Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 08 de maio de 2014
Cipriano Luckesi
Ótica classificatória e ótica diagnóstica.
O leitor poderá e deverá acessar o excelente artigo escrito por Sandra
Maria Zákia Lian Souza, professora da Faculdade de Educação da USP, “Avaliação
da aprendizagem na legislação nacional: dos anos 1930 aos dias atuais”. Está
acessível em http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1536/1536.pdf.
Nesse texto, a professora nos revela a história das proposições —
contidas nos textos da legislação nacional relativos à educação formal — sobre
o acompanhamento da aprendizagem dos estudantes. Sem sombras de dúvidas deve
ser lido. Excelente e cuidadosa abordagem.
A leitura do texto nos revela como o legislador educacional e, em
consequência, como o educador escolar — professor, gestor escolar, autoridades
educativas… —, genericamente falando, no tempo passado e no tempo presente,
compreendem o acompanhamento da aprendizagem do educando sob a ótica
exclusivamente classificatória.
Na trajetória histórica relatada, é possível identificar que, ao longo
do período estudado, ainda que se tenha modificado os termos em uso e se tenha
introduzido o conceito de “aproveitamento cumulativo ao longo do ano letivo”,
supostamente diverso de “aproveitamento exclusivamente pontual” — no qual se
leva em consideração com exclusividade o resultado do momento pontual das
provas —, a compreensão conceitual permanece a mesma, desde que, ao invés de
um único “momento pontual”, ter-se-á em consideração “uma média” de
múltiplos momentos pontuais. Ou seja, mantém-se a compreensão classificatória
dos exames escolares, que, conceitual e praticamente, é diversa da compreensão
de avaliação.
O conceito de avaliação, tendo presente uma precisão terminológica,
implica num olhar bem diferente sobre o significado classificatório dos exames
escolares. Avaliação significa diagnóstico, prática diversa do conceito de
classificação.
Na classificação, define-se uma posição fixa numa escala, previamente
estabelecida, por exemplo, numa escala de 0 (zero) a 10 (dez) ou outra
semelhante. No diagnóstico, contudo, configura-se a situação na qual a
qualidade identificada de alguma coisa serve de base para o novo investimento
no objeto da ação e sua consequente melhoria.
Tomo o exemplo do diagnóstico médico — mas, poderia ser um exemplo em
qualquer outra profissão. Imaginemos um médico que, ao invés de diagnosticar o
estado de saúde de seu cliente, classifique-o numa escala de graus de saúde.
Com essa conduta, não teria como servir de mediador nos encaminhamentos para a
melhoria da saúde de seu cliente. De forma semelhante, tome-se um engenheiro,
um arquiteto ou um administrador — ou qualquer outro profissional — que, ao
invés de diagnosticar a situação do seu objeto de ação, o classifique. O mesmo
pode ocorre no cotidiano de cada uma de nós. Ao contrário, permanentemente,
estamos diagnosticando tudo o que ocorre em nossa vida e ao seu redor, tendo em
vista obter o melhor resultado.
Então, no caso da aprendizagem escolar, temos duas óticas: uma dos
exames, que é classificatória, e a da avaliação, que é diagnóstica.
Essas duas óticas não podem ser confundidas sob pena de suprimirmos toda
força que pode ter o ato avaliativo. O ato de examinar a aprendizagem na escola
serve a uma intenção — classificatória, probatória e, por isso mesmo, estática
— completamente diferente da intenção à qual serve a avaliação — diagnóstica,
base de novas decisões construtivas, dinâmica.
A ótica classificatória está voltada para trás, para o passado, somente
para o que já se fez e se conquistou. A avaliação, com base no passado, está
voltada para o futuro; sob sua ótica, o que se conquistou serve de base para
novas, melhores e mais significativas conquistas, em termos de qualidade dos
resultados a serem obtidos.
A ótica diagnóstica, no que se refere à educação escolar, nos coloca na
perspectiva da busca da qualidade plena da aprendizagem dos nossos educandos.
Ela não nos permite contentarmos com o que temos, mas nos convida a investir
sempre…, sempre no melhor. A ótica classificatória não olha para o futuro e
para as possibilidades, por isso não exige nem nos convida, como também não nos
subsidia bases para prosseguir em busca dos nossos desejos, com a melhor
qualidade possível.
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