quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

91 – Mais uma vez sobre “ser exigente”


Cipriano Luckesi

(OBS - Ver os 'posts' 89 e 90 deste blog, que tratam do mesmo tema)


Em conferências, simpósios, seminários, ouço a argumentação de que há um lado do professor, professora, e há outro lado, que é do estudante. Certíssimo!

Não se deve ter dúvida de que há o lado do estudante, assim como o nosso de educadores, e, para compreender isso, importa retomar alguns pontos:

  1. tanto o educador como o educando têm uma estrutura psicofísica, que inclui todo o sistema neural constituído, de um lado, pela filogênese (constituição neurobiológica, ao longo de milhares e milhares de anos, que nos permitem todas as ações programadas e instintivas), e, de outro lado, pela ontogênese (nossa biografia pessoal constituída por todas as experiências e acontecimentos em nossa vida pessoal e relações com o mundo e com  os outros, que, afim, culmina em nossa individualidade)
  2. tanto pela filogênese como pela ontogênese, formamos --- entre outros componentes --- recursos de sobrevivência. Isso significa que buscamos um espaço material e psicológico continente, seguro, amistoso, viável para a vida; e, para o que, também nos defendemos de toda a qualquer ameaça à vida;
  3. em nosso cérebro, temos um segmento denominado “amigdala cerebral” (que tem essa denominação em função ter a forma de uma amêndoa, ”amígdala” na língua grega), responsável por nos alertar diante de qualquer ameaça e nos permitir o repouso quando em segurança;
  4. na relações com o mundo e nas relações interpessoais, nossas amigdalas cerebrais (são duas, uma em cada hemisfério cerebral) estão sempre em alerta, a fim de evitar que sejamos submetidos à situações que possam parecer ameaçadoras;
  5. em função disso, nossas amígdalas --- que não raciocinam, mas, automaticamente, reagem a qualquer situação que possa parecer ameaçadora --- nos conduzem, por vezes, a ter reações intempestivas frente a certas situações que “se parecem”, com situações do passado, que nos foram desagradáveis; antes que elas ocorram novamente, reagimos.
  6. o recurso das amigdalas existe tanto nos educandos quanto nos educadores.

É com essa estrutura que, tanto nós educadores quanto nossos educandos, vamos para a sala de aula. E, ambos reagimos a determinadas circunstâncias que emergem nas relações como sendo ameaçadoras ou seguras. Quando verdadeiramente ou aparentemente ameaçadoras, reagimos intempestivamente, sem muito raciocinar sobre o que está ocorrendo.

Nesse contexto, necessitamos de pensar e entender que nós, os educadores escolares (mas, também os educadores não-escolares) como adultos e responsáveis pela relação pedagógica, necessitamos, muito mais que nossos educandos, estarmos atentos às nossas reações intempestivas, pois que elas certamente não nos ajudarão na relação pedagógica nem na orientação da aprendizagem dos nossos educandos.

Então, o educador e a educadora necessitam compreender e assumir que são os adultos da relação pedagógica, o que significa que são eles que dão “o tom à prática pedagógica em andamento”.

Se estiverem tristes, suas aulas serão tristes; se estiverem alegres, suas aulas serão alegres; se estiverem aborrecidos, os estados emocionais de todos estarão exacerbados. O educador, é o líder da sala de aula. “Líder” não é aquele que manda, e sim aquele que dá o tom.

Se tom do que se ensina for importante, os estudantes compreenderão sua importância; se o que se ensina for apresentado com alegria, a aprendizagem será alegre; se o olho do educador “brilhar” por determinado conteúdo, os olhos dos seus educandos também brilharão. Se o tom for ameaçador, os estudantes assumirão o tom de defesa, pois que, em primeiro lugar, está a sobrevivência, seja em que variável for.

Nesse caso, “ser exigente” representará “como líder, ser capaz de administrar a sala de aula para que todos aprendam; e aprendam bem”.

Essa compreensão não significa atulhar o educador de responsabilidades; somente assumir a responsabilidade que lhe pertence: “ser o adulto da relação pedagógica”, o líder que convida e orienta todos os educandos para a aprendizagem necessária.






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domingo, 15 de fevereiro de 2015

90 - Ainda sobre “ser exigente”


Cipriano Luckesi

(OBS - desdobramento do post anterior)


Leonardo da Vinci, além de pesquisador, arquiteto, engenheiro, filósofo, foi artista. Dedicou-se a pintar telas, não tantas. A mais famosa todos nós conhecemos, a Mona Lisa.

O que se sabe é que ele demorava o tempo suficiente para produzir uma de suas telas, tendo presente suas exigências, como artista. Seu modelo de produzir uma tela tinha a ver com sua exigência de que a tela efetivamente expressasse seu sentimento e sua intuição. Nada menos que isso.

Levando em consideração aquilo que expus no texto anterior deste blog, assim como esse modo de agir de Leonardo da Vinci, fico a pensar que um “educador exigente” é aquele que --- servindo-se dos mais significativos recursos pedagógicos e didáticos --- investe em sua prática de ensino até que seus estudantes aprendam o que veio para ensinar.

A exigência --- que se expressa como eficiente –- tem a ver com o investimento do educador na aprendizagem dos seus educandos e não por sobre o educando. Sua exigência vigilante sobre sua própria ação reflete nos efeitos palpáveis de sua ação, a aprendizagem dos educandos.







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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

89 - O que é “ser rígido --- ou exigente ---- na educação escolar”?


Cipriano Luckesi

(OBS - Tratando da avaliação da aprendizagem e disciplina comportamental).


Aqui e acolá, ouço essa expressão: “Como professor, eu sou exigente com meus alunos. Quero que eles aprendam, por isso...”. 

Também ouço: “Esta escola é exigente com seus estudantes, por isso, eles se esforçam nos estudos...”.

Assistindo um telejornal, que trazia uma matéria sobre educadores escolares no Brasil, novamente ouvi o depoimento de um professor, considerado um bom professor, que dizia: “Sou exigente com os estudantes. Eles têm que aprender tudo certo...”

Essa expressão “sou exigente” deve ser esclarecida conceitualmente. O “ser exigente”, no uso cotidiano, é entendido como rígido, autoritário, disciplinador.

No entanto, fico a pensar que todo educador deveria ser exigente em relação ao resultado a ser atingido por seu exercício profissional, ou seja, que todos os estudantes, por ele liderados, numa sala de aula, aprendam efetivamente o que necessitam aprender. Esse desejo e a dedicação, para que os resultados da ação pedagógica sejam alcançados como deveriam sê-lo, não têm nada a ver com “rígido, autoritário, disciplinador”.

Tem a ver, sim, com o investimento do educador, seja no que se refere a sua capacitação em relação aos conteúdos que ensina, seja sua capacitação nos recursos metodológicos que utiliza, para que o estudante efetivamente aprenda o que necessita aprender.

Então, “ser exigente na prática pedagógica escolar” significa, no dia a dia da relação com os educandos, investir o que for necessário para que todos aprendam os conteúdos ensinados (sejam informações, procedimentos ou atitudes).

Isso significa que o educador é exigente no que se refere à qualidade do seu próprio exercício profissional e que só se dá por satisfeito quando todos os seus estudantes aprenderam o que deveriam ter aprendido. Enquanto não aprenderam o que deveriam ter aprendido, o educador continua sendo exigente na busca do resultado desejado, isto é, investindo mais... e investindo mais...

Caso não se compreenda dessa forma a expressão “ser exigente na prática pedagógica escolar”, continuaremos a afirmar que o único responsável pelo fracasso escolar é o educando. E, creio  eu, já é tempo para abrirmos mão dessa postura.

Desde os anos 1980, o mundo descobriu e passou a entender que o sistema escolar é o responsável pela qualidade do ensino. No Brasil, temos o Saeb, a Prova Brasil, Enem, Enad, Ided, como instâncias postas para investigar e revelar a qualidade do sistema de ensino. O que falta para nós educadores, que atuamos na escola, entendermos que somos parte do sistema ensinante (sistema de ensino, responsável pelo ensino) e não do sistema aprendente (estudantes, aprendizes)?

O convite, aqui posto, é para que:

01.   abramos mão da compreensão de senso comum de que “ser exigente é ser rígido com o outro” e, aqui, no caso, com  os estudantes;

02.   e passemos a compreender que “ser exigente na prática pedagógica escolar --- como em qualquer outra atividade profissional --- significa investir o necessário para que os resultados da ação sejam compatíveis com os pré-estabelecidos e desejados”.






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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

88 - Ludicidade e formação do educador



Publiquei um artigo sobre "Ludicidade e formação do educador". 

Os interessados no tema poderão acessar este e outros artigos do seguinte modo:

01 - REVISTA ENTREIDEIAS - Educação, Cultura e Sociedade --- Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia

02 - Entrar no espaço virtual da revista "on line", página inicial do site --- http://www.portalseer.ufba.br/index.php/entreideias

03 - A seguir procurar na página "Edições Anteriores"; então, encontrará 2014, vol. 3, n. 2 --- DOSSIÊ: Ludicidade e formação de educadores 

04. Buscar o meu artigo (o primeiro do índice) ---  "Ludicidade e formação do educador". Para acessá-lo, assim como para abrir os outros artigos, clicar em "PDF", que se encontra à frente de cada título de artigo.




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domingo, 1 de fevereiro de 2015

87 - O significado do padrão de qualidade na avaliação da aprendizagem escolar. Também na Educação Infantil?


Cipriano Luckesi


Para compreender essa temática, importa compreender o que é avaliar, o que é avaliar a aprendizagem, o significado do currículo escolar como guia para o ensino e para a avaliação da aprendizagem; e, por último, uma ponderação sobre a possibilidade de uma prática da avaliação da aprendizagem na escola.

01.   Que é o ato de avaliar?
O ato de avaliar é o ato de investigar a qualidade da realidade pelo processo de “atribuir valor a”...
O termo “avaliação” tem sua fonte etimológica latina pela junção do prefixo “a” ao verbo “valere”, que dá “avalere” e significa a “atribuir valor a” alguma coisa, pessoa, ação...
Qualidade não existe por si, ela é adjetiva e, por isso mesmo, à semelhança do adjetivo em gramática, ela adere a alguma realidade.
Na gramática, o adjetivo (que expressa a qualidade) adere ao substantivo (que expressa a realidade); então, o adjetivo (atribuição de qualidade) só pode existir como adjetivo, se efetivamente aderido ao substantivo (exemplo, “casa bonita”). Epistemologicamente, se diz que a qualidade “existe em outro”; ela existe aderida (atribuída) ao ser (aquilo que é), com base em algum parâmetro.
Quando, na expressão linguística, utilizamos um adjetivo sob a forma de substantivo --- por exemplo, "beleza" ---, esse substantivo é chamado de “abstrato”, devido ao fato de que ele não tem realidade, não tem substância; é uma “abstração”. No caso, é um adjetivo substantivado. O que existe na realidade é um “objeto ou um ser belo” e não a “beleza”. Por exemplo, “mulher bela”, “comida saborosa”. “Mulher” existe (é real), sendo bela ou não; “comida” existe (é real), sendo saborosa ou não. Já as qualidades --- “bela” e “saborosa”, ou outras quaisquer qualidades --- não existem por si; são atribuídas à realidade, tendo por base um parâmetro dessas qiualidades.
A atribuição de uma qualidade a algum objeto, pessoa, ação... decorre de uma comparação da realidade (descrita pelo substantivo) com um padrão de qualidade (critério de qualidade).
Por exemplo, quando dizemos “moradia humana” significa que podem existir vários tipos de moradias; contudo, “esta moradia”, à qual estou me referindo, é “humana”, pois que estou (01) comparando a realidade física dessa determinada moradia com (02) um padrão (critério) do que considero “humana”. Então, à medida que a “realidade física da moradia”, que tenho à minha frente, “preenche os requisitos do critério do que considero humano”, essa moradia é considerada, por mim, como qualitativamente “humana”.
Em síntese, o ato de avaliar se assenta sobre dois elementos: (01) descritiva da realidade através de suas características; (02) atribuição de qualidade a essa realidade descrita. A expressão “mulher bela” tem a ver com (01) a existência de “uma mulher”, descrita por suas características, que, (02) comparada com um critério de beleza (padrão de beleza), nos permite atribuir-lhe a qualidade de “bela”.
Dessa abordagem epistemológica da avaliação se desprende que “o ato de avaliar é um ato de investigar a qualidade da realidade, (01) através de uma descritiva da própria realidade em avaliação, por meio de suas características, e, em seguida, (02) revelando a qualidade dessa realidade pela sua comparação com um determinado critério de avaliação”.
Desse modo, o ato de avaliar tem seu fundamento na realidade daquilo que se avalia; o ato de avaliar exige, pois, uma descritiva da realidade, como sua base. Caso contrário, a avaliação será simplesmente a expressão de uma opinião emocional. Vamos imaginar um médico que não buscasse a descritiva do quadro físico de saúde de seu cliente e, exclusivamente na base de sua opinião, lhe atribuísse uma configuração do seu quadro de saúde. Seria uma “opinião” e não um diagnóstico. Para ocorrer o ato de avaliar, também não basta só descritiva da realidade, há necessidade, ainda, de um parâmetro de qualidade aceitável como positiva dessa realidade, a fim de que, por comparação, possa aquilatar a realidade que tem diante de si.
A consequência do ato de avaliar é dar base para o próximo passo da nossa ação, tendo em vista obter o melhor resultado.
Todos nós no dia a dia --- e nosso cérebro também atua por si mesmo dessa maneira --- agimos com base numa investigação da qualidade da realidade, possibilitando nossa escolha, por mais rápida que seja.
E, a partir da identificação --- por mais rápida que seja --- da qualidade da realidade, tomamos a decisão de continuar no mesmo caminho que estamos seguindo ou seguir outro caminho; nas decisões tomadas em átimos de tempo, nosso sistema nervoso faz isso por nós (quanto ao modo de agir do sistema nervoso, há necessidade de apropriarmo-nos de outros estudos, tendo em vista compreender que nossos modos habituais de agir podem nos enganar quanto à melhor decisão a ser tomada, à media que, por vezes, nossas reações são simplesmente intempestivas)

02.   Avaliação da aprendizagem
Tomando por base a compreensão epistemológica do ato de avaliar, acima exposto, o “ato de avaliar a aprendizagem dos educandos”, na prática escolar, implica: (01) em descrever o desempenho factual do educando num determinado conteúdo (informação, procedimento, conduta prática, conduta afetiva...) e, a seguir, (02) comparar essa conduta apresentada pelo educando com um “padrão (critério) de qualidade”, previamente estabelecido, fato que permitirá afirmar se essa aprendizagem “já é satisfatória” ou “ainda não”. O resultado do ato de avaliar --- identificação da qualidade da realidade --- (03) nos possibilita novas decisões no caminho de nossa ação, tendo em vista chegar aos resultados que desejamos.
Isso significa que o ato de avaliar a aprendizagem dos educandos tem a função de “investigar a qualidade da sua aprendizagem (aquilo que foi aprendido e como foi aprendido)”, oferecendo suporte para novas decisões de nossa parte, como gestores da atividade de ensinar.
Vale à pena, então, sinalizar que não há como “avaliar a aprendizagem dos educandos” sem que se tenha uma efetiva e adequada “descrição” do seu desempenho no conteúdo considerado (informação, procedimento, conduta), assim como sem que se tenha um “critério”, previamente estabelecido, que permita, por comparação, expressar a sua qualidade. Sem esse algoritmo de procedimento metodológico, certamente, chegaremos a “opiniões” sobre as condutas dos educandos, fator que não nos possibilitará decisões consistentes tendo em vista subsidiar a conquista dos melhores resultados decorrentes de nossa ação.

03.   Currículo escolar como orientação para o ensino e como critério para a avaliação
O currículo escolar traz a configuração do que se vai ensinar, e, dessa forma, orienta e determina a ação docente, ou, de forma mais simples e direta, configura e orienta a ação docente. Ao mesmo tempo em que configura o que e como ensinar, configura também o que o educando deve aprender, ou seja, o critério de qualidade a ser levando em conta no ato de avaliar.
O currículo define o que se vai ensinar, assim como qual qualidade da aprendizagem será aceitável como desempenho do educando, em sua aprendizagem.
Então, a título de um exemplo ilustrativo. Do ponto de vista do ensino, nas séries escolares iniciais, o currículo afirma que será ensinada a “operação de adição em matemática”, ou seja, o educando será ensinado sobre os seguintes conteúdos: (01) raciocínio aditivo, (02) operação aditiva (fórmula), (03) propriedades da adição, (04) solução de problemas simples e (05) solução de problemas complexos (segundo o nível de desenvolvimento dos educandos que estão sendo ensinados).
 No ato de avaliar, que acompanhará eu/ou será subsequente ao ato de ensinar, buscar-se-á revelar se o educando adquiriu domínio sobre a (01) “raciocínio aditivo”, (02) “operação aditiva (fórmula)”, (03) as “propriedades da adição”, (04) solucionar problemas simples de adição, (05) solucionar problemas complexos de dição, compatíveis com seu nível de desenvolvimento. Ou seja, no ato de avaliar, buscar-se-á saber com que qualidade o educando atingiu a aprendizagem desses conteúdos. E, a consequência disso é, se não atingiu a qualidade desejada, o que se vai fazer para que atinja essa qualidade.

04.   Ponderações sobre a questão da necessidade de um padrão de qualidade na prática da avaliação da aprendizagem escolar em geral, como também na Educação Infantil
É possível praticar a avaliação da aprendizagem na escola sem que se tenha um padrão de qualidade a ser levado em consideração para atribuir qualidade ao desempenho do educando?
 Certamente que não, a menos que a atividade escolar não seja orientada por um currículo; e, mesmo quando se supõe não ter um padrão ou critério de qualidade tendo em vista aquilatar os resultados da ação pedagógica, ainda se tem um padrão de qualidade, como veremos.
O termo currículo vem da expressão latina curricula, que se referia às guias (uma guia de cada lado) que determinavam por onde deveriam passar as bigas (carros de corrida) nas disputas nos estádios romanos. Os curricula (guias) davam direção por onde deveriam seguir os carros de corrida. Nossos currículos escolares dão a direção (guia) por onde deve seguir o ensino e, consequentemente, o que se deve levar em conta para saber se o educando aprendeu o que foi ensinado.
Se o currículo está posto para orientar o ensino e, consequentemente, a aprendizagem dos educandos, como também a avaliação do seu desempenho, o educador terá como sua tarefa conduzir os educandos à aprendizagem dos conteúdos estabelecidos (desde que ele é o gestor do ensino) e, para ter ciência se os educandos aprenderam o que ensinou, terá que praticar a avaliação tendo como critério de qualidade as configurações do currículo estabelecido.
Praticar a avaliação, sem que se tenha um padrão de qualidade, configurado pelo currículo conscientemente formulado, poderá ser uma investigação aberta sobre as condutas dos educandos, da forma como elas ocorrem, tendo por base a ausência de um currículo explicitamente definido.
Nesse caso, poder-se-ia dizer que o “currículo” dessa escola é “a ausência de currículo”, pois que será essa “ausência” que guiará tanto as atividades pedagógicas do ensino quanto as atividades da avaliação.
No caso, a avaliação, propriamente, não será uma investigação da qualidade da aprendizagem dos educandos, mas sim uma investigação de seu modo de se conduzir espontaneamente (isto é, sem um guia para conduzir a determinadas condutas desejadas)
Poderá existir uma escola sem currículo? Uma escola que, como sua filosofia, assume a abolição de um currículo que guie as condutas dos docentes e dos discentes, assume como seu currículo “a postura de não ter currículo”, ou seja, educadores atuarão livremente ao seu sabor, ou ao sabor do que emergir entre os educandos, e, então, os educandos serão avaliados em suas condutas sem um parâmetro (ou critério) preestabelecido.
No caso, levar-se-á em consideração o que estiver acontecendo e não o que se deseja que aconteça. Mais do que uma prática avaliativa, que tem por base, um parâmetro de qualidade, ocorrerá somente uma descritiva das condutas emergentes.
No caso da Educação Infantil, por exemplo, de zero a dois anos (mas, poderia ser em qualquer outra faixa etária; estamos tomando essa faixa etária, por ser a mais tenra), poderá parecer que não existe a possibilidade de se ter um currículo configurado, devido a tenra idade; contudo, os profissionais que atuam nesse nível de atendimento de crianças deverão conhecer e ter presente os parâmetros do que, através de estudos científicos, se denomina de “desenvolvimento normal de crianças nessa idade”, tanto para (01) dar forma aos cuidados que necessitam de realizar com essas crianças, como (02) para observar as expressões de seu modo de ser e agir, tendo em vista, se necessário, novos e mais específicos cuidados.

Em síntese, no ato de avaliar, não há possibilidade de não se ter um critério ou padrão de qualidade previamente definido, seja ele plenamente consciente, medianamente consciente ou até inconsciente, como ocorre no feeling (orientação adequada de uma conduta) ou até mesmo no senso comum (orientação cotidiana de uma ação, sem um senso crítico específico).

O padrão de qualidade é um componente, epistemologicamente, constitutivo do ato de avaliar





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