Cipriano Luckesi
Pergunta: Atualmente,
percebemos nas políticas educacionais nos níveis federal, estadual e municipal,
um lugar privilegiado para as avaliações externas. Como você vê esse quadro?
A denominada avaliação de larga escala é fundamental para
que o sistema de ensino assuma que também fracassa ou que tem sucesso. Até os
anos 1980, sempre se afirmou que as deficiências nas aprendizagens dependiam
exclusivamente dos educandos. Afinal, os únicos responsáveis pelo fracasso
escolar eram os educandos individualmente.
Com a implantação da avaliação de larga escala no Sistema
Nacional de Ensino, no primeiro governo do Professor Fernando Henrique Cardoso,
passamos, no Brasil, a dizer: “O sistema escolar do país também fracassa. Não
só o educando”.
Esse movimento já tinha alguns antecedentes no país
relativos ao ensino superior, tal como o PAIUB --- Programa de Avaliação
Institucional da Universidade Brasileira e outros. Esse movimento não ocorreu só
no Brasil, mas também em outros países. Felizmente, iniciamos a reconhecer que
o sistema como um todo necessita de uma boa regulada em todas as suas
dimensões.
Creio que ainda não nos servimos suficientemente bem dos
resultados dessas práticas avaliativas, tendo em vista decisões fundamentais
para a melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem no país. Também --- e
infelizmente ---, ao invés de se usar os resultados desses processos
avaliativos para tomadas de decisões a favor de investimentos para melhor
qualidade do ensino, por vezes, tem sido utilizados para premiar ou castigar
instituições ou pessoas. Porém, essas práticas não têm a ver com a avaliação em
si, mas sim com as decisões políticas que são tomadas a partir das suas
revelações.
Pergunta: Seria possível alguma articulação entre as avaliações
externas e as internas, aquelas desencadeadas pelos professores?
O professor atua em sala de aula, que, por si, faz parte do
sistema de ensino. Ele é o elo imediato entre todas as instâncias do sistema de
ensino, do qual faz parte, e o educando, destinatário das decisões e ações do
sistema. Então, a sala de aula já é sistema.
Todo professor, minimamente, deveria fazer uma curva de
aproveitamento dos estudantes que compõem a sua turma, tendo em vista obter
informações sobre a qualidade de seu desempenho profissional pessoal. Da turma
com a qual trabalha, quantos estudantes efetivamente aprendem o que ensina?
Se um professor tem 40 estudantes numa determinada turma,
será que todos aprenderam satisfatoriamente aquilo que ele ensinou? Quantos,
efetivamente, aprenderam satisfatoriamente?
Para saber isso, basta fazer a mais simples de todas as
curvas estatísticas de aproveitamento. Estabelecer uma escala descendente do
aproveitamento revelado pelos educandos: quantos obtiveram 10,0; quantos
obtiveram 9,0, ..., quantos obtiveram 2,0, quantos obtiveram 1,0, quantos
obtiveram 0,0. Se, dos 40 estudantes, somente cinco obtiveram 8,0. 9,0 e 10,0,
há alguma cosia errada, pois que, por esses dados, a maioria dos educandos não
aprendeu o necessário. Mas, se ao contrário, somente três estudantes, do total
de quarenta, tem conceitos abaixo de 5,0, pode-se dizer que houve um bom ensino
e uma boa aprendizagem; com a condição de que, efetivamente, essas anotações a
respeito da qualidade da aprendizagem não sejam gratuitas, mas sim decorrentes
de uma aprendizagem verdadeira dos educandos. Nesse quadro, os três estudantes
carentes merecem acompanhamento para que também cheguem à aprendizagem
satisfatória.
Por outro lado, secretários de educação, diretores de
escola e educadores deveriam levar a sério a leitura dos dados obtidos pelas
avaliações de larga escala, pois que eles revelam muito da eficiência dos
estados, municípios e escolas no que se refere à qualidade dos resultados das escolas
que administram.
Uma instituição será tanto melhor quanto melhor for o seu
líder, isto é, quanto mais "brilhar o seu olho pelo prazer do que faz, mais convida todos os seus liderados a expressarem a mesma qualidade", e seguirem-no no investimento na atividade da qual é líder.
Todavia, ocorre que, usualmente, ao invés dos profissionais de educação
tomarem os dados para aquilatar suas instituições e suas práticas, preferem
desqualificar a prática avaliativa existente. Se um líder deseja que seus pares invistam na atividade que lidera não pode descuidar dos resultados das diversas modalidades de avaliação.
As práticas avaliativa precisam melhorar, creio que
sim; porém, elas já nos oferece dados suficientes para um diagnóstico e para subsidiar decisões de investir mais e mais na qualidade da educação e utilizar. Os resultados dos processos avaliativos compõem um espelho do que tem ocorrido em nossos sistemas de
ensino; e, espelho revela a imagem. Resistir às revelações da avaliação não nos ajuda em nada a
fazer movimentos de mudança. O que nos subsidia é olhar para a realidade e
dizer: “Isso vai mudar --- vai ser diferente ---, porque vou investir”.
No que se refere à relação entre avaliação da aprendizagem
e avaliação de larga escala, vale a pena compreender que o que revela a
qualidade de um sistema de ensino é o resultado da aprendizagem dos
educandos atendidos pelo sistema, via suas diversas instâncias. O objetivo do sistema de ensino
é ensinar e o resultado deve ser a aprendizagem dos educandos atendidos. A diferença estará no uso dos resultados da avaliação.
O professor servir-se-á dos resultados da avaliação da aprendizagem
do educando para reorientá-los individualmente até que aprendam
o que necessitam aprender.
O gestor de uma escola, de uma secretaria municipal de ensino ou de uma
secretaria estadual de ensino, ou o ministério da educação, necessitam tomar os
dados da aprendizagem de todos os estudantes de qualquer uma
dessas instâncias para gerar modos de torná-las mais eficientes,
garantindo condições para que os educadores ensinem bem e que os estudantes
aprendam bem.
O educador em sala de aula trabalha com o educando individual, os
gestores das instituições educativas devem trabalhar com os sistemas de ensino
que dirigem. O beneficiário final, seja da avaliação da aprendizagem, seja
da avaliação do sistema, sempre será o educando e a sociedade à
qual ele pertence, pois que tanto a avaliação da aprendizagem quanto a avaliação de larga escala tem sua sustentação nos resultados da aprendizagem dos educandos.
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Perfeito Luckesi! não se pode desqualificar a avaliação de larga escala, ela deve ser considerado como instrumento de medir o aprendizado, e o resultado servir de parâmetro para buscar caminhos de corrigir ou melhorar a educação.
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