sexta-feira, 17 de outubro de 2014

60 - Onde os atos de examinar e avaliar se encontram

Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 28 de março de 2008
Cipriano Luckesi


Os atos de examinar e avaliar na escola tem sido confundidos, ao ponto de praticarmos exames e denominarmos de avaliação, como temos esclarecido em textos deste blog, como nos textos do meu site www.luckesi.com.br, e em meus livros.

Contudo, vale perguntar: onde está a base da confusão? O que há de comum entre esses dois atos, que os confunde? 

O que há de comum entre os atos de examinar e avaliar é o fato de que, para ambas as práticas, há necessidade de coleta de dados sobre o desempenho do educando.

Tanto para praticar exames quanto para praticar avaliação necessitamos de coletar dados que descrevam o dempenho do educando em termos de aprendizagem. Nisso as duas práticas se encontram e, muitas, vezes, por isso, são confundidas. Mas, somente nisso se encontram.

O passos subsequentes dessas práticas escolares diferenciam-nas. Os exames escolares, tendo por base os dados sobre desempenho do educando classificam-no em "aprovado" ou "reprovado" e encerram aí a sua jornada. Já a pratica da avaliação, com base nos dados do desempenho do educando, passa para o seu segundo passo, que é a qualificação do seu desempenho, em termos de satisfatoriedade ou insatisfatoriedade, diante dos critérios específicos da aprendizagem com os quais se está trabalhando. E, ainda, na prática da avaliação, há um terceiro passo, que é a intervenção (tomada de decisão do que fazer para que obtenha o melhor resultado possível), se o desempenho for considerado insatisfatório.

Assim sendo, o ato de examinar se realiza em dois passos: (1) descrever o desempenho do educando a partir de dados coletados e (2) classificá-lo. O ato de avaliar, por seu turno, se processa em três passos: (1) descrever o desempenho do educando com base nos dados coletados, (2) qualificar esse desempenho tendo por base critérios de qualificação dos resultados e, por último, (3) proceder intervenção ou intervenções, se necessário, tendo como base a hipótese da insatisfatoriedade dos resultados.

Pelo fato de, tanto o ato de examinar como o de avaliar, ter por base a descrição do desempenho do educando com base na coleta de dados, através de instrumentos que ampliam a capacidade de observar do avaliador, eles são confundidos como se fossem iguais. 
Todavia, para além da descrição do desempenho, decorrente da coleta de dados, os dois atos se diferenciam totalmente.

Deste modo, para inciarmos ou aprofundarmos nossa experiência de transitar, no cotidiano escolar, do modo dos exames para o modo da avaliação, importa observar os passos diferenciados de ambos os atos, e, ao mesmo tempo, iniciar e/ou aprofundar o execício diário de utilizar todos os passos do ato de avaliar.

O ato de avaliar está a serviço da obtenção do desempenho qualitativamente mais satisfatório, em termos de aprendizagem, o que implica na reorientação da aprendizagem, se necessário; ao passo que o ato de examinar está a serviço exclusivamente da classificação do educando, tendo por base o seu desempenho de aprendizagem já realizada e não em realização.

Cipriano Luclesi




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