quarta-feira, 29 de novembro de 2017

125 - AVALIAÇÃO COMO UM ATO NATURAL NO SER HUMANO: O QUE APRENDER COM ELE?


Cipriano Luckesi



Iniciemos pela compreensão conceitual dos processos avaliativos na vida humana em geral.
O ato avaliativo, como tenho sinalizado em outras oportunidades, é universal. Pertence à natureza humana, como lhe pertence também o ato de conhecer factualmente, assim como de agir com base nas duas áreas cognitivas citadas (tecnologia). O ato de avaliar é praticado de modo natural e habitual por nosso organismo, e, de forma semelhante, o praticamos no cotidiano via o senso comum. Contudo, em variadas circunstâncias --- como as profissionais ---, para ser significativo, necessitamos praticá-lo de modo consciente e decidido.
Neste texto, abordaremos a questão de como o ato de avaliar pertence à natureza humana e é universal.
O resultado do ato avaliativo, como investigação, revela a qualidade da realidade, de maneira semelhante como a ciência revela o que é a realidade e seu funcionamento. O agir, por sua vez, usufrui de ambas as formas de conhecimentos --- factual e avaliativo ---, realizando as ações necessárias à dinâmica da vida. A ciência oferece suporte às variadas tecnologias; a avaliação às escolhas, que, subsidiam decisões a respeito de investir, ou não, na ação, e, em qual ação.
Ao tempo que nosso organismo “intermitentemente” pratica atos avaliativos, também ele faz usos intermitentes dos seus resultados, de forma fisiológica e habitual, orientando ações que nosso corpo executa por si mesmo, na busca de garantir sua sobrevivência e bem-estar, assim como ações que realizamos cotidianamente, no espaço e tempo em que vivemos, para nossa sobrevivência no planeta, que, todos nós desejamos que seja a melhor possível. Fato que significa um uso diagnóstico dos resultados desse ato avaliativo intermitente, à medida que a natureza inventou essa modalidade de avaliação constante para garantir tomadas de decisão a favor da vida.
Nosso sistema nervoso é uma central de administração do nosso corpo, que, a todos os instantes, recebe milhares e milhares de informações, originárias de todas as áreas de nosso corpo, também de forma instantânea, processa essas informações e envia comandos para variados pontos de nosso organismo, tendo em vista garantir nossa sobrevivência. O sistema nervoso autônomo (SNA) se expressa como a mais fantástica central de administração da vida, coletando informações, processando-as, enviando-as de imediato para os mais variados rincões do corpo, exigindo soluções, sob pena de colapso, seja de imediato ou a longo prazo. Nosso sistema nervoso é incansável como central de recepção de informação, seu processamento e sua utilização.
Dentro dessa perspectiva --- da avaliação praticada pelo sistema nervoso central e do uso dos seus resultados ---, não há ato humano que não seja precedido de uma avaliação, incluindo os atos de funcionamento inconsciente em nosso corpo, atos próprios do funcionamento natural do nosso sistema orgânico.
Do ponto de vista fisiológico, podemos citar, como um exemplo, a administração da necessidade de oxigênio para garantir a sobrevivência do nosso organismo; ou as decisões instantâneas entre fuga e permanência frente a acontecimentos que garantem ou ameaçam a integridade de nosso corpo ou de nossa vida; entre muitíssimos outros exemplos que poderíamos relembrar.
Podemos, ainda --- só para exemplificar entre as infinitas possibilidades ---, lembrar que, a todos os instantes, nosso sistema proprioceptivo está em atuação permanente, avaliando todos os nossos movimentos, conduzindo à busca permanente do nosso equilíbrio frente a múltiplos fatores intervenientes, sempre na perspectiva de manutenção de um estado corporal saudável. Por vezes, a solução intempestiva, que emerge, não será satisfatória, mas foi essa a “intenção” do nosso sistema orgânico que recebeu informações, avaliou a situação e nos induziu, de imediato, à alguma ação, que, por si, deveria ser compensatória.
Frente às avaliações intermitentes de nosso organismo, de imediato e de forma intempestiva, agimos com base nos seus resultados. Usualmente, tendo em vista nos salvar de alguma situação ameaçadora ou desagradável.
Então, seja para nossa vida cotidiana, seja para nossa vida profissional, há que se aprender com o modo de agir do nosso sistema orgânico, e, dentro dela, de modo especial com nosso sistema nervoso autônomo. Isto é avaliar sempre e constantemente, se desejamos orientar nossa ação, tendo em vista resultados satisfatórios.
Esse entendimento nos leva a compreender que o ato de avaliar é nosso parceiro intermitentemente na busca de resultados satisfatórios, seja nos subsidiando a encontrar o caminho adequado para nossa ação, seja nos sinalizando a necessidade de praticar correções de rumos, tendo em vista a conquista dos resultados satisfatórios que desejamos.
Nosso organismo usa a avaliação e seus resultados exclusivamente sob a modalidade diagnóstica. A natureza inventou essa modalidade de uso para que pudéssemos viver da melhor forma possível, ou seja, atuar na perspectiva da obtenção de resultados satisfatórios.
Claro, podemos não estar atentos aos sinais parceiros da avaliação natural e sistêmica do nosso corpo, fato que nos conduz a múltiplos desvios em nosso estado de saúde.
Creio que, para nossa prática educativa cotidiana, temos muito a aprender com nosso sistema orgânico no que se refere à avaliação como recurso intermitente de investigar a qualidade da realidade e, dessa forma, subsidiar decisões, tendo em vista a obtenção de resultados satisfatórios em decorrência da ação.
Em próximo texto, tratarei da avaliação no âmbito profissional dos educadores, no desejo de que aprendamos fazer dessa prática uma parceira em nossa jornada diária em busca de resultados satisfatórios em decorrência de nossa ação. Afinal, a natureza nos ensina que o ato de avaliar, por si, está sempre ao nosso lado e ao nosso dispor, tendo em vista o sucesso de nossa ação em termos de resultados satisfatórios.



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2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Tenho dúvidas se as chamadas decisões de nosso sistema autônomo são precedidas de avaliação. Estímulos externos provocam correntes elétricas no sistema nervoso e estas correntes elétricas e suas consequências talvez não possam ser consideradas como avaliações. Seria o mesmo que dize que ao acionarmos um interruptor ele fez uma avaliação antes de acender a lâmpada.
    Concordo que devamos avaliar sempre, toda hora, mas este é um ato consciente. Nossa avaliação sempre é consciente. Podemos citar a fome. Quando estamos com fome não comemos qualquer coisa, podemos avaliar o aspecto da comida, o cheiro, o sabor e escolher outra. Estamos falando de humanos que possuem variedades de alimentação. Na medida em que os alimentos escasseiam, nossa avaliação fica menos rigorosa e quando estamos dias sem comer, o primeiro alimento que nos aparece nós comemos. Nossa fisiologia não faz escolhas, ela trabalha para manter-nos vivos e na medida que nos falta alguma substância química nossas funções começam a falhar. Se pararmos de respirar por vontade própria simplesmente tampando o nariz, haverá uma hora que voltaremos a respirar independentemente da nossa vontade e isto não foi uma decisão nem consciente nem inconsciente, isso porque respirar é natural, na pior das hipóteses faltará oxigênio em nosso cérebro, nos desmaiaremos e faremos o que é natura paras os seres vivos: respirar. Poderia dar outros tantos exemplos como a mitose, a meiose, o ciclo de Krebs, etc.
    Quero dizer que nossa avaliação não deve ser natural, mas fruto de nossa consciência e o nosso desejo de vivermos melhor.

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