sábado, 4 de outubro de 2014

54 - Cuidados éticos na prática avaliativa.




Texto publicado anteriormente no Terra Blog, em 26 de maio de 2014
Cipriano Luckesi



Todos os nossos atos estão comprometidos com a ética. Nenhum deles foge a essa determinação. Porém, aqueles que tem a ver com o outro são os fundamentais.

A igreja católica incluiu também aqueles atos que tem a ver exclusivamente com cada um de nós, chegando ao extremo de considerar “pecados por pensamento”; certamente que alguns pensamentos são extremamente pecaminosos, de modo especial quando estão maquinando a favor de si e contra os outros.

O preceito “ama os outros como a ti mesmo”, deixa explícito que devemos amar os outros com a mesma qualidade que nos amamos. A afirmação não significa que devamos estar — egoisticamente, — em primeiro lugar, mas sim que precisamos ter ciência da qualidade dos nossos atos tendo em vista pautar nossas relações com os outros.

No caso, dessa afirmativa, a configuração da qualidade do cuidado com o outro tem, como critério, a qualidade e o cuidado que desejamos para nós mesmos. O “ama a ti mesmo” é a medida, o critério da qualidade, do amor a ser dirigido para o outro.

Lawrence Kholberg, psicólogo norte-americano, traduziu essa compreensão psicologicamente. Dentro de sua perspectiva, dificilmente chegaremos a praticar condutas éticas minimamente adequadas, sem cuidado com a maturidade emocional.

Ele entende que existem três níveis de práticas éticas: (01) ainfantil [tudo para mim; eu sou o centro do mundo e tudo e todos devem me servir]; (02) a do adulto [adulto é aquele que faz pacos com os outros e cumpre a sua parte; no pacto, uma parte é minha e outra parte pertence ao outro; cumpro a minha inteiramente; isso inclui os pactos sociais, tais como dirigir na mão direita; pagar as contas; cumprir a tarefas ajustadas com ou outro...]; (03) a do serviço à vida (após cumprir a parte pessoal no pacto, o adulto ainda está a serviço da vida; sua maturidade lhe permite cumprir tudo o que tem que cumprir e ainda dispõe-se a estar a serviço da vida que se manifesta na necessidade do outro].

Para se chegar à ética adulta e, mais ainda, à ética do serviço à vida, importa cuidar de nossa maturidade emocional. Nós todos sofremos inúmeras experiências traumáticas durante a vida; e, posteriormente, de modo inconsciente, replicamos as mesmas condutas na relação com os outros. Tratei desse tema inúmeras vezes nos artigos publicados no site www.curandocriancaferida.com.br, página “fale conosco / artigos”. Caso o leitor esteja interessando nessa temática poderá acessar essa fonte.

Então, para cuidarmos eticamente da prática avaliava na escola, que está assentada na heteroavaliação (relação com o ouro), onde uma das partes (professor, professora) exerce autoridade sobre a outra (estudante), importa muita atenção e cuidado, para que, minimamente, consigamos chegar à ética do adulto. O ideal seria que conseguíssemos chegar à maturidade psicológica e ética do serviço à vida; então, veríamos o nosso estudante como aquele que depende do nosso bom e significativo serviço para desenvolver-se e tornar-se um cidadão digno. Nesse nível de ética, cada um de nós faria o melhor para que nossos estudantes aprendam e se desenvolvam.

Dessa forma, eticamente, cumpriremos o “pacto do currículo” [ensinar --- e bem --- o que devemos ensinar], o “pacto da relação pedagógica” [acolher, nutrir, sustentar e orientar a aprendizagem do educando], o “pacto da avaliação” [estar comprometido com o rigor metodológico na prática avaliativa], isto é, com a investigação da qualidade da aprendizagem dos nossos educandos e, se necessário, reorienta-los, até que aprendam, pois que a função fundamental da escola é ensinar para que os educandos aprendam.






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