Texto anteriormente publicado em o Terra Blog, em 2/4/2008.
Cipriano Luckesi
Temos insistido na diferenciação entre
as práticas escolares de examinar e avaliar. No último texto deste blog, expus
minha compreensão sobre o ponto onde os atos de examinar e avaliar se
encontram. Hoje, desejo aprofundar um pouco mais por onde eles se diferenciam.
No último texto, de alguma forma, já está exposta essa questão, porém, vou
aprofundá-la um pouco mais.
O objetivo desses dois textos é marcar
com tintas mais carregadas o clareamento sobre essa distinção, com o exclusivo
desejo de convidar os educadores a terem clareza sobre esses dois atos e
decidirem com o qual desejam trabalhar. Distinguir esses atos ajuda a assumir
uma posição sobre eles.
Então, onde os atos de examinar e de
avaliar na escola se diferenciam? Além daquilo que já vimos expondo ao longo
dos anos de nossos estudos nessa área e das considerações que fiz no texto
anterior deste blog, vale a pena observar que os atos de examinar e avaliar se
distinguem na perspectiva de abordagem de ambos. Se eles se encontram na
necessidade da descritiva da realidade a ser examinada ou avaliada, eles se
separam no modo de operar com essa realidade. A realidade descrita pode ser a
mesma (o desempenho do educando), porém a sua leitura é feita de forma
diferente pelo examinador e pelo avaliador. O examinador faz uma leitura
classificatória e o avaliador faz uma leitura diagnóstica dos dados coletados.
Isso faz uma diferença muito grande
entre os dois atos. A leitura classificatória se encerra na classificação e
manifesta-se estática. Não há mais nada a ser feito, pois que seu espaço de
ação se conclui aí; ao passo que o ato de avaliar só fará sentido se der curso
a sua dinâmica, que inclui qualificar os dados da realidade em construção e sua
reorientação, caso seja necessária frente à busca de resultados mais
satisfatórios que os já obtidos. O exame escolar visa a classificação; a
avaliação visa a construção dos resultados mais satisfatórios no nível da
necessidade estabelecida. Não será um nível indefinido satisfatoriedade (=
qualquer resultado está bem), porém sim a satisfatoriedade necessária,
estabelecida nos critérios previamente definidos, como o mínimo aceitável (= o
resultado só será aceito se apresentar x características). Caso a perfeição do
resultado vá para além do mínimo aceitável, está bem. Pode-se chegar até mesmo
á preciosidade, que, na aprendizagem, se expressa pelo brilhantismo; contudo, o
mínimo é necessário deve ser atingido, no caso, por todos os estudantes com os
quais trabalhamos.
Onde mesmo os atos de examinar e de
avaliar na escola não se encontram? Um é estático, o outro dinâmico; um é
classificatório, o outro construtivo; um é passivo, o outro ativo;um se entrega
ao que já aconteceu, o outro investe na sua transformação para mais
satisfatoriedade.
Na escola, parece que faz mais sentido
o ato de avaliar, pois que os educandos vêm para ela para aprender e o ato de
aprender exige um processo, ele não se dá de uma vez só. Em função disso, a
classificação (exames) não ajuda a aprender, mas a avaliação (diagnóstico) sim.
Os atos de examinar e de avaliar não se
encontram em função de suas perspectivas serem diferenciadas. Os exames escolares
estão voltados para o passado, para aquilo que o estudante já fez e, a partir
do que é classificado; diversamente, a avaliação está voltada para o futuro;
para tanto, ela diagnostica, no presente, o que já foi atingido e o que falta
ainda para se chegar ao nível de satisfatoriedade mínimo necessário. Com o que
subsidia a sua construção, se este for o desejo do educador.
Cipriano Luckesi
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