Cipriano Luckesi
Texto publicado no Terra Blog em 01 de maio de 2014
01. Para atuar em avaliação da aprendizagem, são necessários cuidados (a)
com o estado emocional do avaliador, à medida que atua no contexto das relações
interpessoais, e (b) com os seus recursos metodológicos.
02. Do ponto de vista emocional, a heteroavaliação — como prática escolar —
se dá no seio de múltiplas expressões emocionais seja por parte do educador,
assim como por parte do educando. E, como os processos emocionais podem ser
serenos, mas também podem ocorrer de modo intempestivo, o avaliador da
aprendizagem necessita estar permanentemente atento aos seus movimentos
emocionais, como também dos seus educandos, à medida que facilmente eles
intervêm na prática avaliativa da aprendizagem, lugar onde tradicionalmente se
faz presente posições exacerbadas de autoridade.
03. Metodologicamente,
importa, em primeiro lugar, apropriar-se epistemologicamente (conceitualmente)
do que significa avaliação, com suas possibilidades e limites, o que
implica em compreender o ato de avaliar como um ato de investigar a
qualidade de alguma coisa, no caso, a qualidade da aprendizagem dos
educandos na prática pedagógica escolar. Avaliar não tem a ver com examinar,
que é recurso seletivo necessário nos concursos, onde o candidato está em busca
de uma vaga; avaliar a aprendizagem tem a ver com ato de aprender, seja ele em
sala de aula ou não; no caso da sla de aula, o estudante já tem a vaga, não
está concorrendo a uma vaga, só necessita aprender e… bem.
04. Nesse contexto, importa compreender que não existe “avaliação
tradicional”. Existe, de um lado, exames escolares, sistematizados
no século XVI e vigentes até o presente momento, que operam
classificatoriamente, aprovando ou reprovando estudantes; e, de outro, avaliação
da aprendizagem, cuja compreensão e formulação se dá a partir da primeira
metade do século XX; que, infelizmente, ainda, não conseguiu fazer vigência
efetiva no sistema educacional como um todo, seja no Brasil ou fora dele;
05. Há, pois, que se compreender a avaliação como investigação da
qualidade da realidade, o que exige, como sua base “material”, uma
descritiva da realidade sobre a qual se dá o processo avaliativo, o que, por
sua vez, no caso da aprendizagem, exige instrumentos de coleta de dados sobre o
desempenho do educando. Os instrumentos de coleta de dados, no caso, não são
tradicionais nem contemporâneos, nem novos, nem velhos; simplesmente devem ser
os necessários, ou seja, aqueles que são capazes de captar a realidade em
investigação avaliativa. Se são necessários testes para convidar o educando a
manifestar sua aprendizagem, utilizam-se testes, evidentemente elaborados
segundo o rigor da metodologia científica; mas, se se deseja que o educando
manifeste que aprendeu a redigir textos, em língua nacional ou estrangeira, a
única forma de detectar suas habilidades aprendidas será uma redação, também
orientada com rigor metodológico; ou, se se deseja saber se o educando aprendeu
a nadar no “modelo crawl”, só se poderá conhecer o seu desempenho, se ele
realiza-lo, seja numa piscina ou em outro ambiente que permita observar
descritivamente essa performance.
06. Os instrumentos de coleta de dados, para serem adequados, necessitam,
metodologicamente, estar a serviço do Projeto Pedagógico da Escola, que, por
sua vez, se traduz em currículo escolar e, subsequentemente, em plano de
ensino. Como o ato de avaliar é subsidiário do projeto de ação, os instrumentos
de coleta de dados também o são. Se não ocorrer dessa forma, coletarão dados
inadequados, trazendo enganos para o educador, para o educando e sua família,
para o sistema de ensino, para a sociedade em geral. Instrumentos de coleta de
dados, elaborados de modo insatisfatório, não podem subsidiar a revelação da
qualidade da realidade, conduzindo ao engano.
07. Em síntese, somente com (a) um estado emocional sereno e (b) com o uso
de um significativo e adequado do conceito de avaliação, assim como com o uso
de instrumentos satisfatórios de coleta de dados, poder-se-á praticar
efetivamente a avaliação da aprendizagem, seja no presente ou no futuro.
Somente com tais características, a avaliação será a aliada do educador
individual e do sistema de ensino na perspectiva do sucesso.
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