sábado, 4 de outubro de 2014

53 - Recursos técnicos de coleta de dados para avaliação da aprendizagem


Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 09 de maio de 2014
Cipriano Luckesi



O presente texto fecha um ciclo de tratamentos que fiz nas últimas abordagens postadas neste blog.

No final dos anos 1960 e início dos nos 1970, chegava ao Brasil o movimento pró avaliação da aprendizagem. Nos Estados Unidos, ele havia eclodido no início da década de 1960, após largo investimento em educação por parte do Governo Kenedy. Desejava-se eficiência, assim como desejava-se saber dos efeitos produzidos pelo largo investimento financeiro em educação. Naquele momento, o governo norte-americano verificava que a União Soviética, em sua constituição, em 1917, reunia um conjunto de países com infinitas carências educacionais e científicas, agora, quarenta anos depois, colocava no espaço o primeiro satélite artificial, o SPUTINIK I. Era preciso entrar na era da educação com qualidade. Havia uma disputa entre governos. Daí os altos investimentos nos USA.

Então, nesse período foram elaborados muitos livros, tratando de metodologias que tornassem eficiente a educação formal, tais como instrução programada, mapeamento de textos, ensino individual, método Keller, estudo em equipe, em grupos e outros mais. E, nesse contexto, investiu-se bastante em avaliação, especialmente na produção de material escrito que pudesse orientar os educadores nas práticas de coleta de dados para avaliação, desde que sonhava-se com uma avaliação cientificamente conduzida.

Hoje, temos clareza que avaliação é uma investigação da qualidade da realidade, cujo objetivo último é subsidiar o gestor para que tome decisões tendo em vista a melhoria da realidade avaliada.  Então, sendo uma investigação deverá ter sua base numa descritiva da realidade; para tanto, necessitará de instrumentos de coleta de dados, metodologicamente elaborados. O que quer dizer: elaborados e utilizados segundo o rigor de uma metodologia científica.

Os instrumentos de coleta de dados necessitam ser (01)sistemáticos (= cobrir todas as facetas da realidade a ser avaliada; nenhuma aleatoriedade na coleta de dados), (02) elaborados com uma linguagem compreensível (= quem responde ao instrumento de coleta de dados deve compreender plenamente o que se lhe está solicitando), (03), no caso do ensino, basear-se na compatibilidade entre o ensinado e o aprendido (= as informações, habilidades, capacidades e atitudes que deverão eliciar o educando a responder os desafios deverão ser equivalentes as utilizadas no ensino; conteúdo, nível de dificuldade, nível de complexidade, metodologia utilizada) e, por último, (04) devem conter a característica da precisão (= educador e educando compreendem de forma equivalente o que se está perguntando).

Vamos, a seguir, indicar uma bibliografia que trabalha com a coleta de dados para a avaliação; usualmente indicam como construir testes, todavia, importa compreender que as características, indicadas acima, de um teste minimamente bem elaborado, servem para a elaboração de qualquer instrumento de coleta de dados, seja ele qual for. São cuidados necessários na coleta de dados.
Em fins dos nos sessenta e inícios dos anos setenta, os autores que trabalhavam com medidas educacionais estavam alertas para a necessidade de construir instrumentos de coleta de dados que tivessem um rigor metodológico científico. Quase que não se abordavam os aspectos filosóficos, sociológicos, históricos e políticos da avaliação da aprendizagem. A atenção estava voltadas para os instrumentos de coleta de dados.

Após termos investido bastante, no decurso dos anos 1970, 1980 e 1990, na compreensão teórica, filosófica, sociológica e política, da avaliação da aprendizagem, estamos tendo a necessidade de voltar-nos também para as questões técnicas de coleta de dados, tendo em vista menos enganos nessa prática; por isso, relembro alguns livros, caso os leitores estejam interessados em investir nesse campo de conhecimento e de prática.

Também, caso o leitor esteja interessado em compreender a relação entre Projeto Pedagógico, sua execução e a avaliação, ver meu livro Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico, Cortez Editora, São, Paulo, 2011, onde, entre outros tratamento, cuido dos instrumentos de coleta de dados para a avaliação.

Livros que tratam da construção de instrumentos de coleta de dados para a avaliação, praticamente publicados no início dos anos 1970:

- James M BRADFIELD e H. Stewart MOREDOCK, Medidas e testes em educação, volumes I e II, Editora Fundo de Cultura, Rio de Janeiro, 1964.

- Heraldo MARELIM VIANNA, Testes em Educação, IBRASA e Fundação Carlos Chagas, São Paulo, 1973.

- Norman GROULUND, Testes de aproveitamento escolar, Editora Pedagógica Universitária, EPU, São Paulo, 1973.

- Richard H. LINDEMAN, Medidas educacionais: testes objetivos e outros instrumentos de medida para a avaliação da aprendizagem, Editora Globo, Porto Alegre, 1972.

- ISOP/Fundação Getúlio Vargas, Testes e medidas na educação, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1970.

O leitor poderá encontrar outros títulos, mas esses estão nos primórdios de nossas preocupações com avaliação da aprendizagem no Brasil (e, apresentam qualidade satisfatória em suas orientações), momento em olhávamos mais para a coleta de dados que para compreender a avaliação.


Hoje, creio eu, após compreendermos o que é o ato de avaliar, em suas diversas facetas, estamos necessitando de voltar a ter cuidados com a coleta dedados, pois que, caso os dados do desempenho do educando não sejam coletados com adequação, estaremos nos enganando.






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