quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

81 - Práticas complementares: avaliação aprendizagem centrada no educando e avaliação do sistema de ensino

Cipriano Luckesi

Como a avaliação da aprendizagem centrada no educando pode subsidiar a avaliação do sistema de ensino e, pois, a busca dos objetivos educacionais do próprio sistema de ensino?

O educando é o aprendiz e somente ele pode revelar se aprendeu, ou não, o que foi ensinado. Por isso, somente o seu desempenho pode revelar sua efetiva aprendizagem; e, esta, por sua vez, revela a eficiência do sistema de ensino, isto é, se os educandos aprendem, o sistema tem sua eficiência; porém, se eles não aprendem, cabe perguntar: "que sistema de ensino é esse, que promete e não cumpre?"

O desempenho do educando em determinado conteúdo (informação, procedimentos metodológicos, habilidades, atitudes) revela se aprendeu o necessário Daí, a prática da avaliação da aprendizagem exigir do educador (que, nessa circunstância, assume o papel de avaliador) um cuidado metodológico consistente na investigação da qualidade da aprendizagem do educando e no seu uso pedagógico.

Nesse contexto, os recursos utilizados pelo educador --- no papel de avaliador --- necessitam ser utilizados com rigor metodológico, tendo em vista evitar que o diagnóstico da qualidade da aprendizagem do educando seja enganoso.

Recursos metodológicos utilizados sem o rigor necessário produzem enganos, fato que não subsidia ninguém na busca do sucesso de sua atividade.

Então, para uma prática avaliativa da aprendizagem do educando, importa: 

(01) parâmetros curriculares claros e precisos, que indicam o padrão de qualidade necessário na aprendizagem de determinado conteúdo;
(02) rigor metodológico na coleta de dados sobre o desempenho do educando (usualmente, no cotidiano de nossas escolas, essa prática tem se dado com recursos um tanto aleatórios, o que conduz a enganos); 
03) qualificação do desempenho do educando através da comparação dos dados obtidos com os níveis desejados de qualidade;
(04) a constatação de qualidade insatisfatória na aprendizagem do educando exige novos investimentos por parte do educador, caso tenha efetivo desejo de seu educando aprenda o que deveria aprender.

No contexto da aprendizagem, o centro de atenção é educando, pois que a educação institucional se destina a atendê-lo; fato que, por si, implica que todos os educandos aprendam o que necessitam aprender (definido nos currículos oficiais) e que, para tanto, o sistema de ensino deve envidar todos os seus esforços para que a ação pedagógica se apresente sempre de forma consistente e efetiva.

Desse modo, a avaliação da aprendizagem, em sala de aula, subsidia o educador , se necessário, a investir mais e mais nos educandos, tendo em vista garantir sua aprendizagem nos conteúdos curriculares.

Todavia, a avaliação da aprendizagem (comprometida com a aprendizagem individual do educando) é insuficiente para se ter certeza da eficiência cuidadosa do sistema de ensino com essa aprendizagem.

Um sistema é eficiente caso ele produza o que promete produzir. No caso, a instituição educacional anuncia e promete que os educandos, nela matriculados, aprenderão o necessário; mas, depois, ao invés do efetivo sucesso dos educandos em sua aprendizagem, emergem resultados insatisfatórios, reprovações.

Então, o sistema de ensino necessita e necessitará ser avaliado, tendo por base o desempenho dos educandos (aprendizes), destino final de todos os atos educativos. Sua aprendizagem revela a eficiência, ou não, do sistema, em ensiná-los de modo adequado e satisfatório.

Se os educandos --- objeto-fim da atividade da instituição de ensino --- não aprendem o que deveriam aprender, alguma coisa, na instituição de ensino (no sistema) não está funcionando a contento.
Se a instituição de ensino não está cumprindo o que promete, necessita de cuidados tendo em vista, efetivamente, cumprir o que promete. E, a avaliação tem por objetivo revelar-lhe, através do diagnóstico, o que não vai bem.

O educador, em sala de aula, é o último elo do sistema de ensino, na perspectiva descendente (o sistema tem seu extremo mais amplo na presidência da república com todo o seu staff para a educação e se encerra no outro extremo --- o educador em sala de aula). Após o educador, na hierarquia descendente do sistema de ensino, chega-se ao educando, que representa o sistema aprendente e que, portanto, tem o poder de revelar a eficiência, ou não, do sistema,

A avaliação é parceira do educador em sala de aula, à medida que lhe revela se sua atividade produziu o que deveria ter produzido (a aprendizagem satisfatória de todos os educandos em todos os conteúdos ensinados).

E, também é parceira do sistema de ensino ao revelar-lhe, através da qualidade da aprendizagem dos educandos, se ele (sistema) vem atingindo, ou não, o objetivo que é --- conforme amplamente anunciado --- o de garantir, através de todas as suas instâncias, aprendizagem satisfatória para todos os educandos.

Então importa, avaliar a aprendizagem dos educandos, mas, também, com esses mesmos resultados, fazer uma leitura da eficiência do sistema de ensino, que, de forma ascendente, se inicia na eficiência do educador em sala de aula; a seguir, na eficiência do diretor da escola e seu staff; acima, prefeitos municipais e seu staff; acima, governadores estaduais e seu staff; e, por último, presidência da república e todo o seus staff.

Esse complexo sistema --- do ponto de vista da educação escolar --- tem um único objetivo final que é garantir aprendizagem satisfatória a todos os educandos, cidadãos do país.

Então, avaliação da aprendizagem e avaliação do sistema de ensino, estão postas, conjuntamente, para subsidiar a busca da eficiência no ensino-aprendizagem, sendo que o sistema é o responsável por efetivamente ensinar; e, do ponto de vista da realidade, só terá ensinado com eficiência e adequação, se os educandos tiverem aprendido também de modo eficiente e adequado, à medida que eles são o objeto-fim da educação institucional.

O sistema só terá cumprido sua missão se todos os educandos tiverem aprendido o que se diz que eles devem aprender.

De todo jeito, a avaliação educacional está centrada no educando, seja devido ele ser o sujeito final da ação educativa, seja pelo fato de que sua aprendizagem revela a capacidade do sistema de ensino de ser eficiente e adequado, ou não.




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