador deseja que ele adquira esses recursos cognitivos, investirá mais e mais, até que essas condutas sejam apropriadas pelo seu estudante.

Condutas aprendidas transformam-se em algoritmos neurológicos permanentes; por isso, disponíveis na memória subconsciente do estudante como modos de ser e de  agir. E, assim sendo, quando necessário, poderá acessá-las e servir-se delas.

Nesse contexto, a investigação avaliativa, por si, não resolve nada. Ela simplesmente revela ao professor que a ação pedagógica por ele praticada já atingiu o resultado desejado ou que ainda não atingiu essa qualidade. No caso de ainda não ter atingido a qualidade necessária da aprendizagem de um determinado conteúdo, importa que o professor efetivamente tenha desejo de investir na obtenção desse determinado resultado; deverá decidir investir mais e mais na sua busca, caso isso seja necessário.

Quem produz resultado é a gestão de uma ação, não a avaliação. A avaliação revela a qualidade da realidade, por isso, é parceira do gestor da ação, no caso do professor, tendo em vista sinalizar-lhe a qualidade já obtida com seu investimento na realização do planejado. No caso, deverá decidir se encerra sua ação desde que já atingiu o resultado desejado, ou, se investe mais desde que ainda não se chegou à satisfatoriedade com o resultado até o momento obtido.

Pode-se, em síntese, compreender que o uso diagnóstico dos resultados da avaliação subsidia o gestor da ação – no caso, o professor - a construir o resultado que possa ser classificado como satisfatório. Para o gestor de uma atividade, só existe uma possibilidade: produzir um resultado que possa ser classificado como satisfatório.

Qualidades inferiores ao nível de satisfatoriedade não podem e não devem ser o objetivo do desejo de um profissional de educação; aliás, de nenhum profissional em seu âmbito de ação. Tendo em vista evitar a possibilidade de aceitação de níveis inferiores da qualidade da realidade, há que se ter habilidades suficientes para a ação. Importa a busca de resultados satisfatórios.

Nesse sentido, de modo epistemologicamente adequado, o uso classificatório dos resultados da avaliação tem a função de indicar ao gestor da ação o nível de satisfatoriedade a ser efetivamente obtido. No caso da sala de aula, todos os estudantes devem atingir esse nível; portanto, o educador, como gestor da sala de aula, deve investir para que todos atinjam o satisfatoriedade previamente definida em sua aprendizagem, o que significa todos os estudantes, com os quais, atuamos devem ser classificados nesse nível.

Para tanto, o uso diagnóstico dos resultados da avaliação será nosso parceiro, sinalizando-nos se os resultados de nossa ação já atingiram o nível de satisfatoriedade desejado, ou não. Em caso negativo e desejando o nível satisfatório positivo de resultado, devemos investir mais e mais até obtê-lo.

3.2. Avaliação institucional

As ações educativas escolares ou universitárias são praticadas dentro de uma instituição chamada escola ou universidade, que agrega um conjunto de profissionais organizados para cumprir suas tarefas sociais nas áreas do Ensino Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior e Pós-graduação. No nível superior, além do ensino, estão incluídas as tarefas de pesquisa e extensão universitária.

Os investimentos em uma prática de avaliação institucional em educação, no que se refere ao Ensino Superior, no Brasil, passaram a ocorrer após a implantação da Reforma Universitária, ocorrida em 1968. O PARU – Programa de Avaliação da Reforma Universitário - é do ano de 1983, e o PAIUB – Programa de Avaliação Institucional da Universidade Brasileira - é 1994. E, o exercício de avaliar os níveis de Ensino Básico e Médio chegou até nós com as proposições da avaliação de larga escala, da qual tratamos no próximo tópico deste texto.

O ditado popular - pelos frutos, conhecereis a árvore -, no caso das instituições escolares e universitárias, esse ditado se traduz da seguinte forma: Pelos resultados relativos aos seus objetivos, se conhecerá a qualidade da instituição. Então, para proceder a avaliação institucional, o primeiro dado a ser coletado refere-se aos resultados produzidos pela determinada instituição no que se refere aos seus objetivos específicos. Portanto, em primeiro lugar, haverá que se ter consciência do produto da instituição educativa, em termos da aprendizagem por parte dos estudantes, segundo o Currículo estabelecido. Essa é sua atividade-fim, como também seu resultado-fim.

Enquanto no âmbito da avaliação da aprendizagem, importa verificar o desempenho individual de cada estudante, aqui – no âmbito institucional - importa ter presente o desempenho coletivo dos estudantes, representando o desempenho da instituição, ou seja, entre “X” estudantes matriculados na educação infantil, quantos deles efetivamente aprenderam aquilo que deveriam aprender; o mesmo ocorrendo no que se refere às séries e turmas do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e às disciplinas no âmbito do Ensino Superior. No caso, o desempenho dos estudantes em sua aprendizagem, decorrente do investimento no ensino, será o parâmetro fundamental para atribuir qualidade à uma instituição educativa.

Subsequentemente a essa variável no processo de avaliação de uma instituição educativa - desempenho dos estudantes em suas aprendizagens, em conformidade com o Currículo estabelecido -, importará levar em conta os fatores que sustentam a vida da instituição, ou seja: sua estrutura e sua organização sustentam resultados positivos frente às suas atividades-fim?

Para se ter ciência das qualidades da instituição tendo em vista atender aos seus objetivos, importa:

(a) levar em conta as condições de pessoal a serviço dos seus objetivos, em termos de atendimento de suas necessidades institucionais - quantidade e qualidade;

(b) assim como levar em conta a dinâmica administrativa da instituição como um todo e do pessoal a seu serviço;

(c) e, ainda, a satisfatoriedade do espaço físico - quantidade e qualidade;

(d) as disponibilidades dos recursos técnicos e financeiros necessários para que essa instituição possa cumprir os seus objetivos.

Enfim, frente aos resultados-fins da instituição - aprendizagem e formação dos estudantes -, importa verificar a disponibilidade e a qualidade dos recursos alocados e disponíveis para que a instituição efetivamente possa cumprir os seus objetivos.

Nesse contexto, novamente, a avaliação será a parceira dos gestores da instituição a revelar-lhes as forças e as fragilidades de sua atuação, possibilitando, se se desejar, as correções necessárias.

Também aqui, importa ter presente os dois usos dos resultados da avaliação, anteriormente assinalados: o uso diagnóstico, que subsidia as decisões do staf administrativo da instituição frente aos seus objetivos, e, o uso classificatório, que permite ter ciência do atendimento, ou não, do padrão desejado de qualidade da instituição.

Vale sinalizar que o uso classificatório dos resultados da avaliação, como já assinalado anteriormente, expressa, em termos de qualidade, a meta a ser atingida pela instituição. Os resultados da avaliação, no caso, classificam a instituição em termos da satisfatoriedade dos resultados de sua ação.

Esse diagnóstico subsidiará os gestores da instituição na busca da satisfatoriedade dos resultados desejados de sua ação. Todas as instituições, inclusive as educativas não poderão sobreviver satisfatoriamente sem uma avaliação permanente de sua estrutura, sua organização e seu funcionamento.

3.3. Avaliação de larga escala

À semelhança da avaliação institucional, a avaliação de larga escala em educação atua sobre o coletivo e não sobre cada estudante individualmente, nem atua diretamente sobre cada instituição em si, mas sobre o Sistema de Ensino, tomado em seus diversos segmentos, que inclui a Instituição Educativa, o Município, o Estado, a Federação.

Haverá, sim, nessa circunstância avaliativa, a necessidade de que cada estudante expresse sua aprendizagem individual, porém, não para ser aprovado ou reprovado individualmente, mas, no caso, para subsidiar uma leitura estatística dos resultados obtidos pelo Sistema de Ensino composto por instituições (escolas, universidades), assim como para subsidiar a avaliação das estruturas político-administrativas, tais como Municípios, Estados, Federação. De fato, a avaliação de larga escala em educação, se inicia na turma de estudantes, acompanhada por um professor, tomada como a menor unidade do Sistema de Ensino, estendendo-se pelas instituições como um todo em sua estrutura e funcionamento.

Quantos estudantes desta turma aprenderam aquilo que deveriam ter aprendido? A seguir, quantos estudantes de todas as turmas da 1ª série aprenderam os conteúdos ensinados em matemática, em língua portuguesa, em geografia...? O mesmo correndo em todas as outras séries escolares e disciplinas universitárias  administradas pela instituição.

A seguir, quantos estudantes desta instituição lograram aprendizagem satisfatória? E, depois, neste Município, como está o desempenho na aprendizagem por parte dos estudantes segundo os níveis e séries atendidos pelo Sistema Educativo? Nesse Estado da Federação, como está o desempenho dos estudantes, por séries, turmas, níveis de escolaridade? No país como um todo, como se encontra o desempenho dos estudantes em termos de sua aprendizagem configurada nos Currículos estabelecidos para cada nível de ensino?

Como se encontram os componentes do Sistema de Ensino - Escolas, Municípios, Estados e Federação -, tendo em vista garantir condições de efetividade no ensino?

Essas perguntas cabem no que se refere aos diversos níveis de escolaridade - Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior, Pós-Graduação; afinal, uma leitura estatística do desempenho do Sistema Educativo no que se refere ao seu objetivo fundamental que é ensinar, cuja consequência deve ser a aprendizagem satisfatória e o desenvolvimento por parte de todos os estudantes.

A avaliação de larga escala tem por objetivo subsidiar decisões dos gestores do Sistema de Ensino, tendo em vista garantir a qualidade desejada dos resultados dos processos educativos em termos estatísticos, relativos às diversas instâncias político-administrativas do país. A Avaliação de Larga Escala subsidia todas as instâncias do ensino no país, a fim de que cada uma se autoanalise e busque condições de melhor atender aos seus objetivos.

No Brasil, desde o final dos anos 1980, vem se buscando a implantação de um Sistema Nacional de Avaliação da Educação, que hoje, se compõe de múltiplos investimentos, entre outros, no nível Federal: SABEB, Prova Brasil, Provinha Brasil, ANA, ENEM, ENAD, IDEB. Muitos estados e municípios do país também já estabeleceram seus respectivos Sistemas de Avaliação.

E há o Sistema Internacional de Avaliação em Educação, cuja atividade é realizada pelo Projeto PISA - Programme for International Student Assessment (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que, a partir do ano 2000, é realizado pela OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -, que realiza uma avaliação da educação em um conjunto de países, participantes da Organização e outros que são convidados. O Brasil integra o Projeto Pisa, desde seu início.

A avaliação de larga escala, como já afirmamos, subsidia os Gestores de Educação, nos variados níveis da Organização Social e Política do país a tomar decisões necessárias, tendo em vista a melhoria do Sistema de Ensino como um todo.



1. O presente texto tem uma versão anterior que foi enviada à FTD há alguns anos passados em função de uma conferência pronunciada pelo autor em um evento promovido por essa instituição. Para a presente publicação neste Site pessoal, o texto sofreu múltiplos retoques.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

142 - LUDICIDADE E ATIVIDADES LÚDICAS

142  - LUDICIDADE E ATIVIDADES LÚDICAS 

Cipriano Luckesi

 

Através do texto que se segue, desejamos compartilhar com todos os leitores deste BLOG que o livro intitulado Ludicidade e atividades lúdicas na prática educativa: compreensões conceituais e proposições está impresso e disponível. O livro trata da fenomenologia da ludicidade e do seu significado na vida humana e na educação.

 

As temáticas abordadas nesse referido livro são:

Capítulo 1 - Compreendendo o conceito de ludicidade;

Capítulo 2 - Ludicidade no espectro das áreas de conhecimento;

Capítulo 3 - Atividades lúdicas e sua função no desenvolvimento do ser humano;

Capítulo 4 - Atividades lúdicas e a restauração do equilíbrio entre as camadas embrionárias constitutivas do ser humano;

Capítulo 5 - Ludicidade e vida cotidiana na prática educativa;

Capítulo 6 - Sobre o brincar;

Capítulo 7 - Ludopedagogia: programa de estudos;

Capítulo 8 - Bibliografia geral;

Considerações finais;

Anexos - I, II e III

 

No livro acima referido  se encontra um estudo a respeito do fenômeno da ludicidade, cujos focos de atenção são:

(1) o que é ludicidade;

(2) a identificação do lugar teórico da ludicidade entre os diversos campos do conhecimento humano;

(3) o papel e o significado das atividades lúdicas no desenvolvimento do ser humano;

(4) as atividades lúdicas como recursos que subsidiam a restauração do equilíbrio neuropsicológico do ser humano no decurso da vida;

(5) o papel da ludicidade na vida humana;

(6) uma abordagem sobre o significado do ato de brincar;

(7) a proposta de uma programa de estudos a respeito da temática da ludicidade; programa nascido de experiências de ensino universitário a respeito dessa temática;

(8) a apresentação de uma bibliografia geral sobre a temática da ludicidade organizada alfabeticamente segundo os sobrenomes dos autores;

(9) apresentação de algumas considerações finais a respeito da temática da ludicidade;

(10) e, finalmente, a partilha de três programa de ensino sobre a temática da ludicidade, que foram praticados pelo autor em suas atividades de ensino na Pós-Graduação em Educação, na Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.

 

Outrossim, comunicamos a todos os leitores, que a ludicidade é compreendida ao longo do texto desse referido livro como um modo de ser do próprio ser humano. O brincar é incluído no seio das atividades lúdicas, porém importa estarmos cientes de que a ludicidade é um estado psicológico interno do ser humano que, ao mesmo tempo, integra e vai para além do brincar. Ludicidade tem a ver com um estado interno de realização, de bem-estar e de alegria do ser humano. Essa é a abordagem central do meu novo livro que, através da disponibilidade e da decisão da Cortez Editora de publicá-lo, todos poderão ter acesso ao mesmo.

 

Como autor do texto acima referenciado, que brevemente estará publicado pela CORTEZ EDITORA, São Paulo, desejamos boas leituras e bons estudos a todos os leitores interessados na temática da ludicidade.





domingo, 18 de setembro de 2022

141– Avaliação da aprendizagem escolar: passado, presente e futuro, São Paulo, Cortez Editora, 2021

141 – Avaliação da aprendizagem escolar: passado, presente e futuro, São Paulo, Cortez Editora, 2021

Cipriano Luckesi

 

A Cortez Editora, no decurso do ano de 2021, publicou um livro de minha autoria a respeito da avaliação da aprendizagem escolar, cujo título se encontra acima nominando no presente post.

 

Para a elaboração desse livro foram utilizadas duas abordagens. A parte da publicação denominada LIVRO I contém um tratamento das concepções pedagógicas relativas à fenomenologia da avaliação da aprendizagem, constituídas nos períodos denominados da Modernidade e da Contemporaneidade, e, na parte denominada LIVRO II, o leitor encontrará uma proposição para a prática da avaliação da aprendizagem no cotidiano das atividades docentes em nossas escolas.

 

As páginas da publicação denominada de LIVRO I, na sua Parte A, aborda a avaliação da aprendizagem no seio das concepções pedagógicas denominadas Tradicionais, contém os capítulos denominados:

 

Capítulo I – Avaliação da aprendizagem escolar no contexto da Pedagogia Jesuítica; Capítulo 2 – Avaliação da aprendizagem escolar na Pedagogia de John Amós Comênio; Capítulo 3 – Avaliação da aprendizagem em Joahnn Friedrich Herbart.

 

 LIVRO I, Parte B, aborda a avaliação da aprendizagem nas Pedagogias da Escola Nova:

 

Capítulo 4 - Avaliação da aprendizagem na Proposta Pedagógica de Maria Montessori, Capítulo 5 - Avaliação da aprendizagem escolar na Pedagogia de John Dewey

 

 LIVRO I, Parte C, aborda a avaliação da aprendizagem nas Teorias da Tecnologia Educacional:

 

Capítulo 6 – Avaliação da aprendizagem em Ralph Tyler

Capítulo 7 – Avaliação da aprendizagem em Benjamin Bloom

Capítulo 8 – Avaliação da aprendizagem em Norman Gronlund

 

A parte da obra denominada LIVRO II, contém um único capítulo dedicado à abordagem do tema - Avaliação da aprendizagem: do presente para o futuro.

 

E, finalmente, encerrando o livro, um texto intitulado - Concluindo a presente publicação:  Posturas do professor no processo de ensinar e aprender.

 

Aao final do livro, o leitor encontrará ainda uma longa bibliografia sobre a temática da avaliação da aprendizagem tratada no decurso das páginas do livro.

 

Importa que o leitor possa observar que, ao longo da história da Modernidade e da Contemporaneidade, períodos nos quais foram constituídas as propostas pedagógicas conhecidas como Tradicionais, Escolanovistas e da Tecnologia Educacional, o tratamento predominante da fenomenologia da avaliação da aprendizagem está comprometido com a investigação da qualidade da aprendizagem dos estudantes, cujos resultados subsidiam as decisões dos educadores tendo em vista investimentos na aprendizagem satisfatória por parte de cada um e todos os estudantes matriculados em nossas instituições educativas

 

O presente post traz uma notícia sintética a respeito do livro por mim publicado, através da Cortez Editora, São Paulo, 2021 – Avaliação da aprendizagem escolar: passado, presente e futuro –, no qual os conteúdos abordados são fundamentais para todos nós profissionais que atuamos nas instituições de ensino, investindo na aprendizagem satisfatória e no consequente desenvolvimento de cada um dos estudantes com os quais atuamos no ensino.

 

Desejo a todos, uma boa leitura e muitas aprendizagens, tendo sempre como perspectiva o sucesso de nossa ação como educadores e como educadoras que atuamos nas instituições de ensino desse nosso imenso país.

 

Bons estudos a todos!