segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

83 -. Livros sobre avaliação no e-Book



Cipriano Luckesi

Informo que Cortez Editora disponibilizou os seguintes livros de minha autoria no eBook:

- Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições, 22a edição

- Sobre notas escolares: distúrbios e possibilidades, 1a edição.

 Lojas: iTunes, Livraria Cultura/Kobo, Google Play, Saraiva e Amazon.






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sábado, 6 de dezembro de 2014

82 - Inteligência emocional e avaliação da aprendizagem


 Cipriano Luckesi


O ser humano é complexo. Suas múltiplas facetas --- biológica, racional, emocional, espiritual, social --- funcionam como um sistema. Não há como um ser humano expressar-se exclusivamente como biológico ou somente como racional, ou somente como emocional, ou somente como espiritual. Essas facetas dão distintas, mas não separadas. Ao contrário, funcionam sistemicamente.

Todas as facetas atuam em conjunto, ainda que, em determinadas ações, uma delas seja a predominante na expressão do momento. Praticando esportes, não há como não ser, ao mesmo tempo, biológico, racional, emocional, espiritual; de forma semelhante, não haverá como um pesquisador, ao praticar investigação científica, suspender --- e muito menos suprimir --- uma dessas facetas. Elas compõem complexamente o ser humano.

A primeira faceta a estar presente em qualquer um dos nossos atos ou nossas reações é o fator emocional. Isso é facilmente observado. É o fator emocional que dá permissão, ou não, para que alguma ação se realize.

O fator emocional é tão poderoso na vida humana, que pode gerar doenças, incapacidades, desvios, reatividade, incapacidade para perceber determinados detalhes da realidade, mas também é base para um acolhimento, amoroso, para a aceitação de determinadas situações, para o investimento nas necessidades da vida...

Então, o educador, para auxiliar o educando na sua formação emocional, necessita ser o “adulto da relação pedagógica”, ou seja, aquele que cuidando de si mesmo e, pois, sabe quando e como pode (e deve) responder “com inteligência” aos atos dos educandos.

Um educador que reage aos educandos intempestivamente --- a partir de suas marcas biográficas, psicológicas, dificilmente poderá auxiliar os educandos a tomarem posse de si mesmos, pois que esse seu modo de ser estimulará também respostas intempestivas por parte dos educandos; daí a necessidade do educador ser o adulto da relação pedagógica. A toda ação, se dá uma reação de mesma proporção --- nos ensina a física. Se a ação ou reação do líder (no caso, o adulto na relação pedagógica) é intempestiva, a ação ou reação do liderado (o educando, na prática pedagógica) também o será.

Se o educador ocupar o lugar de adulto da relação pedagógica, em qualquer área que estiver atuando --- atividade física, teatralização, ensinando conteúdos das diversas matérias... ---, estará subsidiando os educandos na formação de sua faceta emocional. Os educandos estarão sendo liderados por alguém que, sendo adulto --- o que quer dizer com maturidade emocional ---, além das capacidades cognitivas necessárias para ocupar o lugar que está ocupando ---, saberá manejar as relações de modo saudável, fluido, integrativo.

A expressão “inteligência emocional”, utilizada por Daniel Goleman, em seu livro Inteligência emocional, expressa bem isso, ou seja, ser capaz de administrar a faceta emocional pessoal, de tal forma que viabiliza uma relação satisfatória com o mundo e com os outros,

No caso da relação pedagógica, o educador, como líder da sala de aula, ao lado de todos os outros ensinamentos --- tais como “domínio do corpo”, “elaborações conceituais”, “sensibilidade musical”, “capacidade de escrever”, “capacidade de expressar-se em público”... --- oferece aos educandos oportunidade de aprendizagem da administração da vida com “inteligência emocional”, isto é com sabedoria.

Conjuntamente com todas as outras atividades escolares, a aprendizagem do domínio e uso saudável dos estados emocionais se traduzirão na vida do educando em recurso que utilizará no estágio de desenvolvimento em que estiver, enquanto se encontra na escola, como também, posteriormente, já egresso da escola. Uma aprendizagem satisfatória, isto é, que se transformou em conduta habitual, será útil no presente como no futuro.

Contudo, importa que seja uma aprendizagem efetivamente satisfatória, o que implica ter presente todas as facetas do ser humano, como assinalamos anteriormente.

Como o desenvolvimento da inteligência emocional e seu uso no cotidiano escolar será recurso fundamental para as práticas avaliativas?

Evidentemente que a inteligência emocional é recurso fundamental para a vida, segundo a segundo. Ela é o suporte de nosso equilíbrio em todos os nossos atos cotidianos. E, como a prática avaliativa é um ato humano cotidiano, a posse de estados emocionais satisfatórios auxiliará o educando, de um lado, a ter consciência de si (autoavaliação), assim como poder colocar-se em situações de heteroavaliação e, com posse emocional de si mesmo, poder expressar o seu desempenho.

Para se aprender a administrar emocionalmente a vida, com inteligência e sabedoria, não é necessário que, na prática educativa, os educandos sejam colocados em situações de stresse, sejam elas quais forem, inclusive através dos recursos da heteroavaliação.

Heteroavaliação não deve ser uma oportunidade de ameaças, mas sim de administração inteligente da vida, tanto por parte do educador como por parte do educando.

Contudo, como o educador, em sala de aula, deve ser o adulto da relação pedagógica, importa que ele, em primeiro lugar, use com adequação e justeza sua inteligência emocional, permitindo que também os educandos aprendam a se conduzir dessa forma.

O ato de avaliar é simplesmente o ato de investigar a qualidade da realidade e, se necessário, a partir da qualidade identificada, tomar decisões de novos investimentos na busca do melhor resultado. O ato pedagógico é uma ação e, como tal, visa obter o melhor resultado (ninguém, em sã consciência, investe na obtenção do negativo). Daí a prática avaliativa, na sala de aula, ser, entre muitas outras oportunidades, uma excelente situação para o ensino, a aprendizagem, o desenvolvimento e o uso da inteligência emocional para educadores e educandos.

Todos emocionalmente focados no sucesso, nunca no confronto, no castigo ou no fracasso. O educador, como líder da sala de aula (seu gestor), pode e deve dar-lhe o tom de vida, de lugar que se convive bem, para produzir o melhor resultado. De alegria, afinal!




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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

81 - Práticas complementares: avaliação aprendizagem centrada no educando e avaliação do sistema de ensino

Cipriano Luckesi

Como a avaliação da aprendizagem centrada no educando pode subsidiar a avaliação do sistema de ensino e, pois, a busca dos objetivos educacionais do próprio sistema de ensino?

O educando é o aprendiz e somente ele pode revelar se aprendeu, ou não, o que foi ensinado. Por isso, somente o seu desempenho pode revelar sua efetiva aprendizagem; e, esta, por sua vez, revela a eficiência do sistema de ensino, isto é, se os educandos aprendem, o sistema tem sua eficiência; porém, se eles não aprendem, cabe perguntar: "que sistema de ensino é esse, que promete e não cumpre?"

O desempenho do educando em determinado conteúdo (informação, procedimentos metodológicos, habilidades, atitudes) revela se aprendeu o necessário Daí, a prática da avaliação da aprendizagem exigir do educador (que, nessa circunstância, assume o papel de avaliador) um cuidado metodológico consistente na investigação da qualidade da aprendizagem do educando e no seu uso pedagógico.

Nesse contexto, os recursos utilizados pelo educador --- no papel de avaliador --- necessitam ser utilizados com rigor metodológico, tendo em vista evitar que o diagnóstico da qualidade da aprendizagem do educando seja enganoso.

Recursos metodológicos utilizados sem o rigor necessário produzem enganos, fato que não subsidia ninguém na busca do sucesso de sua atividade.

Então, para uma prática avaliativa da aprendizagem do educando, importa: 

(01) parâmetros curriculares claros e precisos, que indicam o padrão de qualidade necessário na aprendizagem de determinado conteúdo;
(02) rigor metodológico na coleta de dados sobre o desempenho do educando (usualmente, no cotidiano de nossas escolas, essa prática tem se dado com recursos um tanto aleatórios, o que conduz a enganos); 
03) qualificação do desempenho do educando através da comparação dos dados obtidos com os níveis desejados de qualidade;
(04) a constatação de qualidade insatisfatória na aprendizagem do educando exige novos investimentos por parte do educador, caso tenha efetivo desejo de seu educando aprenda o que deveria aprender.

No contexto da aprendizagem, o centro de atenção é educando, pois que a educação institucional se destina a atendê-lo; fato que, por si, implica que todos os educandos aprendam o que necessitam aprender (definido nos currículos oficiais) e que, para tanto, o sistema de ensino deve envidar todos os seus esforços para que a ação pedagógica se apresente sempre de forma consistente e efetiva.

Desse modo, a avaliação da aprendizagem, em sala de aula, subsidia o educador , se necessário, a investir mais e mais nos educandos, tendo em vista garantir sua aprendizagem nos conteúdos curriculares.

Todavia, a avaliação da aprendizagem (comprometida com a aprendizagem individual do educando) é insuficiente para se ter certeza da eficiência cuidadosa do sistema de ensino com essa aprendizagem.

Um sistema é eficiente caso ele produza o que promete produzir. No caso, a instituição educacional anuncia e promete que os educandos, nela matriculados, aprenderão o necessário; mas, depois, ao invés do efetivo sucesso dos educandos em sua aprendizagem, emergem resultados insatisfatórios, reprovações.

Então, o sistema de ensino necessita e necessitará ser avaliado, tendo por base o desempenho dos educandos (aprendizes), destino final de todos os atos educativos. Sua aprendizagem revela a eficiência, ou não, do sistema, em ensiná-los de modo adequado e satisfatório.

Se os educandos --- objeto-fim da atividade da instituição de ensino --- não aprendem o que deveriam aprender, alguma coisa, na instituição de ensino (no sistema) não está funcionando a contento.
Se a instituição de ensino não está cumprindo o que promete, necessita de cuidados tendo em vista, efetivamente, cumprir o que promete. E, a avaliação tem por objetivo revelar-lhe, através do diagnóstico, o que não vai bem.

O educador, em sala de aula, é o último elo do sistema de ensino, na perspectiva descendente (o sistema tem seu extremo mais amplo na presidência da república com todo o seu staff para a educação e se encerra no outro extremo --- o educador em sala de aula). Após o educador, na hierarquia descendente do sistema de ensino, chega-se ao educando, que representa o sistema aprendente e que, portanto, tem o poder de revelar a eficiência, ou não, do sistema,

A avaliação é parceira do educador em sala de aula, à medida que lhe revela se sua atividade produziu o que deveria ter produzido (a aprendizagem satisfatória de todos os educandos em todos os conteúdos ensinados).

E, também é parceira do sistema de ensino ao revelar-lhe, através da qualidade da aprendizagem dos educandos, se ele (sistema) vem atingindo, ou não, o objetivo que é --- conforme amplamente anunciado --- o de garantir, através de todas as suas instâncias, aprendizagem satisfatória para todos os educandos.

Então importa, avaliar a aprendizagem dos educandos, mas, também, com esses mesmos resultados, fazer uma leitura da eficiência do sistema de ensino, que, de forma ascendente, se inicia na eficiência do educador em sala de aula; a seguir, na eficiência do diretor da escola e seu staff; acima, prefeitos municipais e seu staff; acima, governadores estaduais e seu staff; e, por último, presidência da república e todo o seus staff.

Esse complexo sistema --- do ponto de vista da educação escolar --- tem um único objetivo final que é garantir aprendizagem satisfatória a todos os educandos, cidadãos do país.

Então, avaliação da aprendizagem e avaliação do sistema de ensino, estão postas, conjuntamente, para subsidiar a busca da eficiência no ensino-aprendizagem, sendo que o sistema é o responsável por efetivamente ensinar; e, do ponto de vista da realidade, só terá ensinado com eficiência e adequação, se os educandos tiverem aprendido também de modo eficiente e adequado, à medida que eles são o objeto-fim da educação institucional.

O sistema só terá cumprido sua missão se todos os educandos tiverem aprendido o que se diz que eles devem aprender.

De todo jeito, a avaliação educacional está centrada no educando, seja devido ele ser o sujeito final da ação educativa, seja pelo fato de que sua aprendizagem revela a capacidade do sistema de ensino de ser eficiente e adequado, ou não.




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