Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em Salvador, 22 de julho de 2013.
Cipriano Luckesi
É interessante observar que as propostas fundantes da educação moderna
emergentes nos séculos XVI e XVII orientam os educadores para que ensinem até
que os educandos aprendam e estes que transitem de uma lição para outra ou de
uma classe para outra, quando efetivamente tiverem aprendido o necessário.
Essa orientação se encontra na Ratio Studiorum(Ordenamento
dos estudos, documento da Ordem dos padres jesuítas, publicado em 1599),
representando a educação católica; na Leges scholae bene ordinatae(Leis
para a boa ordenação da escola, de John Amós Comênio, 1653), representando
a educação protestante; e na Condutite a l’usage des écoles chretiennes (Guia
para uso nas escolas cristãs, escrita por João Batista de La Salle em 1706
e publicada em 1720), resistematizando a educação católica.
Para esses marcos fundadores da educação moderna, o que valia não eram
as notas ou médias de notas — como largamente utilizamos hoje —, mas sim a
“qualidade absoluta da aprendizagem”, ou seja, importava que o educando
efetivamente aprendesse o conteúdo que fora ensinado, assumindo que o que fora
ensinado era essencial para a aprendizagem do educando e, por isso, o educador
deveria investir e reinvestir até que os educandos tivessem aprendido o que
deveriam aprender.
Retomando essa compreensão, duas considerações são importantes:
01. Na escola, não basta “dar aulas”, importa efetivamente ensinar, o que
implica que efetivamente os educandos aprendam aquilo que for ensiando. Aulas
podem ser dadas, mas isso não garante que o educando aprenda. Importa “ensinar”
até que efetivamente o educando aprenda. Essa será a atitude que poderá
conduzir a escola à democratização do ensino: todos aprendem o necessário,
porque efetivamente “ensinado”.
02. Se o estudante chega ao “domínio do ensinado” (conhecimentos,
habilidades, capacidades e atitudes), o registro da “qualidade da aprendizagem”
obtida será simples. Poderá ser um relato das aprendizagens satisfatoriamente
obtidas ou, de forma mais simples, o uso de um símbolo convencionado que permita
registrar que o educando aprendeu o necessário. Afinal todos devem aprender (e
bem) o necessário.
Então, nós educadores, assim como o sistema de ensino, necessitamos de
produzir a aprendizagem satisfatória, como denominamos acima: “absoluta” =
aprendizagem do necessário. Nunca o “médio” ou próximo do médio, como permite o
uso das notas escolares, como temos visto nos artigos anteriores deste blog.
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