quinta-feira, 2 de outubro de 2014

48 - Cuidados com a avaliação da aprendizagem: uma síntese

Cipriano Luckesi
Texto publicado no Terra Blog em 01 de maio de 2014


01.   Para atuar em avaliação da aprendizagem, são necessários cuidados (a) com o estado emocional do avaliador, à medida que atua no contexto das relações interpessoais, e (b) com os seus recursos metodológicos. 

02.   Do ponto de vista emocional, a heteroavaliação — como prática escolar — se dá no seio de múltiplas expressões emocionais seja por parte do educador, assim como por parte do educando. E, como os processos emocionais podem ser serenos, mas também podem ocorrer de modo intempestivo, o avaliador da aprendizagem necessita estar permanentemente atento aos seus movimentos emocionais, como também dos seus educandos, à medida que facilmente eles intervêm na prática avaliativa da aprendizagem, lugar onde tradicionalmente se faz presente posições exacerbadas de autoridade.

03. Metodologicamente, importa, em primeiro lugar, apropriar-se epistemologicamente (conceitualmente) do que significa avaliação, com suas possibilidades e limites, o que implica em compreender o ato de avaliar como um ato de investigar a qualidade de alguma coisa, no caso, a qualidade da aprendizagem dos educandos na prática pedagógica escolar. Avaliar não tem a ver com examinar, que é recurso seletivo necessário nos concursos, onde o candidato está em busca de uma vaga; avaliar a aprendizagem tem a ver com ato de aprender, seja ele em sala de aula ou não; no caso da sla de aula, o estudante já tem a vaga, não está concorrendo a uma vaga, só necessita aprender e… bem.

04.   Nesse contexto, importa compreender que não existe “avaliação tradicional”. Existe, de um lado, exames escolares, sistematizados no século XVI e vigentes até o presente momento, que operam classificatoriamente, aprovando ou reprovando estudantes; e, de outro, avaliação da aprendizagem, cuja compreensão e formulação se dá a partir da primeira metade do século XX; que, infelizmente, ainda, não conseguiu fazer vigência efetiva no sistema educacional como um todo, seja no Brasil ou fora dele;

05.   Há, pois, que se compreender a avaliação como investigação da qualidade da realidade, o que exige, como sua base “material”, uma descritiva da realidade sobre a qual se dá o processo avaliativo, o que, por sua vez, no caso da aprendizagem, exige instrumentos de coleta de dados sobre o desempenho do educando. Os instrumentos de coleta de dados, no caso, não são tradicionais nem contemporâneos, nem novos, nem velhos; simplesmente devem ser os necessários, ou seja, aqueles que são capazes de captar a realidade em investigação avaliativa. Se são necessários testes para convidar o educando a manifestar sua aprendizagem, utilizam-se testes, evidentemente elaborados segundo o rigor da metodologia científica; mas, se se deseja que o educando manifeste que aprendeu a redigir textos, em língua nacional ou estrangeira, a única forma de detectar suas habilidades aprendidas será uma redação, também orientada com rigor metodológico; ou, se se deseja saber se o educando aprendeu a nadar no “modelo crawl”, só se poderá conhecer o seu desempenho, se ele realiza-lo, seja numa piscina ou em outro ambiente que permita observar descritivamente essa performance. 

06.   Os instrumentos de coleta de dados, para serem adequados, necessitam, metodologicamente, estar a serviço do Projeto Pedagógico da Escola, que, por sua vez, se traduz em currículo escolar e, subsequentemente, em plano de ensino. Como o ato de avaliar é subsidiário do projeto de ação, os instrumentos de coleta de dados também o são. Se não ocorrer dessa forma, coletarão dados inadequados, trazendo enganos para o educador, para o educando e sua família, para o sistema de ensino, para a sociedade em geral. Instrumentos de coleta de dados, elaborados de modo insatisfatório, não podem subsidiar a revelação da qualidade da realidade, conduzindo ao engano.


07.   Em síntese, somente com (a) um estado emocional sereno e (b) com o uso de um significativo e adequado do conceito de avaliação, assim como com o uso de instrumentos satisfatórios de coleta de dados, poder-se-á praticar efetivamente a avaliação da aprendizagem, seja no presente ou no futuro. Somente com tais características, a avaliação será a aliada do educador individual e do sistema de ensino na perspectiva do sucesso.






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