quarta-feira, 22 de outubro de 2014

74 - Sobre Avaliação da aprendizagem e avaliação de larga escala



Cipriano Luckesi



Pergunta: Atualmente, percebemos nas políticas educacionais nos níveis federal, estadual e municipal, um lugar privilegiado para as avaliações externas. Como você vê esse quadro?


A denominada avaliação de larga escala é fundamental para que o sistema de ensino assuma que também fracassa ou que tem sucesso. Até os anos 1980, sempre se afirmou que as deficiências nas aprendizagens dependiam exclusivamente dos educandos. Afinal, os únicos responsáveis pelo fracasso escolar eram os educandos individualmente.

Com a implantação da avaliação de larga escala no Sistema Nacional de Ensino, no primeiro governo do Professor Fernando Henrique Cardoso, passamos, no Brasil, a dizer: “O sistema escolar do país também fracassa. Não só o educando”.

Esse movimento já tinha alguns antecedentes no país relativos ao ensino superior, tal como o PAIUB --- Programa de Avaliação Institucional da Universidade Brasileira e outros. Esse movimento não ocorreu só no Brasil, mas também em outros países. Felizmente, iniciamos a reconhecer que o sistema como um todo necessita de uma boa regulada em todas as suas dimensões.

Creio que ainda não nos servimos suficientemente bem dos resultados dessas práticas avaliativas, tendo em vista decisões fundamentais para a melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem no país. Também --- e infelizmente ---, ao invés de se usar os resultados desses processos avaliativos para tomadas de decisões a favor de investimentos para melhor qualidade do ensino, por vezes, tem sido utilizados para premiar ou castigar instituições ou pessoas. Porém, essas práticas não têm a ver com a avaliação em si, mas sim com as decisões políticas que são tomadas a partir das suas revelações.



Pergunta: Seria possível alguma articulação entre as avaliações externas e as internas, aquelas desencadeadas pelos professores?


O professor atua em sala de aula, que, por si, faz parte do sistema de ensino. Ele é o elo imediato entre todas as instâncias do sistema de ensino, do qual faz parte, e o educando, destinatário das decisões e ações do sistema. Então, a sala de aula já é sistema.

Todo professor, minimamente, deveria fazer uma curva de aproveitamento dos estudantes que compõem a sua turma, tendo em vista obter informações sobre a qualidade de seu desempenho profissional pessoal. Da turma com a qual trabalha, quantos estudantes efetivamente aprendem o que ensina?

Se um professor tem 40 estudantes numa determinada turma, será que todos aprenderam satisfatoriamente aquilo que ele ensinou? Quantos, efetivamente, aprenderam satisfatoriamente?

Para saber isso, basta fazer a mais simples de todas as curvas estatísticas de aproveitamento. Estabelecer uma escala descendente do aproveitamento revelado pelos educandos: quantos obtiveram 10,0; quantos obtiveram 9,0, ..., quantos obtiveram 2,0, quantos obtiveram 1,0, quantos obtiveram 0,0. Se, dos 40 estudantes, somente cinco obtiveram 8,0. 9,0 e 10,0, há alguma cosia errada, pois que, por esses dados, a maioria dos educandos não aprendeu o necessário. Mas, se ao contrário, somente três estudantes, do total de quarenta, tem conceitos abaixo de 5,0, pode-se dizer que houve um bom ensino e uma boa aprendizagem; com a condição de que, efetivamente, essas anotações a respeito da qualidade da aprendizagem não sejam gratuitas, mas sim decorrentes de uma aprendizagem verdadeira dos educandos. Nesse quadro, os três estudantes carentes merecem acompanhamento para que também cheguem à aprendizagem satisfatória.

Por outro lado, secretários de educação, diretores de escola e educadores deveriam levar a sério a leitura dos dados obtidos pelas avaliações de larga escala, pois que eles revelam muito da eficiência dos estados, municípios e escolas no que se refere à qualidade dos resultados das escolas que administram.

Uma instituição será tanto melhor quanto melhor for o seu líder, isto é, quanto mais "brilhar o seu olho pelo prazer do que faz, mais convida todos os seus liderados a expressarem a mesma qualidade", e seguirem-no no investimento na atividade da qual é líder. 


Todavia, ocorre que, usualmente, ao invés dos profissionais de educação tomarem os dados para aquilatar suas instituições e suas práticas, preferem desqualificar a prática avaliativa existente. Se um líder deseja que seus pares invistam na atividade que lidera não pode descuidar dos resultados das diversas modalidades de avaliação.



As práticas avaliativa precisam melhorar, creio que sim; porém, elas já nos oferece dados suficientes para um diagnóstico e para subsidiar decisões de investir mais e mais na qualidade da educação e utilizar. Os resultados dos processos avaliativos compõem um espelho do que tem ocorrido em nossos sistemas de ensino; e, espelho revela a imagem.  Resistir às revelações da avaliação não nos ajuda em nada a fazer movimentos de mudança. O que nos subsidia é olhar para a realidade e dizer: “Isso vai mudar --- vai ser diferente ---, porque vou investir”.

No que se refere à relação entre avaliação da aprendizagem e avaliação de larga escala, vale a pena compreender que o que revela a qualidade de um sistema de ensino é o resultado da aprendizagem dos educandos atendidos pelo sistema, via suas diversas instâncias. O objetivo do sistema de ensino é ensinar e o resultado deve ser a aprendizagem dos educandos atendidos. A diferença estará no uso dos resultados da avaliação.



O professor servir-se-á dos resultados da avaliação da aprendizagem do educando para reorientá-los individualmente até que aprendam o que necessitam aprender.

O gestor de uma escola, de uma secretaria municipal de ensino ou de uma secretaria estadual de ensino, ou o ministério da educação, necessitam tomar os dados da aprendizagem de todos os estudantes de qualquer uma dessas instâncias para gerar modos de torná-las mais eficientes, garantindo condições para que os educadores ensinem bem e que os estudantes aprendam bem.


O educador em sala de aula trabalha com o educando individual, os gestores das instituições educativas devem trabalhar com os sistemas de ensino que dirigem. O beneficiário final, seja da avaliação da aprendizagem, seja da avaliação do sistema, sempre será o educando e a sociedade à qual ele pertence, pois que tanto a avaliação da aprendizagem quanto a avaliação de larga escala tem sua sustentação nos resultados da aprendizagem dos educandos.






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Um comentário:

  1. Perfeito Luckesi! não se pode desqualificar a avaliação de larga escala, ela deve ser considerado como instrumento de medir o aprendizado, e o resultado servir de parâmetro para buscar caminhos de corrigir ou melhorar a educação.

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