terça-feira, 21 de outubro de 2014

73 - Transitando dos exames escolares para a avaliação.


Cipriano Luckesi



Pergunta: Como os professores podem se apropriar de instrumentos avaliativos que colaborem mais com a avaliação, para além dos exames escolares?


Como sinalizei antes, a avaliação é uma parceira do gestor (o educador, em sala de aula, é o seu gestor). O gestor sempre atua “para além” da avaliação. A avaliação, se bem praticada, revela a “qualidade da realidade”, o que permite ao gestor decidir o que fazer. Os dados da avaliação são base para a ação.



Por outro lado, com base em sua pergunta, desejo dizer que, epistemologicamente, não existem “instrumentos avaliativos”. Existem “instrumentos de coleta de dados para a prática da investigação avaliativa”. É a avaliação ---, ou seja, a qualidade da realidade revelada pela investigação avaliativa --- que colaborará com o educador, “dizendo-lhe”: “Cara, preste atenção. Você ainda não chegou à qualidade do resultado que, em seu planejamento, tinha se proposto a chegar. Se quer chegar a ela, terá que investir mais e mais.”



A avaliação (= revelação da qualidade da realidade) --- resultante de todos os procedimentos investigativos --- subsidiará o educador (= professor em sala de aula, diretor de escola, secretários de educação...), se ele o desejar, na busca e na produção de melhores resultados, caso invista nessa meta.



O ato de avaliar exige como seu ponto de partida uma descritiva consistente do desempenho dos estudantes em sua aprendizagem. E, isso exige instrumentos de coleta de dados elaborados com rigor metodológico, o que não tem ocorrido em nossas escolas, seja pela aleatoriedade das questões propostas, seja, por vezes, pelo uso, nas perguntas,  de linguagem incompreensível  para os estudantes, seja pela incompatibilidade entre conteúdos ensinados e questionados nos instrumentos de coleta de dados, seja pela imprecisão das questões e propostas de tarefas apresentadas aos educandos. Sem uma descritiva consistente e rigorosa da realidade da aprendizagem dos estudantes, através de bons instrumentos de coleta de dados, a qualidade atribuída à realidade não terá uma base sustentável.



Importa, pois, para praticar a avaliação, guiar-se pelos parâmetros conceituais e metodológicos próprios da avaliação, que, como já assinalado, é uma investigação da qualidade da realidade.

Ultrapassar os “exames escolares” só tem um caminho: deixar de praticá-los. Chegar à avaliação, também só tem um caminho: praticá-la. Então, o que fazer para usar bem a avaliação? Transitar das práticas examinativas para as práticas avaliativas.  Não há outra possibilidade.

Como poderemos proceder essa transição necessária do ato de examinar para o ato de avaliar?

Certamente será necessária uma formação adequada para praticar a avaliação; mas, além disso, disponibilidade para transformar as condutas que justificam os exames para condutas que caracterizam a avaliação.

Nesse processo, os diretores de escolas, como lideres dessas instituições, são peças fundamentais, incentivando e sustentando o processo de aprendizagem e uso da avaliação nas instituições que dirigem. Um líder, que estimule e convide a todos, sem sombra de dúvidas, é fundamental nesse processo.


Pergunta: Qual tipo/forma de avaliação tem maior potencial de contribuir com a democratização do ensino?


A avaliação, por si, como investigação da qualidade da realidade, não faz nada (não atua), e, portanto, não democratiza o ensino. Quem atua a favor da democratização do ensino é o gestor, em todos os níveis, do Ministro da Educação ao educador em sala de aula. O sistema de ensino (composto por essa imensa escada de instituições e profissionais, que conhecemos), este sim, pode e, a meu ver, deve investir na democratização do ensino.


Repito a avaliação é uma investigação que revela a qualidade da realidade, que, dessa forma, subsidia decisões, mas quem toma as decisões são os gestores. A avaliação é uma serva subsidiária do gestor. O que fazer com a realidade depende que quem decide sobre ela e atua.






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