Este texto fora
publicado anteriormente no Terra Blog em 03 de julho de 2009
OBS - para sua republicação neste blog, sofreu pequenos ajustes.
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Recebi a seguinte
pergunta:
“A questão crucial em nossos
estudos é: qual a diferença entre estudos de investigação e de avaliação?”.
Respondi como se
segue:
Não tenho uma
bibliografia para indicar a você que aborde a distinção entre a pesquisa
em geral e a avaliação como um ato de investigar a qualidade do resultado de
uma ação humana ou de um ambiente, ou seja, a distinção entre pesquisar na
ciência e investigar na avaliação.
Posso fazer-lhe
alguma indicação de minha compreensão, mesmo porque tenho feito essa colocação
em meus escritos e em minhas falas. E tenho trabalhado sobre isso.
Tenho defendido a
compreensão de que o ato de avaliar é um ato de investigar. Então,
o que difere a avaliação em relação à investigação em geral é o objeto da
investigação da avaliação, que difere dos objetos de investigação em outras
áreas do conhecimento.
No geral, a pesquisa
trabalha com os fenômenos caracterizados como físicos, químicos, sociais,
psicológicos, astronômicos, etc. Já a avaliação é uma investigação
que se caracteriza por trabalhar com a qualidade do fenômeno
que estuda, ou seja, ela investiga o seu objeto sob a ótica de sua qualidade,
enquanto a pesquisa em geral estuda o fenômeno pela sua constituição
(causalidade unidirecional ou sistêmica — múltiplas determinações —, a depender
o enfoque do pesquisador) e pelo seu modo de operar. Propriamente, a investigação
científica busca compreender e revelar “como a realidade funciona” e a
investigação avaliativa busca compreender e revelar “a qualidade da realidade”.
Na prática
avaliativa, também poderemos operar com o olhar unidirecional ou sistêmico (a
depender dos fundamentos epistemológicos com os quais trabalhamos), mas tendo
sempre como foco de investigação a qualidade que emerge das
características da realidade e não, em primeiro lugar, sua constituição e
operação.
Com isso, estou
lembrando que, para investigar --- seja na ciência ou na avaliação ---, necessitamos,
sim, de coletar dados da realidade, que sustentem uma descritiva do fenômeno
que estamos estudando, que subsidiem nossas “leituras” dessa realidade.
A “leitura da realidade” na avaliação exige uma atribuição de qualidade à realidade, o que implica na comparação do fenômeno descrito com um padrão ou critério de qualidade, tendo em vista dar suporte ao juízo qualitativo, próprio da avaliação.
A pesquisa científica, por seu turno, trabalha com a constituição e a operação da realidade. Então, enquanto a pesquisa em geral revela como a realidade funciona, a avaliação, tendo por base uma descritiva da realidade, revela a sua qualidade.
A “leitura da realidade” na avaliação exige uma atribuição de qualidade à realidade, o que implica na comparação do fenômeno descrito com um padrão ou critério de qualidade, tendo em vista dar suporte ao juízo qualitativo, próprio da avaliação.
A pesquisa científica, por seu turno, trabalha com a constituição e a operação da realidade. Então, enquanto a pesquisa em geral revela como a realidade funciona, a avaliação, tendo por base uma descritiva da realidade, revela a sua qualidade.
Não podemos nos
esquecer que, para revelar a qualidade da realidade, a avaliação
atribui uma qualidade à realidade, tendo por base sua descritiva, isto é, a
avaliação se assenta sobre a “materialidade” da realidade. “materialidade” não necessariamente
que dizer “materialidade física”; aqui, no caso, ela está comprometida com os
dados que configuram a realidade, seja ela material ou não.
Nesse contexto, a avaliação está comprometida
epistemologicamente com os juízos de qualidade, diferentes
dos juízos de realidade. Isso nos remete ao campo da filosofia que
estuda “juízos de valor” e “juízos de realidade”, que, em última instância, vai
esbarrar na configuração ontológica do
que é o ser e do que é o valor
(= qualidade)
A avaliação trabalha
com os juízos de valor (qualidade = adjetivo), diferente das ciências em geral
que trabalham com o juízo de realidade (substantivo = o que é). Frente à
compreensão epistemológica de que os juízos de valor (ou qualidade) necessitam
de estar, obrigatoriamente, calçados numa descrição da realidade, como
assinalei acima, faz com que a avaliação não seja assumida como expressão de
puros estados emocionais do avaliador. Caso não haja uma satisfatória
descritiva da realidade, cairemos sim no subjetivismo, o que pode significar uma
prática inadequada do ato de avaliar, e não uma característica própria da
avaliação.
Deste modo, a
avaliação é uma investigação, sim; porém com um objeto próprio, que é a
qualidade dos fenômenos com os quais ela atua.
Importa ainda uma
observação. A avaliação atua em duas direções possíveis. De um lado, ela
é formativa (processual, contínua…), ou seja, subsidia um
processo de ação, enquanto esse
processo está se realizando e, pois, produzindo resultados
intermediários (em construção); e, de outro, ela pode se apresentar como
uma avaliação certificativa, que tem por intenção atestar (testemunhar)
a qualidade de alguma coisa na sua completude.
A exemplo, posso
lembrar o padrão ISO, que é uma certificação internacional de empresas e
instituições. Para estabelecer essa certificação, dá-se um consistente
processo investigativo, que permite atribuir a uma empresa ou instituição a
qualidade ISO… “x”, ou seja, afirma-se que essa instituição apresenta uma
qualidade tal e, por isso, lhe é oferecido um certificado socialmente
reconhecido, que testemunha a sua qualidade.
No que se refere à
uma instituição, a avaliação formativa tem a ver com a investigação permanente
dos resultados decorrentes de sua atuação diária (processo). Já
a avaliação certificativa é a investigação que atesta que essa
instituição apresenta uma qualidade X em seus produtos, atendimentos,
cuidados…. (resultado pleno). O mesmo pode ocorrer com qualquer outro fenômeno
que seja investigado em sua qualidade — um grupo social, uma comunidade, um
espaço físico, a aprendizagem de um estudante, a atuação de uma escola como
organização…
Com essa exposição, espero e desejo ter
podido auxiliar na compreensão da semelhança e da diferença entre investigar em
geral (ciência) e avaliar como um ato de investigar.
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