quinta-feira, 2 de outubro de 2014

36 - Pratica avaliativa igual para todos os educandos?

Texto publicado anteriormente no Terra blog em 12/3/2013
Cipriano Luckesi
Salvador, 12 de março de 2013


Recebi a pergunta: "quando praticamos a avaliação da aprendizagem numa turma de educandos, ela deve ser igual para todos ou deverá ter nuanças para atender diferentemente estudantes diferentes?" 

O que norteia o exercício da avaliação é a matriz que serve de pano de fundo para o ensino-aprendizagem e, consequentemente, para a avaliação:

(1) o que foi planejado e ensinado;

(2) que qualidade se espera e se  deseja do desempenho dos educandos.
Essa matriz serve de base para o ensino, para a elaboração de instrumentos de coleta de dados para a avaliação, para a leitura dos dados obtidos; assim como para a reorientação, caso venha a ser necessária.

Há que se ter presente também o destinatário da prática avaliativa. Com isso, estou lembrando que, quando uma escola admite educandos portadores de alguma síndrome fisiológica (usualmente denominada de necessidade especial), há que se pensar no ensino próprio para eles, assim como a prática da avaliação adequada ao seu possível padrão de aprendizagem. A matriz do ensino será própria para esses educandos.

Quando os educandos estão na faixa denominada de "normalidade" (ou seja, não portam síndromes específicas), eles, no seu conjunto, chegarão à escola (ou turma de alunos) em situação de desigualdade em termos de desempenho no que se refere aos conteúdos a serem ensinados e aprendidos. Todavia, à medida que o ensino é praticado de modo eficiente, essas desigualdades tendem a desaparecer em função de que todos irão aprendendo os conteúdos trabalhados, de maneira bastante próxima uns dos outros. O conteúdo mínimo necessário deve ser aprendido por todos. Somente alguns serão brilhantes; irão para além do mínimo necessário. Lembrar que o “mínimo necessário” significa “tudo o que é essencial” em um determinado conteúdo, em termos de informação, habilidades e competências.

Nesse contexto, a matriz dos atos avaliativos ( também dos atos de ensinar) será a mesma para todos, assim como os instrumentos de coleta de dados e sua consequente leitura.
Desse modo, não teremos na sala de aula estudantes taxados de “coitados (= que não aprendem)”. Todos aprendem, se bem ensinados. Esse é o fator revolucionário (transformador) da prática pedagógica: os estudantes iniciam o ano letivo em desigualdade de conhecimentos, habilidades e competências, e concluem-no em condições de igualdade. O ensino-aprendizagem, se praticados eficientemente, os equaliza nas variáveis cognitivas e emocionais.

Desse modo, a opção é pela qualidade do ensino para todos e isso implica em não buscar “compensações”, mas sim investimento. Nos USA, teve vigência a denominada “pedagogia compensatória” que assume que não se deve buscar as condições para que todos aprendam o necessário; ao contrário, deve-se “compensar” aqueles que têm dificuldade de aprender, através de menores exigências de aprendizagem.

Ora, dificuldade de aprender se supera com ensino de qualidade. A “compensação” é socialmente negativa e excludente (a criança que apresenta dificuldades será compensada pela não exigência de dê um passo à frente). Uma pratica educativa consistente não praticará compensações, mas sim investimento na qualidade do ensino para todos. Por isso, é democratizante. O que implica que haverá um cuidado para que todos se igualem acima, num novo patamar de conduta, mais elaborado e sofisticado. Esse, a meu ver, deve ser nosso investimento s educadores, assim como do sistema de ensino.






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