sexta-feira, 17 de outubro de 2014

61 - Educação e maturidade emocional

Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 17/6/09
Cipriano Luckesi


Recebi a seguinte solicitação

Caro Luckesi,

Sendo aluno universitário, vivenciando inúmeros problemas nos profissionais da educação na minha universidade e após ter adquirido, lido e relido várias vezes suas magníficas obras "Avaliação da aprendizagem escolar" e "Avaliação da aprendizagem na escola", me surge a dúvida:  COMO UM PROFESSOR PODE CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DA MATURIDADE DOS ALUNOS UNIVERSITÁRIOS?

Visto que a maioria dos alunos agem como se estivessem no ensino fundamental e os professores como profissionais da pré-escola. Eu, como futuro educador, qual seria minha contribuição e atitudes para reverter essa trágica situação?

Mas uma vez, desde já agradeço imensamente pelo carinho, respeito e atenção.

Abraço


Respondi provisoriamente da seguinte forma:

Existem alguns estudos recentes, no âmbito da psicologia, que estipulam a existência de uma "inteligência emocional". Isso nasceu após Howard Gardner ter dito que temos múltiplas inteligências. Não tenho clareza sobre o fato de existir, ou não, múltiplas inteligências; talvez, eu prefira assumir que existe uma só inteligência com múltiplas capacidades ou facetas, como propôs Jean Piaget.

Porém, em todo caso, o que seria inteligência emocional? A meu ver, nada mais do que "agir com maturidade". E, o que significa "agir com maturidade"?

A história bio-psíquica-espitirual da humanidade nos fez seres em desenvolvimento, por isso, passamos pelas fases embrionária, fetal (intra-uterina), recém-nascido, infante, criança, pré-adolescente, adolescente, adulto, idoso.

Cada fase dessas se caracteriza por um determinado nível ou estágio de desenvolvimento. Contudo, ao atravessarmos essas fases, em nossas vidas pessoais, nos fixamos em muitos aspectos de cada um delas, seja pelos padrões de conduta em nossas famílias, seja pelos traumas que sofremos, seja pelas impregnações culturais que recebemos no nosso meio. E essas fixações impedem-nos de vivermos segundo as características e exigências de cada uma dessas fases da vida. Ou seja, ficamos aprisionados em determinados aspectos das fases anteriores.

Assim sendo, temos crianças agindo como infantes; temos adolescentes agindo como crianças ou pré-adolescentes; temos adultos agindo como adolescentes ou como crianças, ou, pior ainda, como infantes. Todos conhecemos adultos agindo infantilmente. Muitas vezes, ou na maior parte das vezes, agem assim pela força do inconsciente. Isso tudo quer dizer que não chegamos à maturidade e, por isso, não sabemos utilizar a inteligência emocional, ou seja, agir com a maturidade que nossa idade e nosso estágio de vida pede.

Então, como formar nossos educandos para agir com inteligência emocional, ou seja, com a maturidade correspondente ao seu estágio de desenvolvimento? Acredito que é acolhendo como eles são e confrontando-os para que dêem um passo à frente, tendo em vista aprender como agir de uma forma compatível com sua idade em relação a si mesmo e em relação ao outro, ao meio ambiente. Freud foi pródigo no estudo das imaturidades, que denominou de neuroses.

Recusar como cada educando age e reage não serve para muita coisa. Atacá-los e desqualificá-los também não. Importa, a meu ver, em primeiro lugar, acolher o seu modo de ser, mas não para acomodar-se a ele, porém para, amorosamente, confrontá-los para que  dêem mais um passo em direção à maturidade, o que significa aprender a administrar a própria vida, a serviço de si mesmo e dos outros.

David Boadella diz o que o que cura uma pessoa e a "receptividade viva de outra pessoa", ou seja, ser acolhido e confrontado amorosamente.

Para isso, é importante que o educador esteja sempre olhando para si, tentando ver se ele também não age sem a utilização da inteligência emocional. Se ele age configurado por condutas adolescentes ou infantis, seus educandos também agirão desse modo, pois que ele é o líder da sala de aula e será ele quem dará o tom às atividades e à vida dentro desse espaço. Se o tom dele for infantil, os estudantes também reagirão infantilmente. Se o tom dele for adolescente, os seus estudantes também reagirão infantilmente.

Dentro dessa perspectiva a educação escolar, desde a pré-escola até a pós-graduação, deveria estar atenta, juntamente com a cognição, aos aspectos afetivo-emocionais e éticos da formação do educando. Isso significa que todos os educadores, sejam quais forem as disciplinas com as quais trabalhem, necessitam de estar atentos a esse fator. Nós professores necessitamos de estar cuidando de nós mesmos, a fim que nossa maturidade emocional nos guie em nossa relação com os educandos. Relações interpessoais saudáveis são fundamentais para estudantes aprendam isso. Eles aprendem a maturidade vendo e vivendo com adultos maduros, entre eles, os professores.

Quando descambamos, seja lá pelo motivo que for, para o "turbilhão emocional", dificilmente conseguiremos orientar nossos educandos para a maturidade emocional, eles não poderão aprender com cada um de nós a maturidade emocional, caso não a manifestemos também em nosso cotidiano.

Por enquanto fico por cá.

Atenciosamente
Cipriano Luckesi




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