Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 17/6/09
Cipriano Luckesi
Recebi a seguinte
solicitação
Caro Luckesi,
Sendo aluno
universitário, vivenciando inúmeros problemas nos profissionais da educação na
minha universidade e após ter adquirido, lido e relido várias vezes suas
magníficas obras "Avaliação da aprendizagem escolar" e
"Avaliação da aprendizagem na escola", me surge a dúvida: COMO
UM PROFESSOR PODE CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DA MATURIDADE DOS ALUNOS
UNIVERSITÁRIOS?
Visto que a maioria
dos alunos agem como se estivessem no ensino fundamental e os professores como
profissionais da pré-escola. Eu, como futuro educador, qual seria minha
contribuição e atitudes para reverter essa trágica situação?
Mas uma vez, desde já
agradeço imensamente pelo carinho, respeito e atenção.
Abraço
Respondi
provisoriamente da seguinte forma:
Existem alguns
estudos recentes, no âmbito da psicologia, que estipulam a existência de uma
"inteligência emocional". Isso nasceu após Howard Gardner ter dito
que temos múltiplas inteligências. Não tenho clareza sobre o fato de existir,
ou não, múltiplas inteligências; talvez, eu prefira assumir que existe uma só
inteligência com múltiplas capacidades ou facetas, como propôs Jean Piaget.
Porém, em todo caso,
o que seria inteligência emocional? A meu ver, nada mais do que "agir
com maturidade". E, o que significa "agir com maturidade"?
A história
bio-psíquica-espitirual da humanidade nos fez seres em desenvolvimento, por
isso, passamos pelas fases embrionária, fetal (intra-uterina), recém-nascido,
infante, criança, pré-adolescente, adolescente, adulto, idoso.
Cada fase dessas se
caracteriza por um determinado nível ou estágio de desenvolvimento.
Contudo, ao atravessarmos essas fases, em nossas vidas pessoais, nos fixamos em
muitos aspectos de cada um delas, seja pelos padrões de conduta em nossas
famílias, seja pelos traumas que sofremos, seja pelas impregnações culturais
que recebemos no nosso meio. E essas fixações impedem-nos de vivermos segundo
as características e exigências de cada uma dessas fases da vida. Ou seja,
ficamos aprisionados em determinados aspectos das fases anteriores.
Assim sendo, temos
crianças agindo como infantes; temos adolescentes agindo como crianças ou
pré-adolescentes; temos adultos agindo como adolescentes ou como crianças, ou,
pior ainda, como infantes. Todos conhecemos adultos agindo infantilmente.
Muitas vezes, ou na maior parte das vezes, agem assim pela força do
inconsciente. Isso tudo quer dizer que não chegamos à maturidade e, por isso,
não sabemos utilizar a inteligência emocional, ou seja, agir com a maturidade
que nossa idade e nosso estágio de vida pede.
Então, como formar
nossos educandos para agir com inteligência emocional, ou seja, com a
maturidade correspondente ao seu estágio de desenvolvimento? Acredito que é
acolhendo como eles são e confrontando-os para que dêem um passo à frente,
tendo em vista aprender como agir de uma forma compatível com sua idade em
relação a si mesmo e em relação ao outro, ao meio ambiente. Freud foi pródigo
no estudo das imaturidades, que denominou de neuroses.
Recusar como cada
educando age e reage não serve para muita coisa. Atacá-los e desqualificá-los também
não. Importa, a meu ver, em primeiro lugar, acolher o seu modo de ser, mas
não para acomodar-se a ele, porém para, amorosamente, confrontá-los para
que dêem mais um passo em direção à maturidade, o que significa aprender
a administrar a própria vida, a serviço de si mesmo e dos outros.
David Boadella diz o
que o que cura uma pessoa e a "receptividade viva de outra pessoa",
ou seja, ser acolhido e confrontado amorosamente.
Para isso, é
importante que o educador esteja sempre olhando para si, tentando ver se ele
também não age sem a utilização da inteligência emocional. Se ele age
configurado por condutas adolescentes ou infantis, seus educandos também agirão
desse modo, pois que ele é o líder da sala de aula e será ele quem dará o tom
às atividades e à vida dentro desse espaço. Se o tom dele for infantil, os
estudantes também reagirão infantilmente. Se o tom dele for adolescente, os
seus estudantes também reagirão infantilmente.
Dentro dessa
perspectiva a educação escolar, desde a pré-escola até a pós-graduação, deveria
estar atenta, juntamente com a cognição, aos aspectos afetivo-emocionais e
éticos da formação do educando. Isso significa que todos os educadores, sejam
quais forem as disciplinas com as quais trabalhem, necessitam de estar atentos
a esse fator. Nós professores necessitamos de estar cuidando de nós mesmos, a
fim que nossa maturidade emocional nos guie em nossa relação com os educandos.
Relações interpessoais saudáveis são fundamentais para estudantes aprendam
isso. Eles aprendem a maturidade vendo e vivendo com adultos maduros, entre
eles, os professores.
Quando descambamos,
seja lá pelo motivo que for, para o "turbilhão emocional",
dificilmente conseguiremos orientar nossos educandos para a maturidade
emocional, eles não poderão aprender com cada um de nós a maturidade emocional,
caso não a manifestemos também em nosso cotidiano.
Por enquanto fico por
cá.
Atenciosamente
Cipriano Luckesi
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