sexta-feira, 17 de outubro de 2014

64 - Exames e avaliação: onde eles não se encontram


Texto anteriormente publicado em o Terra Blog, em 2/4/2008.
Cipriano Luckesi



Temos insistido na diferenciação entre as práticas escolares de examinar e avaliar. No último texto deste blog, expus minha compreensão sobre o ponto onde os atos de examinar e avaliar se encontram. Hoje, desejo aprofundar um pouco mais por onde eles se diferenciam. No último texto, de alguma forma, já está exposta essa questão, porém, vou aprofundá-la um pouco mais.

O objetivo desses dois textos é marcar com tintas mais carregadas o clareamento sobre essa distinção, com o exclusivo desejo de convidar os educadores a terem clareza sobre esses dois atos e decidirem com o qual desejam trabalhar. Distinguir esses atos ajuda a assumir uma posição sobre eles.

Então, onde os atos de examinar e de avaliar na escola se diferenciam? Além daquilo que já vimos expondo ao longo dos anos de nossos estudos nessa área e das considerações que fiz no texto anterior deste blog, vale a pena observar que os atos de examinar e avaliar se distinguem na perspectiva de abordagem de ambos. Se eles se encontram na necessidade da descritiva da realidade a ser examinada ou avaliada, eles se separam no modo de operar com essa realidade. A realidade descrita pode ser a mesma (o desempenho do educando), porém a sua leitura é feita de forma diferente pelo examinador e pelo avaliador. O examinador faz uma leitura classificatória e o avaliador faz uma leitura diagnóstica dos dados coletados.

Isso faz uma diferença muito grande entre os dois atos. A leitura classificatória se encerra na classificação e manifesta-se estática. Não há mais nada a ser feito, pois que seu espaço de ação se conclui aí; ao passo que o ato de avaliar só fará sentido se der curso a sua dinâmica, que inclui qualificar os dados da realidade em construção e sua reorientação, caso seja necessária frente à busca de resultados mais satisfatórios que os já obtidos. O exame escolar visa a classificação; a avaliação visa a construção dos resultados mais satisfatórios no nível da necessidade estabelecida. Não será um nível indefinido satisfatoriedade (= qualquer resultado está bem), porém sim a satisfatoriedade necessária, estabelecida nos critérios previamente definidos, como o mínimo aceitável (= o resultado só será aceito se apresentar x características). Caso a perfeição do resultado vá para além do mínimo aceitável, está bem. Pode-se chegar até mesmo á preciosidade, que, na aprendizagem, se expressa pelo brilhantismo; contudo, o mínimo é necessário deve ser atingido, no caso, por todos os estudantes com os quais trabalhamos.

Onde mesmo os atos de examinar e de avaliar na escola não se encontram? Um é estático, o outro dinâmico; um é classificatório, o outro construtivo; um é passivo, o outro ativo;um se entrega ao que já aconteceu, o outro investe na sua transformação para mais satisfatoriedade.

Na escola, parece que faz mais sentido o ato de avaliar, pois que os educandos vêm para ela para aprender e o ato de aprender exige um processo, ele não se dá de uma vez só. Em função disso, a classificação (exames) não ajuda a aprender, mas a avaliação (diagnóstico) sim.

Os atos de examinar e de avaliar não se encontram em função de suas perspectivas serem diferenciadas. Os exames escolares estão voltados para o passado, para aquilo que o estudante já fez e, a partir do que é classificado; diversamente, a avaliação está voltada para o futuro; para tanto, ela diagnostica, no presente, o que já foi atingido e o que falta ainda para se chegar ao nível de satisfatoriedade mínimo necessário. Com o que subsidia a sua construção, se este for o desejo do educador.

Cipriano Luckesi





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