Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 26 de maio de 2014
Cipriano Luckesi
Todos os nossos atos estão comprometidos com a ética. Nenhum deles foge a essa determinação. Porém, aqueles que tem a ver com o outro são os fundamentais.
A igreja católica incluiu também aqueles atos que tem a ver
exclusivamente com cada um de nós, chegando ao extremo de considerar “pecados
por pensamento”; certamente que alguns pensamentos são extremamente
pecaminosos, de modo especial quando estão maquinando a favor de si e contra os
outros.
O preceito “ama os outros como a ti mesmo”, deixa explícito que
devemos amar os outros com a mesma qualidade que nos amamos. A afirmação não
significa que devamos estar — egoisticamente, — em primeiro lugar, mas sim que
precisamos ter ciência da qualidade dos nossos atos tendo em vista pautar
nossas relações com os outros.
No caso, dessa afirmativa, a configuração da qualidade do cuidado com o
outro tem, como critério, a qualidade e o cuidado que desejamos para nós
mesmos. O “ama a ti mesmo” é a medida, o critério da qualidade, do amor a ser
dirigido para o outro.
Lawrence Kholberg, psicólogo norte-americano, traduziu essa compreensão
psicologicamente. Dentro de sua perspectiva, dificilmente chegaremos a praticar
condutas éticas minimamente adequadas, sem cuidado com a maturidade emocional.
Ele entende que existem três níveis de práticas éticas: (01) ainfantil [tudo
para mim; eu sou o centro do mundo e tudo e todos devem me servir]; (02) a
do adulto [adulto é aquele que faz pacos com os outros e
cumpre a sua parte; no pacto, uma parte é minha e outra parte pertence ao
outro; cumpro a minha inteiramente; isso inclui os pactos sociais, tais como
dirigir na mão direita; pagar as contas; cumprir a tarefas ajustadas com ou
outro...]; (03) a do serviço à vida (após cumprir a parte
pessoal no pacto, o adulto ainda está a serviço da vida; sua maturidade lhe
permite cumprir tudo o que tem que cumprir e ainda dispõe-se a estar a serviço
da vida que se manifesta na necessidade do outro].
Para se chegar à ética adulta e, mais ainda, à ética do serviço à vida,
importa cuidar de nossa maturidade emocional. Nós todos sofremos inúmeras experiências
traumáticas durante a vida; e, posteriormente, de modo inconsciente, replicamos
as mesmas condutas na relação com os outros. Tratei desse tema inúmeras vezes
nos artigos publicados no site www.curandocriancaferida.com.br, página “fale conosco /
artigos”. Caso o leitor esteja interessando nessa temática poderá acessar essa
fonte.
Então, para cuidarmos eticamente da prática avaliava na escola, que está
assentada na heteroavaliação (relação com o ouro), onde uma das partes
(professor, professora) exerce autoridade sobre a outra (estudante), importa
muita atenção e cuidado, para que, minimamente, consigamos chegar à ética do
adulto. O ideal seria que conseguíssemos chegar à maturidade psicológica e
ética do serviço à vida; então, veríamos o nosso estudante como aquele que
depende do nosso bom e significativo serviço para desenvolver-se e tornar-se um
cidadão digno. Nesse nível de ética, cada um de nós faria o melhor para que
nossos estudantes aprendam e se desenvolvam.
Dessa forma, eticamente, cumpriremos o “pacto do currículo” [ensinar ---
e bem --- o que devemos ensinar], o “pacto da relação pedagógica” [acolher,
nutrir, sustentar e orientar a aprendizagem do educando], o “pacto da
avaliação” [estar comprometido com o rigor metodológico na prática avaliativa],
isto é, com a investigação da qualidade da aprendizagem dos nossos educandos e,
se necessário, reorienta-los, até que aprendam, pois que a função fundamental
da escola é ensinar para que os educandos aprendam.
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