Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 09 de maio de 2014
Cipriano Luckesi
O presente texto fecha um ciclo de tratamentos que fiz nas últimas
abordagens postadas neste blog.
No final dos anos 1960 e início dos nos 1970, chegava ao Brasil o
movimento pró avaliação da aprendizagem. Nos Estados Unidos, ele havia eclodido
no início da década de 1960, após largo investimento em educação por parte do
Governo Kenedy. Desejava-se eficiência, assim como desejava-se saber dos
efeitos produzidos pelo largo investimento financeiro em educação. Naquele
momento, o governo norte-americano verificava que a União Soviética, em sua
constituição, em 1917, reunia um conjunto de países com infinitas carências
educacionais e científicas, agora, quarenta anos depois, colocava no espaço o
primeiro satélite artificial, o SPUTINIK I. Era preciso entrar na era da
educação com qualidade. Havia uma disputa entre governos. Daí os altos
investimentos nos USA.
Então, nesse período foram elaborados muitos livros, tratando de
metodologias que tornassem eficiente a educação formal, tais como instrução
programada, mapeamento de textos, ensino individual, método Keller, estudo em
equipe, em grupos e outros mais. E, nesse contexto, investiu-se bastante em
avaliação, especialmente na produção de material escrito que pudesse orientar
os educadores nas práticas de coleta de dados para avaliação, desde que
sonhava-se com uma avaliação cientificamente conduzida.
Hoje, temos clareza que avaliação é uma investigação da
qualidade da realidade, cujo objetivo último é subsidiar o gestor para que tome
decisões tendo em vista a melhoria da realidade avaliada. Então,
sendo uma investigação deverá ter sua base numa descritiva da realidade;
para tanto, necessitará de instrumentos de coleta de dados, metodologicamente
elaborados. O que quer dizer: elaborados e utilizados segundo o rigor de
uma metodologia científica.
Os instrumentos de coleta de dados necessitam ser (01)sistemáticos (=
cobrir todas as facetas da realidade a ser avaliada; nenhuma aleatoriedade na
coleta de dados), (02) elaborados com uma linguagem compreensível (=
quem responde ao instrumento de coleta de dados deve compreender plenamente o
que se lhe está solicitando), (03), no caso do ensino, basear-se na compatibilidade
entre o ensinado e o aprendido (= as informações, habilidades,
capacidades e atitudes que deverão eliciar o educando a responder os desafios
deverão ser equivalentes as utilizadas no ensino; conteúdo, nível de
dificuldade, nível de complexidade, metodologia utilizada) e, por último, (04)
devem conter a característica da precisão (= educador e
educando compreendem de forma equivalente o que se está perguntando).
Vamos, a seguir, indicar uma bibliografia que trabalha com a coleta de
dados para a avaliação; usualmente indicam como construir testes, todavia, importa
compreender que as características, indicadas acima, de um teste minimamente
bem elaborado, servem para a elaboração de qualquer instrumento de coleta de
dados, seja ele qual for. São cuidados necessários na coleta de dados.
Em fins dos nos sessenta e inícios dos anos setenta, os autores que
trabalhavam com medidas educacionais estavam alertas para a necessidade de
construir instrumentos de coleta de dados que tivessem um rigor metodológico
científico. Quase que não se abordavam os aspectos filosóficos, sociológicos,
históricos e políticos da avaliação da aprendizagem. A atenção estava voltadas
para os instrumentos de coleta de dados.
Após termos investido bastante, no decurso dos anos 1970, 1980 e 1990,
na compreensão teórica, filosófica, sociológica e política, da avaliação da
aprendizagem, estamos tendo a necessidade de voltar-nos também para as questões
técnicas de coleta de dados, tendo em vista menos enganos nessa prática; por
isso, relembro alguns livros, caso os leitores estejam interessados em investir
nesse campo de conhecimento e de prática.
Também, caso o leitor esteja interessado em compreender a relação entre
Projeto Pedagógico, sua execução e a avaliação, ver meu livro Avaliação
da aprendizagem: componente do ato pedagógico, Cortez Editora, São, Paulo,
2011, onde, entre outros tratamento, cuido dos instrumentos de coleta de dados
para a avaliação.
Livros que tratam da construção de instrumentos de coleta de dados para
a avaliação, praticamente publicados no início dos anos 1970:
- James M BRADFIELD e H. Stewart MOREDOCK, Medidas e testes em
educação, volumes I e II, Editora Fundo de Cultura, Rio de Janeiro, 1964.
- Heraldo MARELIM VIANNA, Testes em Educação, IBRASA e
Fundação Carlos Chagas, São Paulo, 1973.
- Norman GROULUND, Testes de aproveitamento escolar, Editora
Pedagógica Universitária, EPU, São Paulo, 1973.
- Richard H. LINDEMAN, Medidas educacionais: testes objetivos e
outros instrumentos de medida para a avaliação da aprendizagem, Editora
Globo, Porto Alegre, 1972.
- ISOP/Fundação Getúlio Vargas, Testes e medidas na educação,
Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1970.
O leitor poderá encontrar outros títulos, mas esses estão nos primórdios
de nossas preocupações com avaliação da aprendizagem no Brasil (e, apresentam
qualidade satisfatória em suas orientações), momento em olhávamos mais para a
coleta de dados que para compreender a avaliação.
Hoje, creio eu, após compreendermos o que é o ato de avaliar, em suas
diversas facetas, estamos necessitando de voltar a ter cuidados com a coleta
dedados, pois que, caso os dados do desempenho do educando não sejam coletados
com adequação, estaremos nos enganando.
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