Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 23/4/2008
Cipriano Luckesi
Usualmente, a pergunta que surge,
quando abordamos a questão da avaliação, é: “E as notas como ficam?” Importa
observar que nota, no contexto dos procedimentos de avaliação da aprendizagem
na escola, não significa avaliação. Significa, simplesmente, registro dos
resultados obtidos com as atividades de ensinar, por parte do educador, e das
atividades de aprender por parte do educando.
O termo nota, no caso, tem a ver com
“notação”, que, por sua vez, tem a ver com registro. Oficialmente, notário é o
profissional do cartório de registros, aquele que registra documentos oficiais
de contratos entre os cidadãos, tais como compra e venda de imóveis e produtos,
nascimentos, casamentos, procurações… A função da notação é garantir a memória
de dados e informações que necessitam de permanência.
No caso, a nota escolar significa o
registro dos resultados da aprendizagem do educando, decorrentes da dedicação
do educador em ensinar e do educando em aprender.
Em nossos sistemas escolares, ocorreu
que aquilo que seria simplesmente o registro dos resultados do processo de
ensino-aprendizagem passou a ser a própria realidade da aprendizagem. A nota
foi hipostasiada, ganhando uma realidade que ela não tem. Essa fetichização da
nota permite que façamos uma mistura delas, como se fossem várias aprendizagens
interrelacionadas, formando um todo integrado e harmônico de conhecimentos. A
exemplo, podemos lembrar que, se um educando estudar adição e subtração em
matemática e, em adição ele obtiver a nota 10, mas, em subtração, ele obtiver a
nota 2, seu conceito final será 6, que, simbolicamente, diz que ele aprendeu,
acima de média, os dois conteúdos (adição e subtração), o que não é verdade. De
fato, ele aprendeu bem o conteúdo da adição e, muito mal, a subtração.
Uma coisa é o registro da aprendizagem,
outra completamente diferente é a própria aprendizagem. Esta pode efetivamente
mesclar-se; a aprendizagem da dos conhecimentos e habilidades da adição pode
ajudar na aquisição dos conhecimentos e das habilidades da subtração; contudo,
a nota, que registra os resultados de uma dessas aprendizagens, não podem ajudar
a outra, pois que ela se dá no universo formal do registro e não na realidade.
Assim sendo, a nota é uma notação (um
registro) do testemunho do educador ou da educadora de que o estudante fora
ensinado por ele ou por ela e que aprendera o suficiente. Isso implica em que o
educador ou a educadora tenha efetivamente investido para que educando tenha
aprendido. A função da avaliação é diagnosticar para intervir, tendo em vista a
busca do melhor resultado; em função disso, o educando efetivamente deverá
aprender e o registro será da qualidade suficiente de sua aprendizagem. Não se
esquecer, como sinalizamos nos artigos deste blog, que a filosofia que rege a
avaliação é “a conquista do melhor resultado”.
Será alegre e bom para o educador ou
para a educadora registrar nos documentos escolares oficiais que o educando
aprendeu o necessário em função de sua dedicação ao educando para que ele
aprendesse.
Em síntese, nota não é aprendizagem,
mas simplesmente registro do testemunho do educador ou da educadora de que seu estudante
efetivamente aprendeu o que ele necessitava de aprender.
Cipriano Luckesi
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